A Semana - Opiniões
27/10/2003 - Pobres Crianças...
Falta comida, escola, saúde, informação,...
A fome é um dos
maiores flagelos mundiais. As crianças
são suas maiores vítimas.
Apesar do trabalho de várias Organizações
Não Governamentais e do esforço
do próprio
Governo do Brasil, ainda estamos longe de garantir
a todas as crianças esse direito essencial.
Estudo da Unicef define que mais de 50% das crianças que vivem em países pobres passam por dificuldades crônicas em pelo menos um entre sete itens utilizados para estipular o que seria uma condição digna de vida.
- Em pesquisa divulgada na semana passada, realizada em 48 países, inclusive o Brasil, verificou-se que a qualidade da habitação, do saneamento básico, da água, da educação, do acesso a informação, da saúde e da alimentação de aproximadamente 56% das crianças está abaixo dos índices considerados mínimos pelas entidades internacionais.
- Quando falamos em mínimo em termos de habitação, podemos imaginar que essas crianças vivem em favelas ou cortiços, amontoados em pequenos cômodos, sem luz elétrica ou água encanada, ao lado de lixões ou com o esgoto correndo a céu aberto. É um retrato que não está somente do outro lado do mundo, na Índia ou no Paquistão, nem tampouco em miseráveis países africanos como a Somália ou a Etiópia, encontra-se diante de nossos narizes, nas esquinas das grandes cidades, nos faróis, nos viadutos e na crescente marginalidade...
- Quando pensamos em mínimo em termos de saneamento básico, temos que necessariamente refletir acerca de nossos rios poluídos pelo excesso de dejetos e lixo proveniente de casas e indústrias; lembramos também dos depósitos de lixo lotados onde centenas de pessoas passam o dia a revirar as pilhas de material orgânico e inorgânico em busca de resíduos que ainda possam ser consumidos ou sucata a ser vendida; imaginamos o quanto faz falta um programa de conscientização e educação em nosso país a favor da limpeza das vias públicas, o simples “jogar lixo no lixo” que poderia economizar dinheiro público ao evitar que as bocas de lobo fiquem entupidas e causem enchentes, perdas materiais, leptospirose,...
Em vários municípios do Brasil
há crianças trabalhando
diariamente
em lixões.
Convivem com a sujeira, ratos, insetos
e com
a possibilidade de adquirir doenças.
Além disso, estão fora da
sala
de aula, distantes de um futuro melhor.
- Quando refletimos a respeito da água e lembramos que o Brasil, um dos países que mais possui água doce e potável do mundo tem passado por imensas dificuldades ultimamente pelo gasto desmedido desse recurso o que pode nos comprometer futuramente, pedimos e rogamos as autoridades e a sociedade civil que se organize e planeje alternativas que estipulem o consumo racionalizado da água, não apenas em períodos de estiagem ou de crise mais prolongada, mas também ao longo de todo o tempo, mesmo no de fartura. Isso começa necessariamente na escola, com nossas crianças, com os professores ensinando-lhes que é necessário fechar as torneiras ao escovar os dentes ou que é fundamental que tomemos banhos mais curtos...
- Quando visualizamos a educação, percebemos que o caminho para a escola tem se tornado um pouco menos tortuoso no Brasil. Ainda há crianças que não freqüentam nossas escolas por problemas como falta de vagas, pobreza que as obriga a trabalhar para ajudar a sustentar a família ou evasão provocada por desinteresse. Sabemos que os programas sociais que associam educação e alimentação são importantes e fazem com que as famílias mais carentes coloquem seus filhos nas escolas. Contabilizamos expressivos ganhos com os programas de auxílio econômico dados pelo governo, como o Bolsa-Escola, para as famílias que mantém seus filhos matriculados na rede pública de ensino. Temos que mobilizar a sociedade e o governo para que todo esse trabalho reverta também, numa educação de maior qualidade, com recursos básicos (como livros, cadernos, lápis, canetas,...) sendo de mais fácil acesso aos estudantes, assim como uma educação adequada aos novos tempos, com aulas que integrem conteúdos e informática, matemática ou história a internet...
A realidade e a ficção se confundem
em filmes como “Cidade de Deus”.
Marco da cinematografia nacional, o filme reacendeu
a polêmica quanto
a vida na periferia e nas favelas, a falta de
saneamento e de segurança,
o tráfico de drogas e a violência urbana que afligem nossas crianças
diariamente.
- Quando lembramos do acesso a informação, diga-se de passagem, percebemos que falta dar a nossas crianças maiores possibilidades de ler jornais e revistas, assistir filmes nos cinemas ou em vídeo, se encantar com a literatura ou aprender muito com os livros técnicos, conhecer as artes plásticas ou o circo... Programações que envolvam nossos alunos com atividades culturais como as citadas enriquecem muito a visão de mundo desse público. Permitem que escrevam melhor, leiam mais e saibam se comunicar de forma mais adequada, questionem o mundo em que vivem, proponham idéias para ajudar a melhorar,...
- Quando vemos imagens que remontam ao flagelo da fome, temos que nos emocionar e nos envolver mais. Deixar de lado a acomodação e a insensibilidade, parar de reclamar do governo, se engajar em projetos de cunho social e conclamar nossos vizinhos e amigos a fazer o mesmo, ainda que isso represente apenas a doação de um pouco de arroz ou de uma lata de óleo. Pode parecer pouco, e realmente é para nós que vivemos dentro de uma realidade mais confortável, mas para as pessoas que recebem o auxílio, especialmente para as crianças, esse auxílio pode representar saúde, crescimento, melhoria de rendimento escolar, perspectivas futuras menos sombrias e desanimadoras...
- Quando desejamos saúde, pensamos em hospitais bem equipados, médicos preparados, equipes de enfermeiros, seguro-saúde, ambulâncias e remédios? Como parte de um tratamento para solucionar problemas anteriormente surgidos, acredito que sim. Precisamos de recursos humanos e materiais adequados e isso nos faz imensa falta no Brasil. São comuns as filas e o descaso de autoridades e mesmo de profissionais da saúde. Os remédios ainda são caros (apesar dos genéricos, que facilitaram um pouco as coisas) e o sistema público de saúde está em colapso, faltam verbas, equipamentos sofisticados e até gaze e algodão em muitos lugares. Além disso, teríamos que trabalhar arduamente para fazer com que as pessoas prevenissem as doenças com medidas simples como mudança de hábitos alimentares, exercícios regulares ou, simplesmente, lavando as mãos antes das refeições...
- Alimentar com
regularidade e variedade, dar escola de qualidade,
garantir um teto seguro, fornecer água
limpa, evitar o contato com lixo ou esgotos
correndo a céu aberto,
informar sobre o mundo em que vivemos. Parece
tão básico. É um pouco
daquilo que desejamos para nossos filhos ou
sobrinhos. A repercussão final de tudo
isso é, tão somente, saúde,
prosperidade, felicidade...
Obs.:
Quando pensamos nos dados revelados pela
pesquisa da Unicef e os confrontamos com
as informações apresentadas recentemente
que nos colocam como um dos países onde
há maior desigualdade na distribuição
de renda começamos a entender as raízes
de nossos problemas sociais.