Planeta Educação

Universo Escolar

 

Leve sua criança cega para a cozinha, mamãe!
Tradução livre de Sonia B. Hoffmann

Preparar cereais e leite para o café da manhã. Preparar um sanduíche de manteiga de amendoim para um lanche depois da escola. Preparar uma xícara de chocolate-quente antes de dormir. São estas coisas que crianças com visão normal fazem por si? Claro que são. Sua criança cega pode fazer essas coisas para si mesma? Se não, é hora de você considerar as consequências de não permitir que ela ajude na cozinha. Acredito sem dúvida que uma pessoa cega deve ter muitas experiências humanamente possíveis e que isso é especialmente verdadeiro para crianças cegas. Se o seu filho ou filha está em casa ou se está num internato, é vital para a sua futura independência que lhe seja fornecido treinamento adequado na cozinha. Tais experiências devem começar numa idade muito precoce.

Minha própria experiência me proporcionou uma compreensão clara de como, muitas vezes, pais e professores bem-intencionados afastam crianças cegas de participar do dia a dia da rotina da cozinha. Eu sou cega, e cresci numa escola residencial. Nada era esperado de mim. Ia para a sala de jantar, comia minhas refeições, sacudia as migalhas das minhas saias e subia as escadas para a prática do piano ou leitura de um livro. Em casa, uma agenda ocupada não permitia a oportunidade para eu aprender a cozinhar e minha mãe não esperava me ajudar com as tarefas de cozinha. Depois de concluir meus estudos e me tornar uma dona de casa bem-sucedida (com muito ensaio e erro), tive a oportunidade de ensinar economia doméstica para alunos cegos no Centro Adulto de Orientação e Ajustamento, na Comissão de Cegos de Iowa.

Muitos dos jovens com quem trabalhei, ao ensinar na Comissão de Iowa para Cegos, eram formados do ensino médio. A maioria deles sabia muito pouco sobre a cozinha. Eles tinham tido economia doméstica, mas a maioria nunca havia preparado nada. Especialmente os homens. Eu tinha um jovem que, quando lhe foi solicitado para trazer-me o pote de café, trouxe-me, em seu lugar, o liquidificador. Ele realmente não sabia o que um pote de café parecia. Ele realmente ficou satisfeito com o privilégio de abrir a geladeira e encontrar as coisas para o almoço. Fazer um sanduíche era algo que ele nunca tinha sido autorizado a fazer. Descobri que alguns dos meus alunos pensavam que sabiam como fazer rosquinhas, mas quando o projeto real foi realizado, verifiquei que somente tinha sido permitido a eles passarem estas rosquinhas no açúcar.

Tinham sido enganados sem uma "experiência real". Isto ilustra apenas um exemplo dos inúmeros equívocos realizados por muitos alunos cegos. Muitos dos meus alunos tinham vergonha de admitir que eles eram tão empobrecidos em experiências da cozinha e diziam que eles sabiam como fazer algo, quando realmente não tinham ideia de por onde começarem. Uma menina insistiu que sabia como bater o creme para uma salada de frutas. No entanto, ela começou a derramar o creme de leite fresco sobre a fruta, ligou a batedeira e acabou espalhando a cobertura de creme com frutas por toda a cozinha. Alguns estudantes tiveram problemas para servirem-se e limpar-se após as refeições, para não mencionar cozinhar esta refeição.

Tudo isso é para dizer que, abaixo do nível satisfatório, tem sido negado a eles muitas experiências. Quando permitido o privilégio de um treinamento adequado e oportunidade, aprenderam rapidamente estas tarefas comuns do dia a dia, avidamente, tentam superar-se em relação àqueles alunos que receberam estas habilidades como auxílio. Eu sinto que é errado não esperar que todas as crianças de uma família possam contribuir para o funcionamento e manutenção de uma casa. A uma das minhas melhores alunas, a filha de uma mãe cega, não somente foi permitida na cozinha, mas dela foi esperado sua coparticipação regular.

Estava na cozinha da casa, tinha embasamento suficiente de experiências e possuía confiança de sucesso em qualquer empreendimento culinário. As crianças cegas devem compartilhar as coisas da cozinha. Mostre e ensine a elas os grandes acontecimentos da cozinha a partir das coisas divertidas até as enfadonhas. Ela não deve ser poupada mais do que qualquer criança com visão. Não deixe sua criança crescer pensando que o pão é assado quando toca o teto do forno, não sendo capaz de identificar e utilizar pequenos instrumentos de cozinha, sem saber o que um litro de leite parece ou não saber como espalhar a manteiga em seu pão. O tempo que você despende com o ensino destas competências é um investimento no futuro do seu filho.

