Planeta Educação

Cinema na Educação

João Luís de Almeida Machado é consultor em Educação e Inovação, Doutor e Mestre em Educação, historiador, pesquisador e escritor.

Os Elementos dos Filmes
Para aprender a ler a Sétima Arte nas Entrelinhas

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Para efetivar o Cinema na Escola não basta conhecer apenas o enredo e associá-lo aos temas trabalhados pelas disciplinas. A ferramenta é bastante rica quanto às suas possibilidades. A Sétima Arte é multimidiática e, por conta desta característica, demanda atenção dos educadores quanto à totalidade de seus recursos, ou seja, pede olhares atentos não apenas ao conteúdo da trama e aos paralelos que podem ser trabalhados a partir destes relativamente aos conteúdos educacionais.

Neste sentido, para a execução de projetos e ações com Cinema na Escola, é preciso que os educadores estejam atentos a todos os elementos que existem nos filmes e que, de uma forma direta ou indireta, transmitem ideias, geram sensações, trabalham conceitos, promovem envolvimento e que, deste modo, contribuem com a efetivação do processo de ensino-aprendizagem.

Pensando nisto, trazemos neste artigo - e o faremos também em outro texto que complementará esta ação – alguns elementos que compõem as produções cinematográficas e que certamente contribuem para a introdução a saberes ali contidos. Neste texto trazemos os conceitos relativos à Cenografia, Figurinos, Fotografia e Roteiro. Confiram a seguir:

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Cenografia: A Arte de Falar pelos Objetos

Cenografia é a arte, técnica e ciência através da qual são criados, projetados e concebidos cenários que irão compor o pano de fundo de produções teatrais, televisivas e cinematográficas. Através da Cenografia comunicam-se ideias importantes para quem assiste essas produções, pois os elementos de cena ajudam a definir e detalhar aspectos marcantes como a época e o espaço onde acontecem as tramas. Além disso, os objetos e acessórios utilizados para ornar os ambientes em que ocorrem a dramatização auxiliam o ator a compor seu personagem e os espectadores a entenderem melhor as ações dos protagonistas da história. Os cenários são compostos por elementos que vão desde cortinas, tapetes, móveis, eletrodomésticos, janelas ou portas até acessórios de pequeno porte como relógios de parede, cinzeiros, porta-retratos, livros, CDs…

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Os Figurinos e a definição de tempo e espaço nos filmes

Os figurinos são as peças de vestuário que compõem o guarda-roupa de uma produção cinematográfica. Quando nos referimos a essa particularidade de uma produção fílmica estamos falando das roupas, calçados e acessórios selecionados por um profissional especializado, auxiliado por uma equipe de trabalho igualmente conhecedora do assunto que, de acordo com as necessidades e particularidades do roteiro e da direção de arte geral de um filme [e também dentro dos limites dos orçamentos de cada produção] selecionam as peças do vestuário que irão ser usadas nas filmagens.

Através dos figurinos o que se pretende é que o espectador perceba com clareza o tempo, o espaço e até mesmo as condições climáticas [as estações do ano] em que se desenvolve a história apresentada no filme. As roupas também são indicativos marcantes das características dos personagens e podem indicar, por exemplo, timidez, altivez, personalidade, caráter, originalidade…

Quando falamos que os figurinos indicam o tempo, estamos nos referindo ao período histórico em que se passa a trama [passado, presente ou futuro], ao período do ano [estações, meses, festividades, feriados] e ainda ao período dos dias retratados [manhã, tarde, noite ou madrugada]. Os trajes dos personagens também servem para indicar origem social e local onde essas personagens desenvolvem suas atividades, vivem suas vidas [cidade, campo, praia, deserto, zona industrial, zona agrícola].

Há três categorias essenciais de classificação dos figurinos, a saber:

1. Figurinos realistas – Aqueles que tentam retratar de forma totalmente fidedigna uma determinada época, local, realidade histórica [presente, futura, passada].

