A Semana - Opiniões
Avaliando os Professores
Considerações Necessárias
Inicialmente gostaria de dizer que sou totalmente a favor das avaliações que estão sendo criadas ou já aplicadas para avaliar o trabalho dos professores. Há, certamente, correções de rumo a serem feitas. Existem pontos que merecem uma maior atenção das autoridades e responsáveis por estes processos de avaliação.
Creio, também, que da mesma forma como os professores estão sendo avaliados, cabe também realizar levantamentos de igual natureza quanto ao trabalho das pessoas responsáveis pela gestão das escolas. E isto se aplica tanto a quem está diretamente implicado com isto, ou seja, no dia a dia das unidades educacionais, como os diretores, coordenadores e orientadores, quanto aos demais gestores que ordenam e estruturam as redes a partir das secretarias de educação...
Mas vamos a alguns dados relativos a esta questão, bastante polêmica, divulgados esta semana a partir de pesquisa realizada pela Fundação SM e da Organização dos Estados Ibero-Americanos (OEI). De acordo com este levantamento, realizado com aproximadamente 8 mil professores, 23% dos entrevistados discordam da avaliação do seu trabalho. O índice de aprovação à pesquisa é de 45% e os demais (32%) se disseram indiferentes a estes processos avaliatórios. Entre os professores de escolas privadas foram encontrados os maiores índices de aprovação a estas avaliações (57%). A maior rejeição ficou entre os professores de escolas públicas (25%).
O que podemos inferir deste levantamento? Certamente que a avaliação do trabalho docente ainda incomoda um elevado percentual de profissionais. A proporção verificada através destes dados nos mostra que 1 em cada 4 professores se opõe a estas provas avaliatórias de seu desempenho e atuação profissional.
Isto não parece um tanto quanto contraditório? Afinal de contas uma das prerrogativas do trabalho dos professores é justamente a avaliação de seus alunos...
Avaliar os outros e não se deixar avaliar, por quais motivos especificamente? O que preocupa tais professores que se mostraram contrários à aplicação destas avaliações? Se o trabalho não está atingindo os resultados esperados, o que se verifica a partir de testes nacionais e internacionais aplicados a estudantes brasileiros é mais do que evidente que se torna de fundamental importância um raio-x detalhado da educação brasileira. E isto inclui, por certo, o trabalho dos professores.
Apenas isso não resolveria. E deve ficar claro que o intuito desta ação não pode ser vigiar e punir (para relembrar Michel Foucault). Premiar é uma alternativa que está sendo prevista em alguns destes processos de avaliação do trabalho docente. Os melhores profissionais (o que, de acordo com os sindicatos, atingiria apenas 20% dos professores) teriam aumento salarial ou algum tipo de bônus incorporado aos seus vencimentos regulares. Penso que quanto ao estímulo e a incorporação da meritocracia na educação brasileira, não há mais como voltar atrás, é mais do que o futuro, estabelece-se como parte do presente desde já...
Esses processos avaliatórios devem ser aplicados com o intuito de, entre outras coisas, permitir à sociedade e aos gestores das escolas entenderem, por exemplo:
- Como é o trabalho em sala de aula.
- Que instrumentos os professores usam regularmente.
- Quais as metodologias mais utilizadas.
- Que compreensão os professores têm de educação.
- Quantos e quais são os mais regulares instrumentos de avaliação dos alunos.
- De que forma se estrutura nas salas de aula a relação professor x aluno.
- Qual a formação dos professores brasileiros.
- Que lacunas existem na formação dos professores brasileiros.
- De que modo os professores se relacionam com os pais de seus alunos.
- Quem é o professor brasileiro.
- Como os professores utilizam as tecnologias em sala de aula...
É claro que estas perguntas são apenas uma amostragem e podem, certamente, serem desdobradas em inúmeras outras associadas às temáticas nelas abordadas. De qualquer modo, a identificação do perfil dos professores, das bases de sua formação, dos critérios e meios de trabalho que utiliza em sala de aula, da relação que estabelece com seus pares, do modo como trabalha e se relaciona com os alunos e mesmo a sua compreensão geral de educação – entre outros aspectos – dariam para os gestores e especialistas que realizam a planificação da educação, meios para melhor entender e projetar o futuro.
Não podemos, no entanto, considerar que tal ação, isolada, possa surtir efeitos na educação e lhe permitir melhoria real. Nem tampouco que apenas os professores devam ser avaliados. Repito e reitero que assim como os alunos e, por tabela, as escolas são objeto de avaliação através de provas oficiais organizadas pelo governo federal, estados e municípios, também os professores e os gestores – não podemos nos esquecer deles – precisam passar por semelhante procedimento.
Indo um pouco além, e já respaldado por ações que começam a aparecer nas notícias da educação, também é certo que as universidades e faculdades que realizam a formação dos educadores brasileiros precisam ser avaliadas, ter seus currículos atualizados e/ou reformulados e, em certos casos, devem até mesmo ser descredenciadas pelo MEC. Pois devemos atentar para o fato de que, certamente, o buraco é mais embaixo e, neste quesito, a formação destes profissionais, na graduação, está muito aquém da necessidade da sociedade...
Como dissemos, a compreensão mais ampla nos leva a crer que, além dos processos avaliatórios (de alunos, escolas, professores e gestores), a maior cobrança e participação da sociedade quanto aos rumos da educação é prioritária, a melhoria de condição de trabalho (o que inclui salários, benefícios, segurança, recursos...) dos profissionais da educação é também outro ponto de indispensável atenção, a melhoria da infra-estrutura educacional idem, a revisão dos procedimentos e currículos mais do que indispensável e por aí afora...
Somente com todas estas ações realizadas e articuladas é que será possível pensar e, mais importante ainda, concretizar o sonho da educação de qualidade...
Obs.: Saiba mais sobre o tema no artigo abaixo: Rede pública de ensino começa a avaliar professores