Usando o fogão, forno ou frigideira elétrica, o iniciante frita um ovo e o cozinheiro experiente frita vários ovos separadamente e, numa frigideira, usa um anel de ovo para cada ovo. Remover a parte superior e inferior de uma lata pequena de atum ou abacaxi, deixando um anel de metal acima de uma e uma e meia polegada de altura e três polegadas de diâmetro. Este anel é colocado na panela e o ovo é quebrado dentro dele. Quando o ovo ficar firme o suficiente para manter sua forma, o anel é retirado.

Limpeza

Frequentemente, a necessidade da limpeza ou da lavagem pode ser sentida tatilmente. É importante, contudo, antecipar a poeira que não pode ser prontamente notada e fazer uma limpeza geral rotineira tal como limpar todo o balcão depois de fazer a mistura sobre ele. Limpe uma superfície, como o balcão ou o chão. Um planejamento de abordagem é muito importante: limpe em tiras ou faixas em vez de pontos casuais aqui e ali.

Conclusão

Uma atitude positiva é essencial para o sucesso. Se você realmente acredita que o cozinheiro cego necessariamente passa por muitos riscos de segurança, precisa de uma grande quantidade de equipamentos especiais, tem somente um repertório limitado e elabora produtos questionáveis, então você vai fazer um mau trabalho. Se você realmente acredita que o cozinheiro cego pode escolher entre vários métodos para trabalhar com todos os tipos de alimentos e produzir produtos de alta qualidade, então você vai encontrar um caminho de sucesso.

Tempo de alimentação... Tempo de aprendizagem.

O seguinte trecho é reproduzido com a permissão do Boletim VIP, Julho de 1982. O Boletim VIP é uma publicação do Instituto Internacional para deficientes visuais, 0-7, Inc., 1975 Rutgers, East Lansing, MI 48823:

Na época em que sua criança começa a alimentar-se por si mesma, mais aprendizagens e experiências tornam-se possíveis. Se você parar e pensar por um minuto, será capaz de pensar em muitas oportunidades de aprendizagens na cozinha. Por causa do tempo que muitas famílias despendem na cozinha, ela é uma natural sala de aula para qualquer criança. Na maioria das famílias, um ou mais membros despendem tempo na cozinha preparando e servindo refeições. Compartilhando este tempo com uma jovem criança com deficiência visual, apresentamos outra aprendizagem para a criança e oferecemos mais oportunidades de amadurecimento.

Conceitos de Cozinha


Quente/Frio: Comece a identificar alimentos quentes e frios para sua criança, a fim de ajudá-la a associar a sensação tátil com o rótulo. Contraste o ar frio do refrigerador com a temperatura elevada da porta do forno. Vegetais gelados são frios e crocantes, mas você usualmente os come quente.

Olfato/Paladar:
Introduza a criança na variedade de diferentes aromas associados com a cozinha - ou odores dos temperos e alimentos crus, em cozimento ou cozidos. Ajude-a a começar a associar um aroma com o nome, sabor ou sensação tátil. Como uma laranja cheira antes de descascada? Como ela parece? Que tal um ovo? Uma cebola?

Guardando/Empilhando: Providencie para a criança um local na cozinha no qual ela tenha acesso a um sortimento de vasilhas, panelas, utensílios plásticos de cozinha. Quando o entretenimento acabar, ajude-a a guardar os objetos. Assim que estiver mais velha, ela pode ajudar a empilhar e guardar os pratos limpos.

Aprendendo sobre o espaço: Um excelente jogo para a cadeira alta é fazer cair objetos no chão. Isto pode ser desolador para os pais - especialmente quando é uma xícara de leite que bate contra o chão. Contudo, a queda de objetos é um modo da criança aprender sobre o espaço ao seu redor (que distância tem do chão? Quais os diferentes sons quando um objeto é atirado ao chão? Para onde eles vão?). A criança precisará aprender que muitas coisas (bolas) podem ser jogadas e que outras (alimentos) ficam na bandeja.

Alguns pais amarram um pedaço de elástico comprido ao brinquedo e a outra extremidade na cadeira alta para eliminar as perpétuas recolhas. Se você tentar isto, esteja certo de que um adulto estará por perto para prevenir acidentes.

Experimentação: Quando a criança estiver sentada em sua cadeira, entretida com objetos ou pedaços de alimentos perto de suas mãos, encoraje-a à busca do porquê de estarem lá. Por exemplo: um cubo de gelo dentro de uma xícara, pequenos pedaços de alimentos crus, um conjunto de colheres plásticas de medição, utensílios plásticos de formas estranhas, diversas tampas de panelas.

Por Ruth Schroeder

Future Reflexões janeiro / fevereiro de 1983, vol. 2 N º 1
Disponível em: Acesso em http://www.nfb.org/images/nfb/Publications/fr/fr02/Issue1/f020103.html

*Permitida a Divulgação e a Reprodução deste Material desde que Citada a Fonte.

Avaliação deste Artigo: 5 estrelas