Planeta Educação

A Semana - Opiniões

Erika de Souza Bueno Coordenadora Educacional da empresa Planeta Educação; Professora e consultora de Língua Portuguesa pela Universidade Metodista de São Paulo; Articulista sobre assuntos de língua portuguesa, educação e família; Editora do Portal Planeta Educação (www.planetaeducacao.com.br). E-mail: erika.bueno@fk1.com.br

Individualismo e Solidão
Tendências da vida moderna

Falar de individualismo é falar também de egoísmo, tendência que é cada vez mais presente em dias de modernidade e de perda de bons valores que, por algum motivo, não estão sendo repassados aos nossos filhos e alunos. É cada vez mais comum vermos adolescentes, jovens e alguns adultos desrespeitando o idoso, a gestante, o deficiente físico ou quaisquer pessoas que, momentaneamente ou não, estão numa condição em que precisam de cooperação mútua e de compreensão.

Para se ter ideia de como as coisas estão ultimamente, certa vez uma criança na faixa etária de 6 anos, uniformizada para ir à escola, entrou num ônibus lotado de pessoas que diariamente o utilizam para se encaminhar aos seus trabalhos. Esta criança, na sua ingenuidade e devido ao pouco espaço disponível dentro do transporte público, encostou-se, despreocupadamente, à porta do ônibus em intenso movimento, ficando exposta aos riscos que tal imprudência submete qualquer um que ali se aventurar. Muitos a viram, mas somente uma pessoa após algum momento de inquietação diante da situação, manifestou-se em favor da criança cedendo-lhe lugar e a alertando dos perigos acerca de tal prática. Entre as muitas pessoas que a viram e que não reagiram, estavam mães, pais, avós, irmãos, primos...

Numa outra oportunidade, uma gestante, depois de um dia de muito trabalho, chamou um táxi para encaminhar-se à sua casa, mas fora surpreendida por um adolescente que, vendo o táxi, saiu apressadamente em direção deste adentrando-o, sem considerar que o transporte não fora solicitado por ele e, como se não bastasse, desconsiderando a gestante que ali estava presente. Com o injusto passageiro dentro de seu veículo, o motorista viu-se obrigado a solicitar outro transporte à gestante e a seguir viagem.

Situações assim acontecem com mais frequência do que possivelmente imaginamos, mas nem por isso podemos tomar as formas de tais agravos. Não, render-se a uma situação ruim é colaborar e aceitá-la mesmo com as degradantes características que certamente possui.

Com as nossas intervenções, nós, pais e professores, podemos e devemos direcionar esforços para dar novos rumos e moldes à vida de nossos alunos e da sociedade da qual somos parte, de maneira que situações como as listadas acima não se perpetuem.

Acontecimentos como tais só existem porque o individualismo excessivo tem sido constante em nossos dias. Ao ver alguma situação acontecendo com o outro, conceitos e perguntas do tipo “isso tem alguma coisa a ver comigo?”, “é com alguém da minha família?”, “isso pode me ajudar ou prejudicar em algo?” assolam a cabeça de parte significativa das pessoas atualmente. É o egoísmo que está reinando, pois se para tais perguntas a resposta for “não”, na maioria dos casos a pessoa que presencia algo acontecendo ao outro não oferecerá nenhum tipo de auxílio, preocupação ou gentileza.

A sensação que nos advém é que as pessoas estão fechadas em seus próprios mundos, olhando cada uma por si e ninguém por ninguém. Mundos individualistas, nos quais não há a preocupação com a mutualidade, promovem um coração tal como uma pedra, inerte e sem manifestar nenhum sentimento bom a alguém que não lhe diz respeito e, ao que se parece, o bem-estar de quase ninguém diz respeito às pessoas trancafiadas em seus próprios mundos. A questão é que Deus nos criou para sermos sociáveis e, por isso, precisamos saber cativar a amizade e o amor entre todas as pessoas.

Com tudo isso se tem a insensibilidade, a qual assusta e inibe quaisquer desenvolvimentos de vínculos duradouros, ou seja, o futuro de pessoas individualistas e egoístas é, certamente, um futuro de intensa solidão, uma vez que em casos assim o eu não dá espaço para o nós, o qual é componente indispensável para vivermos felizes.

Certamente, não é desejo de nenhum de nós, educadores, sabermos que nossos jovens estão caminhando em rumo à solidão e, por isso, precisamos acreditar que ainda há tempo para mudanças, acreditar que nossas ações, pedagógicas ou em casa com nossos filhos, têm poder de influenciá-los.

Com influência quero dizer que precisamos cativá-los primeiramente com a nossa forma de viver para depois persuadi-los à mudança de atitude e conceitos egocêntricos. Desta forma, é necessário ensinarmos pelo nosso exemplo, mostrando-os que o lado do amor, do companheirismo e do comprometimento com o bem mútuo é imensamente mais conveniente e adequado do que o lado do egoísmo que leva à solidão e ao isolamento.

Assim sendo, poderemos ter esperanças de uma vida melhor e, desde que não nos conformamos com os enganos do presente, o futuro certamente nos fará valer de tudo aquilo que estamos semeando nas cabeças e nossos corações de nossos alunos, filhos e de todos aqueles que, de uma forma ou de outra, são pessoas tais como nós mesmos, que precisam ser assistidas com carinho, compreensão e amor.

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