A Semana - Opiniões
08/12/2003 - O Espinafre do Popeye são os nossos diplomas
Reflexões de Final de Ano (I)
Duas importantes notícias relacionadas à educação foram divulgadas na semana que passou:- A primeira delas nos informava das “mudanças” promovidas pelo MEC no provão; a outra, muito mais importante, foram os dados relativos ao nível de escolarização dos brasileiros, apresentado pelo IBGE.
Descobrimos, entre outras informações pertinentes que:
- Aproximadamente 5,8 milhões de brasileiros (num universo estimado de 190 milhões de habitantes) completaram os estudos em nível superior.
- Apenas 0,4% dos brasileiros possui titulação de mestre ou doutor, o equivalente a pouco mais de 300 mil pessoas.
- As mulheres equivalem a 54% dos brasileiros que possuem nível universitário.
- O Sudeste concentra quase 60% do total de diplomados do país.
- De cada 5 pessoas diplomadas, 4 são brancas e apenas uma é negra.
- De cada 10 pessoas formadas no país, aproximadamente 6 estão na área de ciências humanas, sociais ou educação.
O que pensar desses números?
A princípio, perceber que o universo de pessoas que passam por um ciclo de escolarização completo (da Educação Infantil a Universidade) é reduzido em nosso país. Dessa forma podemos afirmar, categoricamente, que graduar-se numa universidade no Brasil é um grande privilégio.
Diplomas valem muito, temos que realizar isso na prática.
Entendido isso, fica claro que cada um dos profissionais formados em universidades brasileiras tem, verdadeiramente, como dever de cidadão, a responsabilidade de aplicar seus conhecimentos de forma consciente em prol da melhoria de suas profissões e da prosperidade do país. Parece apenas discurso, retórica de políticos interessados em se promover às vésperas de uma eleição, mas não é...
A alteração dos perversos índices sociais que assolam o Brasil se inicia na escola. O primeiro trabalho fundamental para que isso aconteça, entretanto, está ainda distante das salas de aula. Inicia-se nos planejamentos estratégicos que permitem o gerenciamento de cidades, produção industrial, produtividade agrícola, comércio e saúde.
A administração salutar e coerente de uma cidade, organizada de forma a permitir saneamento básico, acesso a escolas, atendimento médico e odontológico, programas de incentivo a cultura, habitação popular para as camadas mais carentes ou transporte coletivo decente e a preços acessíveis promove o bem-estar social. Tudo isso é óbvio, pode pensar o leitor mais atento, entretanto, devo argumentar que falta a nossos políticos o profissionalismo e a competência técnica (quando não ética e moral) para promover essas realizações.
Planejamento é fundamental.
Se nossos políticos possuem em seus currículos diplomas de advogados, administradores, economistas, professores ou engenheiros, a princípio isso poderia e deveria significar competência, habilidade e conhecimento para um pleno e eficiente exercício de suas funções. Não é, em muitos casos, o que vemos na prática...
O mesmo pode se dizer em relação a agrônomos, professores, médicos, engenheiros, advogados e todos os outros profissionais. Até que ponto, no exercício de sua profissão, você percebe a sua importância, a sua relevância num cenário mais amplo (menos imediato) como o nacional?
Maior produtividade no campo significa mais alimentos e preços mais baixos para o consumidor final. Isso repercute na saúde dos brasileiros. Mais saudáveis essas pessoas podem produzir com maior disposição, estudar, aperfeiçoar seus conhecimentos e, mais facilmente, se integrar à comunidade exercendo seus direitos de cidadão.
Quando os engenheiros transcendem o limite objetivo do produto no qual estão trabalhando e percebem o quanto seu trabalho pode beneficiar a comunidade na qual vivem, empenhando-se mais e mais para que as repercussões sejam cada vez maiores, sua disposição supera o esforço individual e atinge os demais trabalhadores e a população...
Veja a construção de uma ponte, de uma calçada ou de uma tubulação de esgotos. Representam muito mais que obras de engenharia, significam caminhos que permitem ir e vir, chegar a locais distantes, combater doenças e epidemias,...
O funcionamento adequado de um posto de saúde ou de um hospital, promovendo campanhas de vacinação, implementando a medicina preventiva, socorrendo adequadamente os enfermos e acidentados permite que tragédias não aconteçam, que a vida prevaleça, que a morte seja vencida.
Pensando de forma prática, podemos dizer que a ação eficaz de médicos e enfermeiros garante a saúde física e emocional e promove o retorno de pacientes a vida normal, onde voltarão a estudar, produzir, se divertir, amar,...
Não basta exercer uma profissão, é necessário que esse exercício se torne uma realização. E que essa realização signifique dividendos para o profissional, para seus clientes diretos e também para a comunidade como um todo.
Ainda mais num país como o Brasil onde tão poucas pessoas concluíram o 3º Grau. Isso deduz um esforço grandioso por parte de cada um dos profissionais diplomados. As recompensas existem, a começar por salários mais altos. O maior dos retornos obtidos é, entretanto, a certeza de que o país e seus habitantes vivem melhor por conta de sua ação, de sua pequena (expressiva, dedicada) contribuição...
Vale tentar!
Obs.: Popeye, personagem de desenhos animados, ficava muito mais forte e poderoso ao comer espinafre. Dessa forma enfrentava Brutus e salvava sua amada Olívia Palito de muitos perigos. A comparação que fiz tem o intuito de mostrar que também podemos fazer muito por nossos familiares, amigos e, inclusive, por nosso país. Voltarei a comentar os dados do IBGE no próximo Editorial.