Diário de Classe
Aprendendo Inglês com os Beatles
Que tal um “Help” de John, Paul, George e Ringo?
John, Paul, George e Ringo. Quatro jovens de Liverpool, Inglaterra. Viraram o mundo, literalmente, de cabeça para baixo com suas músicas. Criaram composições que se tornaram célebres pelo mundo afora, burlando fronteiras físicas e mentais. Fenômeno de marketing? É certo que contaram com o apoio dos meios de comunicação de massa, em especial, as rádios que a todo o momento tocavam suas canções... Mas, certamente, foi a qualidade de seu trabalho que permitiu que se tornassem o grupo musical mais conhecido e reverenciado de todos os tempos...
Os anos 1960 ajudaram muito. O contexto era favorável. A juventude estava em polvorosa. A contestação no ar e a busca de espaços próprios e de afirmação da identidade geraram possibilidades ímpares para que novas forças ascendessem no panorama cultural, político e social. Até os anos 1950 prevaleciam os valores mais tradicionais, aqueles em que a família vem em primeiro lugar, sempre sob a batuta do pai, o provedor, e da mãe, a responsável pelo lar.
O que promoveu tantas mudanças? Muitas coisas, mas certamente o advento de novas possibilidades de comunicação entre as pessoas, com a expansão do raio de ação da rádio, a popularização da TV e a influência do cinema e das mídias escritas, com novos lançamentos nas bancas e o surgimento de autores que contestavam a ordem vigente, mexeu com o inconsciente coletivo.
Deixamos de ser apenas aldeias locais ou regionais. As pessoas passaram a circular mais. Por força da expansão dos negócios que levavam mais trabalhadores a outras cidades, estados ou países ou, ainda, pelo inconformismo que fazia com que os jovens se sentissem compelidos a expandir suas fronteiras, ir além dos limites das vidas que tinham até então.
As guerras em diferentes regiões do planeta e o acesso a dados e fatos de outras realidades aumentou a sensibilidade dos homens quanto à necessidade de viver de outras formas, valorizando mais cada momento, experimentando novas sensações, reconhecendo e identificando o mundo e a si mesmos... Por isso, na década de 1960 explodem movimentos de contestação política, cultural e social que desembocam na Primavera de Praga, nos movimentos estudantis liderados por Daniel Cohn-Bendit em maio de 1968 na França, em Woodstock, no Flower Power e na aclamação de músicos que até então seriam considerados apenas underground, como Janis Joplin, Jimmi Hendrix, The Doors, Rolling Stones...
Os Beatles constituíram e ajudaram a dar vida a uma época de contestação como poucas anteriormente vistas pela humanidade. Criaram moda, estabeleceram padrões e modificaram a forma como as pessoas pensavam com suas músicas. Suas letras encantam e seduzem pela riqueza e simplicidade, pela força das mensagens e pela simetria/poesia. Se não foram, aparentemente, os mais radicais expoentes do movimento Sexo, Drogas e Rock and Roll, tornaram-se, por outro lado, os ícones maiores por conta da influência que legaram com suas canções.
E por que não utilizar toda esta riqueza musical, lírica e as fortes e sedutoras mensagens das músicas dos Beatles nas aulas de inglês? Para tanto, seguem algumas sugestões que creio serem bastante interessantes para concretizar ações de tal natureza na escola, a saber:
- Para iniciar tal trabalho, seria de grande importância vincular às aulas as ações de outros professores, como aqueles que trabalham com artes, história, geografia, sociologia, filosofia e literatura. Esta associação permitiria que, ao mesmo tempo em que são trabalhadas as aulas de inglês com as letras dos Beatles, seja dado um background para os estudantes acerca das origens do conjunto, sua influência, a compreensão das mensagens que compõem o acervo musical, sua musicalidade, as releituras do trabalho do grupo feitas por outros artistas em diversos países...
- A ação inicial não tiraria do professor de inglês o compromisso de reforçar e ressaltar as ideias trabalhadas por seus colegas de trabalho, o que, pessoalmente, considero indispensável até mesmo para que os alunos percebam o impacto dos Beatles, a partir de diferentes depoimentos e interpretações.
- As aulas com as músicas dos Beatles devem ser sempre acompanhadas de música ao fundo. As composições, a partir das gravações do próprio quarteto ou mesmo de outros intérpretes devem compor o ambiente, dando vazão à possibilidade de “escutar” e se “sensibilizar” com as letras ao mesmo tempo em que se “familiarizam” com a língua inglesa.
- Mostras de filmes com produções sobre os Beatles e também com as películas protagonizadas por eles reforçam o trabalho e permitem que os alunos se aproximem mais do tema e também da língua inglesa. Neste sentido, vale sempre resgatar os filmes “Os Reis do Iê-Iê-Iê” (A hard day’s night, de 1964) e “Submarino Amarelo” (The Yellow Submarine, de 1968) ou ainda trabalhar com o fantástico filme “Across the Universe” (2008), totalmente inspirado na obra dos Beatles, é mais do que recomendado.
- Selecionar, entre as músicas do conjunto, materiais apropriados ao nível dos alunos com os quais estamos trabalhando é outra tarefa primordial. Há ricos materiais para diferentes níveis de conhecimento a serem descobertos e aplicados. É possível estruturar o trabalho tanto para alunos do 6º ano do fundamental quanto para turmas do Ensino Médio, EJA ou mesmo universidade.
Certamente é possível pensar em várias outras possibilidades, inclusive sempre pensando em integrar o trabalho com outros profissionais e disciplinas. Penso que, por exemplo, se entre os alunos tivermos alguns que tocam instrumentos musicais, seria interessante aproveitar estes dotes para criar conjuntos nas salas que toquem as músicas dos Beatles. Outra possibilidade seria pedir produções em PowerPoint, MovieMaker ou mesmo textos que possam ser disponibilizados na web...
De qualquer forma, o mais importante é que os estudantes embarquem no “Yellow Submarine”, viagem “Across the Universe”, entendam o sentido oculto de “Lucy in the Sky with Diamonds”, que o trabalho frutifique “here, there and everywhere”, gerando “Strawberry Fields”, começando “Yesterday” e com todo “Help!” possível...