Aprender com as Diferenças
Preconceitos na Contramão da Inclusão Social
Romeu Kazumi Sassaki
Preconceitos inofensivos não existem, todos os preconceitos machucam. Ou “Pimenta nos olhos dos outros é colírio”. De fato, uma palavra maldosa, escrita e oral, ou uma imagem, quando não se refere diretamente a nós, pode até parecer inocente, engraçada, nada preconceituosa etc.
E quase nunca nos damos conta do quanto uma palavra ou imagem
preconceituosa pode machucar os outros. Vejamos alguns exemplos da vida
real.
Atribuindo um conceito que não é da pessoa (1)
“Porque você parece uma retardada mental”. Esta foi a justificativa do diretor Woody Allen quando demitiu a atriz Annabelle Gurwitch da peça Writers´s Block (bloqueio de escritor) que ele ensaiava. Depois de chorar por 12 horas, ela falava a quem encontrasse: “Fui demitida por Woody Allen. Por telefone”. (Sérgio D’Ávila, Revista da Folha-FSP, 20/3/05, p.27)
Atribuindo um conceito que não é da pessoa (2)
Uma resposta inacreditável foi dada por uma escola pública quando um de seus professores foi denunciado por haver comparado a atitude de um aluno com a de uma pessoa homossexual. Vejamos como aconteceu. Em abril de 2004, um aluno da Escola Estadual Professor Otacílio de Carvalho Lopes, que por distração não havia respondido a chamada na aula de História, pediu presença ao professor.
Este discutiu com o estudante e mandou-o que “parasse de imitar uma bicha”. O pai do adolescente, no mesmo dia, registrou o Boletim de Ocorrência e abriu procedimento administrativo contra esse professor, na diretoria da escola.
O caso foi encaminhado à Diretoria de Ensino Leste 4, órgão da Secretaria Estadual de Educação, e originou um processo. Na resposta, o órgão “afirma que ‘bicha’ não é termo chulo e reconhece que professores podem usá-lo em sala de aula para manter um relacionamento amistoso com a turma”.
A Secretaria informa que, depois de uma reavaliação, o caso passou para a 1.ª Comissão Processante Permanente, onde está atualmente (março/2005). A comissão deve convocar testemunhas de defesa e acusação nos próximos meses, para dar seu parecer sobre o caso (Daniel Gonzales e Arthur Guimarães, em “O uso do termo ‘bicha’ por professores”, O Estado de S.Paulo, 24/3/05).
Então, “para manter um relacionamento amistoso com a turma”, os professores estão liberados para chamar qualquer aluno de “bicha”, mesmo que ele não seja? Os fins justificam os meios?
Ofendendo um atributo da pessoa
Ana Luiza, uma estudante negra com 10 anos de idade conta que, por causa das brincadeiras preconceituosas dos colegas, mudou de escola duas vezes. Ela é filha de uma família de classe média de Mesquita (cidade na Baixada Fluminense) e sempre estudou em colégios particulares.
Por onde passou, ela teve de conviver com o fato de ser a única aluna negra da classe ou até mesmo da escola. Como os professores e a escola nada faziam para mudar essa situação, ela diz que chegou a perder o interesse pelos estudos. “Falavam que eu tinha cabelo duro, de bombril.
Eu reclamava com os professores, mas eles não faziam nada”. Ana Luiza dá a sua receita para agir em caso de preconceito: “Quando fazem isso comigo, eu vou lá e falo que racismo é crime e que eu vou processar e reclamar com a diretora”.
A mãe dela, a técnica de laboratório Fátima Monteiro, 35, se sentiu orgulhosa com a postura de Ana Luiza:
“No meu tempo de estudante, eu voltava para a casa chorando, sem dizer nada. Mas ela aprendeu a se defender e conversa comigo e com os professores quando se sente discriminada.” (Folha de S.Paulo, 18/5/03, p. C7)
Para saber mais, acesse o link de "A Bengala Legal": http://bengalalegal.com/contramao.php