Planeta Educação

Aprender com as Diferenças

 

Bola cheia na Inclusão
História de superação

Eu e meu marido resolvemos adotar uma criança, pois eu não podia ter filhos. Uma bela noite recebi uma ligação de uma amiga da família dizendo que havia um bebê esperando por pais que o quisessem... Quase desabei... Assim que amanheceu o dia partimos para Minas Gerais e encontramos nosso Moisés em precárias condições. Imediatamente voltamos para o Rio com nosso bebê dentro de um cesto de pão forrado com edredon e um travesseiro. Tudo ia bem até que aos 8 meses a pediatra dele nos chamou e pediu que fôssemos a um neurologista, pois havia algo errado, mas ela não sabia o quê. Aí começou nossa luta para fechar o diagnóstico do José e, aos 7 anos, finalmente soubemos que ele tinha uma deficiencia de aprendizagem por fatores ocorridos durante sua gestação. Ficamos sem chão, mas aos poucos fomos entendendo melhor a situação e passamos a investir nosso tempo e dinheiro no crescimento dele.

Como todo menino, José gostava de bola e sempre ganhava alguma de presente, parecendo logo a chutar e até a quebrar algumas coisas dentro de casa... Uma copa do mundo depois e ele se interessou pelos clubes, aderindo ao Flamengo, time do pai, para meu desespero, pois sou Tricolor.

Durante uma colônia de férias no Forte do Leme, apareceu um pessoal do Flamengo fazendo deomostração da escolinha e, claro, lá estava o José metido no meio. Ao final da colônia eles anunciaram a parceria com o Forte e José foi inscrito para treinar. Saímos todos os sábados às 7 horas da manhã para o treino e, num desses treinos, ele sismou de ir para o gol... Decidiu ser goleiro, para meu desespero, pois mãe de goleiro só perde para mãe de árbitro de futebol.

Levei-o para conhecer os goleiros do Flamengo e do Fluminense. Ainda tinha esperança que ele mudasse de ideia, mas ao contrário, sismou de vez que queria ser goleiro, fazer o quê...

Quando em 2007 nos mudamos para Miguel Pereira não tínhamos opção e ele ficou parado, jogando apenas na escola. Agora em 2009, a bendita escolinha do Flamengo chegou aqui e adivinhem o que aconteceu: ele decidiu voltar a jogar e de novo teimou em ser goleiro. Foi muito bem-recebido pelos treinadores Jailton e Lima que não dão moleza para ele, exigindo atitude e empenho como de qualquer outro jogador, durante 1 hora em duas vezes por semana, onde fazem treinos táticos e jogos-treinos.

Ele não precisou mudar muito seus hábitos, pois ele gosta de alimentação saudável e se preocupa com sua aparência.

Em julho fomos a Curitiba de férias, e um dos programas dele foi conhecer os jogadores do Atlético Paranaense. Foi uma luta! Mas, como mãe é mãe, conseguimos uma autorização para a visita ao Centro de treinamento e ele tirou fotos com Galatto, goleiro do time, além de ganhar uma camisa oficial autografada pelo craque do time Rafael Moura. Ele ficou com 3 metros de altura, todo bobo, sem querer tirar a camisa para nada.

No momento, o maior desejo dele é arrumar uma namorada para beijar na boca, mas isso é uma outra história.

No dia 12 de setembro, eu e o pai dele fomos atrás do ônibus deles para assistirmos à estreia ofocial de nosso goleiro como titular dos fraldinhas na Copa Fla de Futebol.

Quase morri de nervoso ao vê-lo entrar em campo vaiado pelos adversários, mas para nossa suspresa ele nem ligou e jogou sério, fazendo até uma "ponte". Perderam o jogo, mas certamente esse dia ficará na nossa história, pois vimos que ele pode muito e que existem pessoas de mente aberta que acreditam de verdade num mundo igualitário, no qual todos têm vez. Mais que isso: eles trataram meu filho com respeito sem paparicos ou proteção especial. Essa foi nossa 2ª maior conquista desde que mudamos para Miguel Pereira, pois a 1ª foi a acolhida numa escola regular, em que todos gostam muito dele e o tratam de igual para igual. Bola cheia para a inclusão real e verdadeira.

Narli - mãe do José 13 anos (a cada dia mais goleiro).

Avaliação deste Artigo: 5 estrelas