Carpe Diem
“Maluco Beleza”
Misturando lucidez e maluquez...
Enquanto você
Se esforça pra ser
Um sujeito normal
E fazer tudo igual...Eu do meu lado
Aprendendo a ser louco
Maluco total
Na loucura real...Controlando
A minha maluquez
Misturada
Com minha lucidez...Vou ficar
Ficar com certeza
Maluco beleza...Raul Seixas
(Cantor e Compositor Brasileiro)Os limites entre a lucidez e a insanidade, de tão tênues, passam despercebidos pela maioria das pessoas. E, mais do que isto, no mundo em que hoje vivemos, de ritmo tão alucinado e frenético, cruzar as linhas que delimitam aquilo que é considerado são para o que chamamos de loucura torna-se tão frequente que a percepção da sanidade e da insanidade foi ficando cada vez mais difícil...
Afinal de contas, quem é louco e quem é lúcido?
Lúcido é o sujeito que vive dentro daquilo que chamamos de normalidade podem dizer muitos. Mas a que normalidade se referem? Aquela que nos leva de casa ao trabalho e do trabalho para casa, num movimento sem fim em que fazemos tudo igual, com pouca ou nenhuma alteração de nossos cotidianos?
Lúcido é quem paga contas, pratica esportes, corta cabelo, escova os dentes, faz compras, muda de emprego, confere o saldo bancário ou vai ao cinema? Normal pode ser considerado o sujeito que ama a vida e não se submete a estereótipos, mantém sua originalidade, dá passos firmes em direção a trajetórias que escolheu por conta própria e que o fazem sentir real prazer em estar vivo, respirando, pensando...
E o louco? Quem é? Pode ser o Chico Picadinho, que corta em pedaços suas vítimas ou o Maníaco do Parque, para citar os casos mais notórios de insanidade, pensam tantos outros. A loucura estaria então nos atos impróprios e, principalmente, violentos...
Mas, e os loucos que oferecem flores e se isolam do mundo por opção, pois não se sentem incluídos? Sua reação, não violenta, não agressiva, denota loucura pela busca de um espaço onde se sintam melhor, onde se percebam dentro... Que tanto há de loucura nisto? E quais são os locais onde se refugiam? Dentro de si mesmos? No meio do mato? Na química que os isola e os aniquila?
Raul estava certo quando dizia que “controlamos” a nossa maluquez e a misturamos a uma esperada “lucidez”... Trazia a tona a lógica tão apropriada e adequada a este milênio, aquela do ditado popular que diz termos um pouco “de médico e de louco”, todos nós...
Mesmo os mais lúcidos já transgrediram e precisam disto como necessitam do ar que respiram... Ainda que diagnosticados como insanos, há muito mais lucidez por trás dos atos de muitos loucos do que imaginamos e jamais nos daremos conta disso, pois não queremos ouvir o que dizem, entender o que pensam, nos dispor ao diálogo com eles...
O certo é que, na vida, não há certos definitivos, assim como, por conseguinte, não é possível definir e estabelecer de forma igualmente definitiva, quem são os loucos e os lúcidos entre nós...