Planeta Educação

Assaltaram a Gramática

Erika de Souza Bueno Coordenadora Educacional da empresa Planeta Educação; Professora e consultora de Língua Portuguesa pela Universidade Metodista de São Paulo; Articulista sobre assuntos de língua portuguesa, educação e família; Editora do Portal Planeta Educação (www.planetaeducacao.com.br). E-mail: erika.bueno@fk1.com.br

Jovens Fantasiados de Artistas
Crise de Identidade

Nos contos de fadas, é comum os personagens serem conhecidos pelo apelido e não por nomes próprios.

Entre outras razões, isto ocorre porque não tendo nomes, qualquer pessoa pode assumir o lugar e a história deles.

A questão se dá porque não é apenas nos contos de fadas que essa troca ocorre, sendo que nem sempre é benévola.

Na vida real, há maior complexidade porque nem sempre a "moral da história" é perceptível à vida de nossas crianças e jovens.

No mundo da realidade, quando uma pessoa deixa de ter nome e passa a ser conhecida por alguma outra citação, ela pode estar em meio ao que chamamos de crise de identidade.

Esse transtorno é relativamente comum em jovens, pois eles ainda estão em processo de desenvolvimento e, por isso, ainda podem não compreender com clareza o que se passa dentro de si.

As transformações ocorridas no período da adolescência são, muitas vezes, responsáveis por um verdadeiro caos na vida do jovem, bem como na vida da família e dos envolvidos com ele.

Nós, enquanto professores, podemos traçar metodologias para diminuir os impactos ruins sofridos pelo adolescente (e pela sociedade em geral) durante o período dessas transformações.

É conveniente esclarecer que o primeiro método de combate a qualquer inadequação de comportamento se dá, evidentemente, pela identificação.

Esta, por sua vez, nem sempre é percebida pela família, pois, numa atitude de autodefesa, muitos jovens tendem a se isolar, a não tocar em assuntos polêmicos, não se mostrando abertos a qualquer tentativa de aproximação.
 
Contudo, não podemos desistir deles. Mesmo que essa fase é tida como problemática, se não houver intervenção madura e consciente, teremos jovens "sem nome", sem identidade andando por aí, indo pela cabeça de qualquer que se aproximar deles com ideias mais "interessantes" daquelas que a sociedade costuma lhe apresentar.

Às vezes, essa fase começa bem cedo, ainda na infância. Um exemplo bem simples disso é quando somos "obrigados" a nos render aos impulsos de nossos filhos que querem, a todo custo, se caracterizar completamente com algum artista em evidência na mídia televisiva.

É como se eles deixassem de ser chamados pelos próprios nomes e passassem a ser chamados pelo nome do objeto idolatrado. Mas, não se engane, não é apenas no estereótipo que eles se parecem.

É fácil perceber que o modo de se comportar também se assemelha muito aos artistas que estão sendo venerados por eles. Além disso, nem sempre esses personagens artísticos são modelos adequados a ser seguidos.

E os problemas não param por aí. Quando a criança, adolescente ou jovem não se sente incomodado ao ser tratado tal como se fosse o artista de quem copia seu visual, vamos assim dizer, é indício forte de que está havendo também perdas mais significativas.

No caso, quando nossos alunos ou filhos começam a viver num mundo que não é deles, percebem, em algum tempo, que as coisas não funcionam como nos contos de fadas, ou seja, mesmo desejando uma vida muito diferente da que eles têm e desejando experimentar a vida de uma determinada celebridade, eles veem somadas constantes insatisfações e frustrações à própria história.

Neste ponto, o comportamento deles, provavelmente, já está sendo conhecido como o “problema”.

Mas vamos enfatizar mais uma vez! Nós, professores e pais, podemos ajudá-los a resolver boa parte desses incômodos, os quais estão sendo causados por uma identidade não bem-definida.

Portanto, é hora de começarmos um trabalho baseado no diálogo e na troca de confidências, até pelo fato de que nada é tão novo assim para nós, uma vez que também já vivemos fases semelhantes a essa, certamente, temos muito a contribuir com nossos jovens alunos.

Vale dizer que nossa identidade é formada durante a vida inteira a partir de situações que se nos apresentam, além dos anos de vida que nos dão experiências em diversas áreas.

Lembre-se que um diálogo é a conversa entre, pelo menos, duas pessoas e, por isso, pense numa maneira de fazer com o jovem, o adolescente ou até mesmo a criança fale com você sobre as ansiedades que ele tem e, também, quais os objetivos de vidas ele pensa e deseja atingir.

Ao conseguirmos fazer com que eles falem conosco, diminuiremos os riscos de aumentarmos o filtro afetivo deles.

Com o filtro mais baixo,  eles não vão interpretar nossas intervenções como invasão de privacidade e, com isso, será muito mais fácil os ajudarmos nesse momento tão importante na vida deles, e (por que não?) nas nossas vidas também.

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