2. Figurinos para-realistas – São aqueles que se baseiam nos figurinos de época, mas que se permitem adaptações e releituras, inspiradas em outras épocas e períodos, realidades e locais.

3. Figurinos simbólicos – São utilizados quando não há elementos suficientes para definir os padrões de vestuário predominantes numa determinada época ou localidade, situação que abre a possibilidade dos figurinistas criarem de acordo com parâmetros aproximados ou totalmente inovadores.

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Fotografia: A Alma dos Filmes

Filmes são, por natureza, basicamente conjuntos sequenciais de imagens. É claro que a estas imagens são incorporados sons [efeitos sonoros, diálogos, música]. Também é evidente que para a composição das imagens é necessário o trabalho de cenografia, iluminação, figurino, efeitos visuais, computação gráfica, edição… Mas por se tratar do elemento basilar de uma produção fílmica, a fotografia pode ser considerada a alma dos filmes.

Este trabalho compete a um profissional identificado como diretor de fotografia ou, simplesmente, fotógrafo. A realização da fotografia de um filme, no entanto, não é realizada apenas por este especialista, mas por uma equipe composta também por dois assistentes de câmera, um assistente de iluminação, operador de câmera, eletricista e maquinista. É necessário que entre os profissionais exista sintonia, ou seja, que o trabalho de cada um deles seja conhecido pelo outro para que saibam exatamente como se espera que fique a produção ao final. Por este motivo, normalmente estas equipes estão reunidas e trabalham juntas há algum tempo.

Como a fotografia é um elemento definidor da mensagem do filme, o fotógrafo e toda a equipe são parceiros permanentes no processo de produção [e pré-produção também] do filme com o produtor, o diretor e o diretor de arte. Esta parceria define a linha estética do filme no que se refere a todos os seus quesitos, inclusive a fotografia.

Cabe para o exercício da função o pleno conhecimento das técnicas relativas à filmagem e a fotografia, a compreensão da linguagem fotográfica, a informação e know-how quanto às diferentes escolas de fotografia, o domínio dos equipamentos em sua totalidade [e constante atualização quanto as novas tecnologias] e, certamente, altas doses de criatividade. O estudo é, portanto, uma das chaves para o sucesso fotográfico de um filme.

De acordo com o especialista Filipe Salles, o trabalho deste profissional pode ser assim explicado:

“O fotógrafo é o responsável por todo o design da luz do filme, ou seja, ele concebe as características estéticas dos tipos de iluminação para cada plano, bem como eventuais efeitos de filtragem na luz (gelatinas nos refletores ou filtros na câmera), para obter colorações específicas na luz ou mesmo balanceá-las; considera as relações de contraste da luz e do filme e diz qual a exposição correta para cada plano filmado. Participa também ativamente da pós-produção do filme, fazendo o que se chama marcação de luz, ou seja, quando o filme está pronto e será feita a primeira cópia completa, ele vai ao laboratório e marca todos os planos com determinada filtragem, a fim de balancear todas as luzes e cores para que a cópia não saia desigual (isso acontece porque os planos são filmados com situações adversas e diferentes de luz e/ou filmes, e as cópias de cada rolo apresentam diferenças marcantes na luz e na cor). Depois a cópia é projetada, e só é liberada para exibição pública com a aprovação dele.” [Fonte: Mnemocine - http://www.mnemocine.com.br/cinema/odf.htm]

Entre algumas das principais e mais destacadas obras cinematográficas na área de fotografia poderíamos mencionar, por exemplo:

