A Semana - Opiniões
15/12/2003 - Precisamos melhorar a qualidade do “espinafre”
Reflexões de Final de Ano (II)
Precisamos melhorar a qualidade do “espinafre”
Reflexões de Final de Ano (II)
Na semana passada tive a oportunidade de apresentar uma série de informações sobre a educação brasileira coletadas a partir de extensa pesquisa do IBGE. Esses dados foram fundamentais para que pudéssemos discorrer a respeito do valor dos diplomas que foram, então, comparados com o segredo da força (o espinafre) do personagem de histórias em quadrinhos e desenhos animados, Popeye.
Explicamos então que nossas energias tinham que se multiplicar várias vezes para que, dessa maneira, tivéssemos condições de validar os esforços que fizemos em busca de nossos diplomas e revertêssemos nosso aprendizado e especialização em favor das comunidades nas quais estamos inseridos.
Não pudemos, entretanto, comentar alguns dados essenciais noticiados pela mídia, totalmente relacionados à questão da formação universitária no Brasil. Comecemos então por aqueles que podemos considerar como positivos:-
1. A quantidade de mulheres que se graduam em nosso país é ligeiramente superior a dos homens.
Num país como o nosso, de formação ancestral paternalista, onde as mulheres pareciam condenadas até bem recentemente a cuidar dos filhos, da casa e do marido (quando se livravam do jugo do pai), essa informação é muito relevante. Nos mostra que a força de trabalho feminina tem encontrado espaço em todos os setores da economia nacional e que, apesar das discrepâncias salariais, tende cada vez mais a diminuir as distâncias a partir das ferramentas e especializações decorrentes da formação universitária.
2. O Sudeste, região mais rica do país concentra aproximadamente 60% das pessoas graduadas de nosso país.
Para a região composta pelos ricos e prósperos estados de São Paulo (equivalente a 33% da economia nacional), Rio de Janeiro, Minas Gerais e pelo Espírito Santo, a notícia não poderia ser melhor. Apesar disso, temos que pensar que essa concentração é nefasta, pois acaba incentivando os empresários a investirem mais maciçamente nesta região, impedindo o crescimento de outras por não possuírem mão de obra especializada e credenciada para as novas perspectivas e empreendimentos.
Seria fundamental que as universidades aumentassem seus investimentos em outras regiões e que, novos pólos produtores industriais, de serviços, comerciais, agrícolas ou ainda de turismo, fossem fomentados nas demais localidades brasileiras para atrair esses excedentes que existem no Sudeste.
Se, entretanto esses fatores podem ser entendidos como positivos (se bem que em termos, como pudemos perceber no segundo item), ficam alguns problemas a serem resolvidos, como:
1- O baixo índice de pessoas negras ou mulatas que chegam à universidade (aproximadamente 20% do total).
O conceito de democracia racial cai por terra ao depararmos com um dado tão expressivo como esse. De cada cinco graduados no país, quatro são brancos e apenas um é negro ou mulato. Essa desproporção pode ser sentida também ao avaliarmos a quantidade de pessoas desempregadas ou subempregadas no Brasil. Proporcionalmente, no que tange ao desemprego e subemprego, o conjunto de pessoas negras e mulatas é muito maior que o de brancos.
Sabendo que a graduação e a continuidade dos estudos garante maiores possibilidades de se obter um emprego, fica evidente que a polêmica da reserva de vagas em determinadas universidades (sistema de cotas) é importante para, ao menos, despertarmos a atenção coletiva dos brasileiros para essa questão tão fundamental e explosiva!
2- De cada 10 pessoas formadas no país, aproximadamente seis estão concentradas nas áreas de ciências humanas, sociais e educação.
Se tantas pessoas estão nestes setores por que a educação ainda não atingiu a eficiência que se poderia esperar dela? Formam-se muitos advogados e a justiça continua morosa e pouco produtiva, os processos se avolumam. Como podemos aceitar isso, com tantas pessoas que se formam nessa área? Os administradores públicos continuam sofrendo para equilibrar orçamentos e muitas vezes deixam a desejar quanto aos empreendimentos necessários para o bem estar público. Se foram a universidades, se estudaram, se estão preparados, deviam resolver os problemas e não deixá-los se perpetuar!
3- Os resultados do último provão foram pífios, a esmagadora maioria dos cursos avaliados não passou da nota 5.
Talvez por isso não consigamos resolver nossos problemas. A universidade não ensina como deveria. Tenho lido com freqüência que tudo no mundo, ao longo dos últimos 20 ou 30 anos mudou de forma extremamente acelerada, menos a escola. Talvez por isso, seja hora de revermos todos os nossos procedimentos, implementarmos uma forma de ação que seja efetiva, planejarmos a fim de realizarmos, sonharmos com os pés no chão, prontos para uma transformação que seja verdadeira.
Chega de reclamar. É hora de refletir. O ano de 2003 está se encerrando. Com ele, algumas boas oportunidades ficaram para trás. O ano novo tem que ser marcado por realizações e mudanças que signifiquem um pleno aproveitamento de nossos potenciais e uma correção de rumos. O século XXI já começou e não podemos ficar para trás...
Feliz Natal e Próspero Ano Novo!
Obs. Essa coluna encerra nossas atividades em 2003, depois de um breve recesso para as festividades de final de ano, voltaremos com mais informações, bom humor, disposição e análises em 2004. Feliz Natal, que todos tenham um 2004 de muitas felicidades e realizações e até breve!