Entrevistando para Saber
Barbara Heliodora no Diálogo 7
Leonardo Campos
Barbara Heliodora - Condecorada pela ABL (Academia Brasileira de Letras). Crítica de teatro do vespertino Tribuna da Imprensa de outubro/1957 a fevereiro/1958. Os trabalhos publicados nessa atividade não estão relacionados neste currículo.
Crítico de teatro do Suplemento Dominical do Jornal do
Brasil de março/1958 a junho/1961. Crítico de
teatro do matutino Jornal do Brasil de junho/1961 a maio/1964.
Afastou-se para assumir a direção do SNT. Os
trabalhos publicados nessa atividade não estão
relacionados neste currículo.
Diretora do Serviço Nacional de Teatro de maio/1964 a março/1967. Coordenadora Cultural da Sociedade Brasileira de Cultura Inglesa, São Paulo, agosto/dezembro 1978. Registro de Jornalista profissional nº 11.237. Registro de Técnico em Espetáculos de Diversões nº 1.870. Registro de Diretora de teatro nº 3.364. Sócia da ABRATES ( Associação dos Tradutores Profissionais do Estado do Rio de Janeiro ).
Crítico de teatro (Rio de Janeiro), da revista Visão, março/1986 a 1990. Crítico de teatro de O GLOBO desde 1990.
1.
O primeiro ângulo a iluminar nesta entrevista é o
dito universalismo de Shakespeare. No senso comum, o que
poderíamos definir como "universalismo shakesperiano"?
Creio que tudo tem base no interesse de Willian Shakespeare sobre o ser
humano em geral, que ele encontra porque examinava muito a fundo os
seus contemporâneos e por isso mesmo passava muito
além do imediato de local e tempo.
2. Há inúmeras edições das
obras de Shakespeare por editoras diversas. A senhora acha que esse
Shakespeare impresso hoje está muito distante para se
estudar com coerência?
Em inglês todas as edições
têm base em estudos responsáveis sobre as
variantes de texto e, de modo geral, têm poucas
diferenças entre uma e outra. A grafia é
modernizada, a pontuação muitas vezes
também.
Qualquer
edição boa explica tudo, e é o mais
fiel possível ao original. As minhas favoritas
são a Arden, a New Cambridge e a Riverside. As
edições em português por vezes
são muito complicadas de vocabulário, porque os
tradutores mais antigos achavam que um "clássico"
não podia ter linguagem mais accessível, quando
na realidade WS sempre teve essa preocupação,
porque escrevia para ser montado.
3. Acredita na aplicação das obras de Shakespeare
fora do contexto acadêmico (o eixo Teatro & Letras),
trocando em miúdos, no ensino médio
(público adolescente)?
Esse fora do contexto
é muito vago. Creio que em uma boa
tradução, um aluno de 2º grau pode
apreciar um número considerável das
peças.
4. Como profissional na área teatral, em sua
opinião, qual seria a obra máxima do dramaturgo
(e por que)?
Nas tragédias, Hamlet e Rei Lear, as duas que
alcançam maior amplitude na observação
do comportamento humano; nas comédias, creio que o Sonho de
Uma Noite de Verão e O Mercador de Veneza ou Noite de Reis,
mais ou menos pelas mesmas razões.
5. O cinema contribuiu bastante para maior
propagação das ideias ou valores das obras de
Shakespeare, vide as tantas adaptações, sejam
elas paralelas ao enredo ou profundamente diluídas. A
senhora discorda?
O cinema tem apresentado uma série de trabalhos exemplares
sobre as obras de WS: o Hamlet e o Lear russos (de Grigori Konsintzev),
o Hamlet de Kenneth Branagh, os Ricardo III de Olivier, McKellan e Al
Pacino; os Henrique V de Olivier e Branagh, e o Trono Manchado de
Sangue de Kurosawa (o Ran já fica muito longe do original,
como me pareceu acontecer também no Hamlet moderno).
Os filmes de Orson Welles e o Hamlet de Olivier não são muito bons.
6. A literatura também teve o seu legado nesta
propagação: Machado de Assis, José de
Alencar, a literatura de cordel e outros citam personagens ou adaptam a
obra do dramaturgo. Podemos então, creditar a isso essa
chama viva de William Shakespeare na contemporaneidade?
Os autores bons sempre usam bem os ecos shakespearianos; os ruins
atrapalham tudo.
7. E para quem deseja cursar teatro? Conhecer profundamente Shakespeare
seria um dos primeiros passos?
Dos primeiros, dos do meio e dos últimos. Mas não adianta ter indigestão logo no princípio: a leitura de Shakespeare deve acompanhar todo ator durante a vida toda, porque é teatro da melhor qualidade, que sempre ensina tanto a respeito do conteúdo quanto da forma.
Observação: As informações profissionais sobre Barbara Heliodora. dispostas antes do começo da entrevista nesta página, foram extraídas do Website de Barbara, o qual pode ser acessado pelo endereço: www.barbaraheliodora.com