Planeta Educação

A Semana - Opiniões

Erika de Souza Bueno Coordenadora Educacional da empresa Planeta Educação; Professora e consultora de Língua Portuguesa pela Universidade Metodista de São Paulo; Articulista sobre assuntos de língua portuguesa, educação e família; Editora do Portal Planeta Educação (www.planetaeducacao.com.br). E-mail: erika.bueno@fk1.com.br

Efeito anestésico
A indiferença diante do mal

Ao tomarmos conhecimento do acontecimento de alguma coisa boa ou ruim, a sensação é sempre de agitação e de barulho, pois o imprevisto aconteceu, algo que toma conta dos noticiários veiculados de diversas maneiras.

A agitação, contudo, parece ter data de validade, uma vez que sempre chega um momento que as sensações vividas ao acontecer de novidades, sejam ou não positivam, vão mudando de características até o esgotar de qualquer percepção diante daquilo que num dado momento foi novo.

Desta forma, as novidades com o passar de algum (pouco) tempo vão tornando-se monótonas, sem graça, comum até se tornarem incapazes de causar algum efeito naqueles que delas já tomaram conhecimento e não precisam mais de informações o que deixou de ser novo, independente de a novidade ter tido ou não um desfecho satisfatório.

É o efeito anestésico, ou seja, da mesma maneira que quando somos tomados pelo efeito de uma anestesia deixamos de sentir fisicamente os procedimentos que estamos, em dado momento, submetidos, semelhantemente ocorre quando a novidade deixa de sê-la.

O lado obscuro desta nossa característica é que nenhum sangue de nenhum inocente injustiçado parece ser capaz de fazer com que nos sensibilizamos depois que a data de validade daquilo que deixou de ser recente se torna vencida.

O resultado disso pode ser visto nas notícias jornalísticas cada vez mais marcadas pelo sensacionalismo. O que se percebe é que um ato de violência que indignou tantas pessoas de bem não rende mais tanta audiência e, como num círculo vicioso, precisará de mais violência, de mais sangue, de mais injustiça, de maneira que as pessoas corram para frente da televisão a ver as novidades acerca de uma polêmica.

Nós, professores e pais, temos o dever de alertar nossos alunos a respeito desta má tendência que todos nós temos, pois caso contrário veremos as mais cruéis cenas se perpetuar nos meios de comunicação, tornando os futuros cidadãos em pessoas acostumadas a atos hostis, tão acostumadas que podem não ter nenhuma reação contra o que é errado, contra aquilo que se deve combater ou evitar.

Não se está defendendo a censura às programações televisivas que desejam, realmente, informar seus telespectadores, mas há, sim, a defesa de um olhar mais consciente, não sensacionalista a respeito do espetáculo que sempre vemos fazer sobre a vida do outro, uma vez que é muito cômodo sentarmos à frente da televisão, no conforto de nossos lares e, simplesmente, lamentarmos e/ou criticarmos as desventuras alheias.

Nossos alunos e filhos precisam saber se posicionar sem hipocrisia, não podem ser iludidos com uma programação sensacionalista que, ao que parece, tem a única intenção de elevar a audiência.

É necessário auxiliar na construção e no desenvolvimento de cidadãos conscientes da importância de intervenções adequadas e comprometidas com a verdade, com o respeito mútuo e que sabem considerar os limites do outro, de forma que o futuro não seja vitimado com o excesso de anestesia, que nos deixa indiferentes em frente às mais adversas atitudes de desamor, desrespeito e de tantos casos não resolvidos.

O contrário de um cenário assim pode ser entendido, entre outras coisas, como um ambiente em que as pessoas conseguem fazer uma análise desprovida do eu, ou seja, um lugar que considere o “nós”, a pluralidade.

É também por isso que nós precisamos fazer do hoje uma base sólida para um amanhã melhor, pois se permitirmos que nossos alunos e filhos se acostumem com a impunidade do mal, eles já estão correndo o risco de agir tal como o fator de condicionamento do agora, ou seja, fator que os anestesiam diante das mais cruéis situações, que colocam à prova nossa capacidade de amar, perdoar e respeitar.

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