Planeta Educação

Planeta Literatura

Emilio Figueira Jornalista, psicólogo, pós-graduado em Educação Inclusiva e doutorado em Psicanálise. Autor de mais de quarenta artigos científicos nesta área e de vinte livros, dentre os quais destaca-se “Caminhando em Silêncio – Uma introdução à trajetória da pessoa com deficiência na história do Brasil”.

Andreotti e os livros que nunca serão escritos
Uma pequena homenagem aos gênios desconhecidos!

Acredito que um dos maiores baratos da minha vida é conhecer pessoas interessantes, com conteúdos que possam me fascinar. Dias atrás, a convite de uma pessoa muito especial na minha vida que conheci na internet, a Neide, larguei a monotonia da minha vidinha aqui no escritório entre computador e livros, peguei um avião rumo ao desconhecido e fui parar em Umuarama, no interior do Paraná. Realmente era uma aventura, pois estava indo em direção a pessoas e um lugar totalmente desconhecidos para mim. Mas meu coração me movia a isto. Ou melhor, Deus me enviava a encontro a pessoas realmente fascinantes...

Poderia traçar aqui um extenso relatório de viagem, mas vou me deter em falar numa “figurinha rara” que não se encontra facilmente nos álbuns da história humana. Seu nome, José Antonio Andreotti, pai de Neide. Um senhor de fortes traços italianos, 72 anos bem vividos, conhecido por Seu Zico, apelido que ele diz ter ganhado na infância, quando perdeu sua mãe muito jovem e foi criado pelas durezas da vida. Mas isso não vem ao caso. Vi que aquele menino que tinha tudo para crescer revoltado na vida e ter escolhido caminhos errados, deu a volta por cima e hoje pode se dizer que foi um vencedor na vida.

Mas o que me leva a escrever sobre seu Andreotti? Já nos primeiros momentos percebi que ele é dono de uma genialidade incrível. Ele chegou a se formar em Técnico Agrícola, porém isso há várias décadas e nunca mais voltou a estudar. Só que esse senhor é um profundo conhecedor da história humana. Assuntos de ufologia são os seus maiores fascínios. Fala de discos voadores, extraterrestres, sistemas solares, galáxias, contatos extramundos, de como os povos de outros planetas povoaram a terra e coisas assim com extrema profundidade e naturalidade, fundamentando com datas e detalhes impressionantes de sobre a existência de várias raças de seres alienígenas, relatos sobre ocorrência de abduções.

Esse senhor fala com muita intimidade de um grande amigo pessoal seu: Ashtar Sheran. Um homem que lidera 15 milhões de naves e seus bilhões de tripulantes em missão de paz na Terra, é um engenheiro. Projeta espaçonaves de avançadíssima tecnologia. Em sânscrito, um dos mais antigos idiomas da atual civilização terrena, seu nome significa “O Sol Que Mais Brilha”. Ele vem de Methària, planeta situado no sistema solar Alpha de Centauro e, sabiamenjte, dirige homens e mulheres vindos de vários pontos do universo na realização de tarefas que poucos de nós imaginamos ― da purificação dos oceanos à anulação de efeitos radioativos decorrentes de explosões atômicas.

Fiquei admirado com a história desse cara. E não é que ele realmente existe. Joga o nome dele no Google. Há até blog com mensagens dele enviadas a nós pobres terráqueos. E pelas fotos não é que o sujeito é bonitão, boa pinta!!! Deve arrazar muitos corações femininos pelas galáxias... Segundo Seu Andreotti, o Ashtar Sheran poderia até dar um grande apoio à minha carreira. Realmente, teve um momento que tive vontade de levantar a mão direita e pedir: “Leve-me até o seu amigo comandante!” Mas Seu Andreotti disse que esse encontro será um pouco difícil, pois Ashtar Sheran não curte muito andar aqui pelas bandas da capital paulista.

Você sabe o que é um polímata? São pessoas que têm domínio de várias áreas e conseguem com muita competência relacioná-las. Andreotti é um polímata! Ele mistura história, ufologia e teorias religiosas com tanta competência que chega a dar nós nas cabeças das muitas pessoas que passam todos os dias em sua residência para ouvir suas fascinantes narrativas. Tamanha é sua autenticidade no discurso eloquente, que realmente nos leva a perder a linha que divide o real e o imaginário. Em vários momentos, ele se levanta do sofá e passa a dramatizá-las. O nosso contador de histórias também é muito sensível, pois em vários momentos de suas narrativas se emociona!