1- Os Duelistas [Inglaterra, 1977. Direção de Ridley Scott, Fotografia de Frank Tidy]
2- Blade Runner [EUA/Hong Kong – 1982. Direção de Ridley Scott,Fotografia de Jordan Cronenweth]
3- Cidade de Deus [Brasil/França, 2002. Direção de Fernando Meirelles e Kátia Lund, Fotografia de César Charlone]
4- Cabaret [EUA, 1972. Direção de Bob Fosse. Fotografia de Geoffrey Unsworth]
5- Ran [Japão, 1985. Direção de Akira Kurosawa. Fotografia de Asakazu Nakai, Takao Saitô e Masaharu Ueda]
6- A Missão [Inglaterra, 1986. Direção de Roland Joffé. Fotografia de Chris Menges]
7- Dick Tracy [EUA, 1989. Direção de Warren Beatty. Fotografia de Vittorio Storaro]
8- A Lista de Schindler [EUA, 1993. Direção de Steven Spielberg. Fotografia de Janusz Kaminski]
9- Forrest Gump [EUA, 1994. Direção de Robert Zemeckis. Fotografia de Don Burgess]
10- A Doce Vida [Itália, 1960. Direção de Federico Fellini. Fotografia de Otello Martelli]
11- O Touro Indomável [EUA, 1981. Direção de Martin Scorsese. Fotografia de Michael Chapman]
12- Abril Despedaçado [Brasil, 2001. Direção de Walter Salles. Fotografia de Walter Carvalho]

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Roteiro: Os Filmes no Papel

Roteiros constituem os materiais escritos que servem como base para a produção de materiais audiovisuais de caráter artístico, informativo, científico e/ou cultural. Os profissionais responsáveis pela elaboração dos roteiros são conhecidos como roteiristas e podem ser tanto ficcionistas quanto especialistas quando a produção for, por exemplo, um documentário que foca num determinado tema da ciência ou da história.

O trabalho dos roteiristas compreende uma clara descrição das cenas que serão visualizadas nas telas do cinema e da televisão ou em espetáculos teatrais. Através do roteiro se define a sequência da história, os diálogos dos personagens envolvidos, a narrativa em off [quando necessária], detalhes das locações em que as produções serão ou deverão ser filmadas e, de certa forma, até mesmo características dos personagens [não como uma obrigatoriedade; na maior parte das vezes, subentendidas essas qualificações a partir de dados relativos a ação dos personagens nas histórias].

Em produções cinematográficas os filmes são divididos em cenas; por seu lado, no teatro, os roteiros dividem as realizações por atos. No que tange a produção fílmica, os roteiros apresentam também caracterização técnica, pois indicam para a equipe [os profissionais que atuam atrás das câmeras] quesitos como onde devem ficar posicionadas as câmeras, a iluminação de cena, quais devem ser os efeitos audiovisuais e, até mesmo, quais e quando devem ocorrer os cortes – esses documentos são aqueles que ficam nas mãos do diretor e de sua equipe técnica de trabalho sendo, portanto, diferentes dos scripts que chegam às mãos dos atores [que não têm que se preocupar com essas questões].

Não é correto para um roteirista incluir informações indicativas das emoções dos protagonistas das cenas descritas, pois o roteiro tem como objetivo primordial apenas a descrição objetiva daquilo que irá ser visto após as filmagens. Cabe ao elenco que irá dar vida aos personagens, através da interpretação, conceber a dramaticidade ou comicidade das cenas. Assim como é competência da equipe técnica criar as condições de apoio geral que irão dar às cenas a roupagem que cada uma delas deve ter quanto a luzes, efeitos sonoros, música de fundo [trilha musical], efeitos visuais…

Os especialistas na produção de roteiros definem como fundamentos para um bom roteiro a existência de três eixos fundamentais: A definição dos personagens [que deve ocorrer ao longo da introdução e primeiros 20 a 40 minutos da trama], sucedido por um ponto de virada [um acontecimento que muda o rumo da história, altera a normalidade] que direciona a ação para os principais elementos estruturais [que norteiam a história e definem o enredo] e, finalmente, há o desfecho, quando as questões em foco são resolvidas e finaliza-se o filme.

Avaliação deste Artigo: 2 estrelas