Cinema na Educação
2012: Utopia ou Realidade?
Michelle Cristine Laudilio de Souza
Lembro-me que quando era criança, uma incerteza atormentava o desejo de realizar meus sonhos. Isso porque todos os meus sonhos para se tornarem realidade era necessário mais idade. E pedi que o tempo passasse logo, era um risco. Não por que eu ficaria mais velha, ou fosse obrigada a assumir a tal responsabilidade, mas porque tinha medo do ano 2000.
Desde os 07 anos, as pessoas comentavam que o fim do mundo seria no ano 2000. Fogo, meteoro, pedras, raios, trovões, na verdade não importava o que causaria o fim ou a causa dele. Poucos queriam saber sobre as causas, o que se sabia é que o mundo iria acabar e nada e nem ninguém seria capaz de escapar desse destino cruel traçado para uma coletividade.
Confesso que esse destino incerto fez com que eu pensasse que o meu sonho de ser uma grande professora, não passasse de uma utopia. Eu nunca conseguiria ensinar as pessoas, pois não existiriam pessoas, quer dizer, eu também não existiria. Era como se tudo que eu fizesse para ser “alguém na vida”, não tivesse mais sentido quando chegasse o ano 2000.
E o pior é que nada me dizia o que eu poderia fazer para tornar a suposta realidade em apenas conto da carochinha.
Passaram-se 14 anos... passou o ano 2000. E olha só, estamos especificamente no ano 2010, ano que realizei meu sonho de criança...Formei-me, e o mundo não acabou como me disseram. Ainda estou viva e acredito que você que está lendo também, só não sei se estaremos daqui a 02 anos, pois se cogita mais uma nova data para o fim do mundo.
Recentemente foi lançado o filme 2012. Agora, temos dois mil e doze motivos implícitos e explícitos para os que se emocionam, refletem ou até mesmo se encantam com os extraordinários efeitos especiais. O filme nos deixa diante de mais um enigma dentre muitos outros que ainda não conseguimos responder. Afinal, o mundo acabará em 2012?
Apresentando uma profecia da cultura Maia, que defende que a terra, como conhecemos, terá um fim no ano de 2012, o filme mostra como cientificamente o mundo acabaria e junto com ele as pré-ações humanas para manter-se vivo em meio ao caos.
Isso implica pensarmos que daqui a 02 anos todos os sonhos que idealizamos não passariam de simples sonhos. Não sei se conseguirei ser uma grande jornalista (por formação), se trabalharei para algum jornal, se serei repórter, apresentadora, editora, enfim, daqui a dois anos tudo poderá acontecer, inclusive nada.
Então, o que fazer? Esperar o fim do mundo para perceber que um par de sapatos da Nike, uma calça da coca-cola, uma casa no bairro nobre da cidade, um carro do ano, uma roupa da moda ou de grife, status social ou qualquer outra coisa que nos faz sentir-se acima de alguém, não passa de um estado momentâneo que não engrandece nem nos livrará da última fase do ciclo da vida: a morte?
O filme representa também as reações mundiais para um problema mundial. Ter dinheiro e comprar um lugar na Arca da vida por milhões de euros não deu a vida a quem obteve a ‘sorte’ de fazer parte das classes favorecidas da sociedade. Ser negro ou branco, rico ou pobre, influente ou marginalizado; budista, católico, protestante ou crer em qualquer crença não nos livrará da morte.
Assistindo
ao filme, perguntei-me se seria tão emocionante aqueles
efeitos especiais na realidade, se conseguiríamos escapar
através da arca e parar na África,
sãos e salvos para contar às outras
gerações que o mundo não acabou, como
no ano 2000...Porém, uma coisa eu tenho certeza: se ele
não acabar em 2012, acabará o mais
rápido que imaginamos. Basta ligarmos a televisão
e verificarmos as modificações naturais.
O mundo está se acabando aos pouquinhos. Esquentando aqui,
acolá; enchente ali, outrora aqui. Muitos dizem que
é a fúria da natureza. A Tsunami, o
furacão Katrina, a tragédia em Nova Orleans
são apenas reflexos que ela existe ou, ainda, representa a
revolta injusta dela com os pobres seres humanos que só
querem viver bem (será qual o melhor conceito de viver bem,
o das civilizações antigas ou
contemporâneas?). Injusto são seres
‘racionais’ esquecerem que a natureza
não se revolta, apenas chora, vendo seu fim, dia
após dia.
Entretanto, como pensar na natureza se o que queremos mesmo é conforto, não importando como. Seres humanos não aguentam mais andar léguas e léguas, temos carro, moto... Trabalhamos o dia inteiro, dedicamos-nos, perdemos noites de sono... Será que não temos o direito de ir de carro até a padaria da esquina? É conferência em Estocolmo, protocolo de Kyoto e agora Copenhague.
Para quê tantos encontros que não resolvem nada, nos quais os países ricos só querem continuar mais ricos? Somos felizes assim: convivendo com todos os problemas climáticos, desmatamento, devastações, quem foi que disse que a vida é um mar de rosas? Não suportamos todos essas reuniões que querem limitar os avanços da humanidade e a felicidade cada vez mais sedentária de nós, seres ávidos por conforto.
Será que não temos o direito de tomar um banho quente de duração de 1 hora? Dormir com a televisão ligada? Ora, pagamos nossa energia, trabalhamos para isso... Danem-se as próximas gerações! Não estarei vivo mesmo em 2050... Querem ter vida boa, ralem, trabalhem, recriem o mundo! Só queremos aproveitar as inovações tecnológicas, os últimos lançamentos de carro, celular, enfim, gostamos das turbinas industriais, CO2 significa progresso, vida boa...
Então, pergunto: até quando acharemos que aproveitaremos as ilusões progressistas do CO2 e daqueles que em excesso prejudicam a mãe natureza? Confesso que acreditei que quando fomos abalados com grandes “tragédias” naturais, a exemplo de tantas em 2009 - queimadas na Califórnia, chuvas fortíssimas no Piauí (no Piauí?), enxurradas no Sul e tantas outras - pensei que pelo menos metade da população mundial se conscientizaria. Pura ingenuidade.
Basta olharmos para o que está acontecendo novamente no Sul, em São Paulo. Inúmeras pessoas perdendo casas, familiares, vizinhos, amigos e alguns até a vida. E não é por que está chovendo demais, é simplesmente por ERRO humano. Afinal, de quem são os sacos plásticos, entulhos, enfim, a sujeira que impede que as águas escoem pelos bueiros?
Falta de higiene e educação, seres impiedosos que clamam justiça, reclamam dos céus, mas não têm a sensibilidade de jogar o lixo no lixo. Criminosos, egocêntricos que querem viver muito bem, sem se preocupar com aquela que nos permite viver, a natureza.
Quando faremos nossa parte? Quando agiremos em prol da natureza? A permanência ou obtenção da vida depende de atitudes. Atitudes reflexivas, críticas, coletivas. Pensar no outro é um grande passo. Pensar na natureza é pensar em existência na terra. Pensar em si, é pensar em nada.
Espero que um dia, todos pensem em ‘nós’ porque, ao contrário do filme 2012, quando o mundo vier acabar não teremos atores principais que sobrevirão e chegarão ao Cabo da Boa Esperança, lamentando-se por não terem pensado no futuro e nas novas gerações.
Michelle Cristine Laudilio de Souza - Formada em Letras Inglês e suas literaturas; Estudante de Comunicação Social - Jornalismo em multimeios - na UNEB em Juazeiro- Bahia.