Em certos momentos de nossa convivência, perguntei-me como eu poderia classificar esse homem: na Psicologia ou na Psicanálise? Lembrei-me do conceito do Inconsciente Coletivo que, criado pelo psiquiatra suíço Carl Gustav Jung, é a camada mais profunda da psique humana, constituída pelos materiais que foram herdados da humanidade. É nele que residem os traços funcionais, tais como imagens virtuais, que seriam comuns a todos os seres humanos. Assim as experiências antigas da humanidade contidas no Inconscientes Coletivos, manifesta-se por temas ou padrões recorrentes que Jung chamou de Arquétipos. Na constelação de nossos Arquétipos estão muitas das imagens de experiências universais, tantas quantos experiências humanas que são comum a todos. Repetidos na vida de várias gerações subsequentes, os Arquétipos são gravados na nossa psique (mente) e expressos nos nossos sonhos e fantasias.

E se eu tivesse que explicar o Seu Andreotti à luz da Psicanálise, diria que ele tem uma constelação de Arquétipos muito acima do normal, o que ele transforma em informações e conhecimentos muitas vezes realmente reais de nossos antepassados. Seu Andreotti sim valeria a pena de ser estudado com carinho e atenção. Se colocarmos esse homem à frente de uma plateia de alunos de história, teologia, psicologia e outras áreas afins, era capaz de ele dar um nó na cabeça de muitos. O velhinho é fera na oratória! Paga pra ver...

Seu Andreotti é casado com Dona Virgínia. Uma de suas histórias preferidas é contar que quando tinha 17 anos, morava com uma tia que, ao sair para um velório, pediu para ele jantar na casa da vizinha. Lá uma jovem de 19 anos lhe fritou um ovo que estava tão gostoso que ele decidiu: “Eu tenho que casar com essa moça!”. E, graças a esse ovo que projetava uma futura história de amor, já completaram 56 anos de casamento e nove filhos gerados (vale ressaltar aqui que eles são religiosos e nunca tiveram televisão! – certamente, ele não vai ficar bravo comigo por essa piada).

Uma antiga atividade do casal é fazer pão caseio. Dona Virgínia faz e ele sai entregando pela cidade a clientes já fixos. Mas, ao mesmo tempo que Seu Andreotti é um gênio natural, ele é um bonachão. Está sempre brincando, provocando a todo mundo com suas narrativas fantásticas. Percebi que ele acredita fielmente nas coisas que conta, mas também há momentos que ele se diverte ao perceber que está dando “nós” nas cabeças a sua volta. Mas também, quem manda nós meros mortais não termos a capacidade de acompanhar a sua genialidade?

Outra coisa que me fascinou em Seu Andreotti foi saber que o bom velhinho curte escrever no seu computador. Dessa mente tão fértil saem enredos de impressionante produção. E posso afirmar isto. Certa tarde, sentamos na sala e ele, pegando seus escritos, começou a ler trechos para mim. O meu primeiro prazer foi ouvir os textos lidos, entoados pela boca do próprio autor! Mas minha grande surpresa mesmo foi ver a construção de sua redação, os detalhes descritos, a linguagem e o foco narrativo. O português estava correto. Fiquei até com vergonha naquele momento em dizer que eu era um escritor. Tive a certeza que o mundo está perdendo muito em não conhecer Seu Andreotti que seria um excelente autor de ficção-científica, tipo de literatura cuidadosa e bem-informada, extrapolação sobre fatos e princípios científicos, abrangendo áreas profundamente rebuscadas que contrariam definitivamente fatos e princípios. Os textos desse senhor certamente causariam impactos!

As histórias de Seu Andreotti são verdadeiras? Ele é um grande artista satirizando a todos? Seu inconsciente coletivo realmente é privilegiado em constelação de arquétipos muito além do normal? Ele realmente conversa e recebe informações privilegiadas de seres elevados de outros planetas? Bem, são questões que não precisam ser respondidas. Aliás, procurá-las pode até estragar o fascínio que tem esse homem. O grande barato mesmo é saber viajar com ele na sua fértil imaginação e sem ter que pagar passagem por isto! Seu Andreotti é autor simbólico de muitos livros que não serão escritos para as estantes da humanidade. Como ele, quantas milhares de pessoas já passaram pelo nosso planeta, com muitas histórias fascinantes para contar e não foram escritas; morrem juntos com esses gênios que passaram despercebidos, deixando milhares de livros por serem redigidos.

Eu sim sou um premiado por ter convivido por uma semana na residência desse escritor sem livros. Mas não me contendo com pouco. Peço a Deus o direito de ter outras oportunidades de cruzar com Seu Antreotti na vida. E, quando esses momentos chegarem, quero humildemente me sentar à sua frente e dizer: “Mestre, voltei. Permita-me aprender mais um pouquinho com um homem que não precisou de uma carreira acadêmica para ser genial!”.

Avaliação deste Artigo: 4 estrelas