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Cinema na Educação

João Luís de Almeida Machado é consultor em Educação e Inovação, Doutor e Mestre em Educação, historiador, pesquisador e escritor.

O Homem que Copiava
Criativo e Original

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Jorge Furtado já havia nos premiado com o clássico curta-metragem “Ilha das Flores”, no final dos anos 1980. Eis que, no ano passado, depois de mais de 10 anos, ele produz uma outra pérola, de diferente brilho e intensidade, apesar de algumas semelhanças notáveis ao longo da projeção, o originalíssimo “O homem que copiava”.

De quebra ainda permitiu ao grande público brasileiro que pudesse conhecer um ator de ponta, Lázaro Ramos (que também brilhou em outro longa-metragem lançado no ano passado, “Madame Satã”); mostrou a versatilidade do ator carioca Pedro Cardoso; apresentou a bela Luana Piovanni desglamourizada como uma atendente de papelaria e, ainda, confirmou o talento da jovem Leandra Leal.

Furtado confirmou ainda que o cinema brasileiro, em sua retomada de crescimento e conquista do público conta com um aliado fundamental, a criatividade e ótimas histórias para se contar.

No caso, em “O homem que copiava”, destacam-se coisas que aparentemente são banais para muitas pessoas, apesar de comuns e cotidianas para um enorme contingente de indivíduos. Para começar, o protagonista André (Lázaro Ramos) é um jovem que opera máquinas copiadoras (do tipo xeróx), dos quais se exige presteza, rapidez e nada mais. Na maior parte dos casos, mal se olha para a cara desses sujeitos (o que, diga-se de passagem, é condenável).

Pois é, nesse filme, tudo gira em torno desse personagem e de toda a sua simplicidade.

Outro aspecto importante refere-se ao resgate do romance impossível, distante, separado por paredes, vidraças, prédios, empregos e famílias. Sem que, isso resulte, necessariamente, num sentimentalismo piegas ou exagerado. No caso, a paixão que move o jovem “que copiava” a uma moça de nome Silvia (Leandra Leal) que trabalha como balconista numa loja de roupas.

Outros ingredientes que apimentam o roteiro e dão forma e volume para o filme de Furtado são as relações familiares e as amizades que desenvolvemos em nossas vidas. O pouco caso e desprendimento da mãe de André em relação a seu filho e a tempestuosa relação entre Sílvia e seu pai ilustram, em parte, um pouco do drama de muitos jovens brasileiros. A aproximação entre André, Marinês (Luana Piovani) e Cardoso (Pedro Cardoso), despretensiosa a princípio, se torna um negócio ou empreendimento posteriormente...

A linguagem do filme também surpreende aos espectadores acostumados a uma leitura linear dos acontecimentos e fatos. Há uma narração em “off”; em determinados momentos algumas explicações; em outros a utilização de “flashbacks” e, ainda, diálogos interessantes entre os personagens. Tudo muito bem amarrado, de forma a manter a atenção e o interesse dos espectadores ao longo de todo o filme. Imperdível!

O Filme

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Operadores de máquinas copiadoras são, do ponto de vista de André (Lázaro Ramos), pessoas pouco interessantes, incapazes de seduzir garotas, donos de poucas histórias para contar, minados por um cotidiano sem graça, gastando o tempo de suas vidas a fazer cópias e mais cópias de livros, textos, documentos e outros artigos sem que jamais possam, nem ao menos ler ou estudar os mesmos.

O problema é que André é um operador de máquina copiadora...

Esse jovem trabalha numa pequena papelaria da periferia de Porto Alegre. Não alimenta grandes sonhos. Contenta-se com o pouco que consegue em seu cotidiano. Inclusive parece acomodado com a possibilidade de ler apenas pequenos e incompletos trechos dos textos que reproduz. Guarda apenas um grande prazer, desenhar histórias em quadrinhos.

Sua vida muda quando encontra Sílvia (Leandra Leal). Na verdade, a princípio, barrado por sua timidez, André limita-se a observá-la de longe, impassível e distante da possibilidade de conhecê-la. Articula encontros, avalia suas chances, vence suas limitações e põe-se a caminho de seu objetivo.

Nesse meio-tempo, descobre-se impossibilitado de sustentar o sonho de um romance com Sílvia por faltar-lhe dinheiro. Tenta recorrer aos colegas/amigos Marinês (Luana Piovani) e Cardoso (Pedro Cardoso) e pouco sucesso obtêm. Descobre então que seu trabalho pode ser a solução para suas pequenas despesas...

Surpreendente do começo ao final, “O homem que copiava” é um dos melhores filmes brasileiros dos últimos anos. Obrigatório!

Aos Professores

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1- Atenção ao sotaque dos personagens, todos eles são gaúchos, exceto o personagem Cardoso (Pedro Cardoso). Um bom trabalho a se realizar com o filme seria fazer uma pesquisa sobre os regionalismos e sua relação com a língua portuguesa. Há muitas variações, algumas pequenas, outras nem tanto, entre o português que se fala no Rio Grande do Sul, na Bahia, em São Paulo ou no Rio de Janeiro (para ficar apenas em alguns exemplos). Esse trabalho poderia abordar, ainda, uma comparação com o português de Portugal (alguns exemplos têm aparecido no quadro “Me leva Portugal” do repórter Maurício Kubrusly, exibido pela Rede Globo no Fantástico). Que tal começar fazendo um levantamento quanto às origens de seus alunos?

2- Quando falamos em relações familiares abordamos um ponto chave para o bom funcionamento da escola. Trazer os pais para as escolas nos permite conhecê-los, dá a eles a chance de acompanhar mais de perto o rendimento de seus filhos; convidá-los a participar dos eventos promovidos pela escola ou prestigiar mostras ou torneios esportivos, entre outras possibilidades, significa conhecer melhor os nossos alunos. Através desse contato podemos entender os motivos da baixa estima de alguns estudantes, as razões do bom rendimento de outros; temos a chance de orientar as famílias quanto ao estudo e as possibilidades de cada criança ou jovem. “O homem que copiava” nos coloca diante de exemplos extremos, como nos casos de André e Sílvia, entretanto tem os méritos de abrir essa tão importante discussão e participação dos pais na escola.

3- O pouco caso ou desprezo que muitas pessoas alimentam em relação a pessoas mais simples, que desempenham funções socialmente desconsideradas, é um dos piores defeitos que existem. Independentemente da função, da origem ou de qualquer outra característica (cor, sexo, religião,...), as pessoas tem que respeitar e tratar de forma digna os outros. “O homem que copiava” nos permite debater esse assunto ao apresentar André como um verdadeiro “homem invisível”, tratado de forma indiferente ou distante, como tantas outras pessoas...

4- O que é o “jeitinho brasileiro”? De que forma ele aparece no filme “O homem que copiava”? Em que momentos de nossa história podemos perceber que esse incômodo “jeitinho” nos prejudicou? É possível localizar o “jeitinho brasileiro” na literatura? Que tal despertar esse tema em aula e debater com os alunos?

Ficha Técnica

O homem que copiava

País/Ano de produção:- Brasil, 2003
Duração/Gênero:- 123 min., Comédia
Direção de Jorge Furtado
Roteiro de Jorge Furtado
Elenco:- Lázaro Ramos, Leandra Leal, Pedro Cardoso, Luana Piovani,
Júlio Andrade, Kike Barbosa, Zé Adão Barbosa, Irene Brietzke.

Links

- http://www.imdb.com/title/tt0367859/ (em inglês)
- http://cineclick.virgula.terra.com.br/criticas/index_texto.php?id_critica=727

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Avaliação deste Artigo: 3 estrelas