Planeta Educação

Cinema na Educação

João Luís de Almeida Machado é consultor em Educação e Inovação, Doutor e Mestre em Educação, historiador, pesquisador e escritor.

S.O.S. Saúde
E o Juramento de Hipócrates?

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Assisti recentemente ao documentário S.O.S. Saúde (Sicko, 2007), de Michael Moore, conhecido cineasta americano responsável pelos sucessos "Fahrenheit 11/9" e "Tiros em Columbine", entre outros. Recomendo a todos que assistam, pois apesar de focar um problema específico do universo norte-americano, o sistema de saúde ali vigente desde o início dos anos 1970, criado no governo de Richard Nixon, apresenta lições e soluções em saúde que são válidas para todos os países.

Moore começa, como sempre, demolidor. Coloca-nos a par da situação da saúde nos Estados Unidos, a nação mais rica do mundo, e a única do hemisfério ocidental que não possui um sistema de saúde pública, legando a seus cidadãos o acesso a clínicas, hospitais, médicos, remédios, cirurgias e todas as outras necessidades relativas a saúde, aos planos privados... E neste aspecto a regulamentação governamental também deixa a desejar, pois as bilionárias empresas que regem o segmento criaram e se utilizam de subterfúgios vários para vetar ao máximo qualquer tipo de intervenção médica e minimizar ao mínimo os custos relativos a estas ações, maximizando desta maneira os seus lucros...

Neste sentido, a produção nos coloca em contato com pacientes que tiveram tratamentos negados, apesar de pagarem os custos de seus seguros-saúdes regularmente e, em função disto terem suas saúdes arruinadas; conhecemos pessoas que perderam familiares também por conta da desenfreada ambição dos gestores de seus planos de saúde que, para não gastarem com cirurgias onerosas e remédios caros, fecharam as portas dos tratamentos necessários a estas pessoas; ficamos sabendo de profissionais que são contratados para descobrir na ficha dos requerentes de tratamentos qualquer tipo de informação que pudesse ser utilizada contra estes homens ou mulheres para lhes proibir acesso aos cuidados médidos que precisavam urgentemente; vimos até médicos fazendo o mea culpa e admitindo que "mataram" pacientes por lhes negar tratamento, conforme lhes era requisitado por estas miliardárias empresas de seguro-saúde em função de salários adicionais, bônus ou ainda promoções que receberiam ao agir desta maneira...

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Mas Michael Moore não parou por aí... Trabalhou também a questão ideológica ao mostrar que para os americanos os sistemas de saúde pública são "socializantes", "esquerdistas" e que, desta forma podem abalar os alicerces da pátria da democracia. Além disto, provavelmente o atendimento médico prestado nas nações que assim trabalham sua saúde, deveria ser lamentável, com filas para tudo, falta de medicamentos, ausência de especialistas, médicos e enfermeiros desqualificados...

Por conta disto resolveu visitar outros países... Começou pelo Canadá, foi a Inglaterra, passou pela França e terminou em Cuba (não sem antes mostrar o drama dos americanos que trabalharam como socorristas na tragédia de 11/9, no WTC, e que tem sérios problemas de saúde; como contraponto mostrou que em Guantánamo, base naval americana em solo cubano, os terroristas que participaram do ataque as torres gêmeas tem tratamento de saúde bancado pelo governo dos EUA e, com alto nível de qualificação!).

Em cada um destes países surgiram lições preciosas para os americanos e, de certa forma, também para nós, brasileiros e todos os outros povos. Na Inglaterra e no Canadá o acesso à assistência é bastante rápido, existem equipamentos e médicos, as pessoas com mais de 60 anos e menos de 12 não pagam por remédios, o preço dos medicamentos é fixo (na Inglaterra) e não varia mesmo que sejam necessários mais cápsulas ou comprimidos...

Na França o sistema de assistência social garante igualmente acesso qualificado e rápido aos cidadãos a qualquer tipo de tratamento e remédio. Na pátria da Torre Eiffel existe um serviço de atendimento médico 24 horas, com os médicos de plantão indo até a casa dos doentes, atendendo as necessidades e emergências (e fazendo encaminhamentos a hospitais quando necessário) a qualquer hora do dia, da noite e da madrugada...

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Ficamos sabendo no filme que esta ideia surgiu na década de 1940, a partir da constatação de que se existiam encanadores que atendiam 24 horas, por que não poderiam existir médicos? Afinal de contas, a saúde da população é muuito mais importante que os encanamentos de uma casa, por maior que seja a urgência nestes casos...

Em Cuba, a parte final do documentário, a emoção fica por conta não só do destacado atendimento em saúde pública dado pelos hermanos cubanos, tão hostilizados nos EUA por conta de suas opções políticas, vítimas de criminoso embargo que dura décadas... Os cubanos além de eficientes, ainda que nação pobre, não negam auxílio nem mesmo a estrangeiros, dando a americanos que nada conseguiam em sua própria pátria do sistema de saúde privado, todos os exames, tratamentos e medicamentos necessários para que pudessem se sentir melhor... Fabuloso!

"S.O.S. Saúde" é obra imprescindível não apenas para sabermos mais de saúde, mas como elemento de mobilização no tocante a este setor e também enquanto trabalho que nos permite pensar mais em construir um mundo mais fraterno, onde ajudemos mais uns aos outros e no qual o lucro não seja a principal força motriz da sociedade...

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Ficha Técnica
S.O.S. Saúde

(Sicko)

País/Ano de produção: EUA, 2007
Duração/Gênero: 113 min., Documentário 
Direção de Michael Moore
Roteiro de Michael Moore
Elenco: Michael Moore, Reggie Cervantes, John Graham,
William Maher, Linda Peeno.

Links
http://www.cinemaemcena.com.br/ficha_filme.aspx?id_filme=3717&aba=detalhe
http://www.adorocinema.com/filmes/sos-saude/
http://epipoca.uol.com.br/filmes_detalhes.php?idf=17660

Avaliação deste Artigo: 5 estrelas