Planeta Educação

Cinema na Educação

João Luís de Almeida Machado é consultor em Educação e Inovação, Doutor e Mestre em Educação, historiador, pesquisador e escritor.

Meus Amigos Chineses
Porta Curtas Petrobras - Direção de Sérgio Sbragia

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Futebol e selos. Estas paixões foram cultivadas por desigual número de crianças, adolescentes, jovens e mesmo adultos por muitos anos no Brasil das décadas de 1960 e 1970. Mesmo eu e minhas irmãs embarcamos também na onda da filatelia. Somente eu, por outro lado, aderi ao futebol e acompanhei, ainda menino, emoções como a invasão do Maracanã pela fiel torcida ou o fim da longa estiagem de títulos (23 anos), com a conquista do Paulista de 1977.

A realidade brasileira, no entanto, sempre privilegiou muito mais a paixão pelo futebol. As coleções de selos, por sua vez, apesar de alguma popularidade naquelas décadas, estavam restritas a grupos muito menores de entusiastas. Minha casa era, portanto, exceção à regra, já que enquanto três pessoas participavam daquele movimento filatelista, apenas um estava realmente devotado às artes futebolísticas.

Mas que criança hoje sabe ao certo o que é a filatelia ou para que servem as coleções de selos? Em época como a nossa, em que prevalecem as tecnologias e, entre elas, os meios de comunicação via internet, para que precisamos de selos? Isso certamente parece ser coisa de museu ou ainda pré-história aos olhos de tantas crianças e adolescentes de hoje.

Com as coleções de selos viajávamos, literalmente, pelos quatro cantos do mundo e estávamos compondo nada mais, nada menos que um álbum de figurinhas. Não daqueles que têm fim, tema específico e que, depois de alguma onda ou modismo se esgota e perde a graça. Era um álbum para sempre, se não se esvaísse no meio do caminho o nosso interesse e disposição em mantê-lo e atualizá-lo, buscando novas aquisições nacionais ou internacionais, recentes ou passadas (como o tão sonhado e raro “olho de boi”).

Infelizmente, filatelia virou assunto de gente mais velha, de círculos cada vez mais restritos e, também, de museus e exposições itinerantes... A “moçada” embarcou em outras ondas e acabou esquecendo ou mesmo não conhecendo esse “barato” daqueles tempos, afinal de contas, conseguir novas aquisições, organizar os álbuns e depois mostrar para os colegas que também curtiam esta mania era muito legal...

O curta “Meus Amigos Chineses”, do diretor Sérgio Sbragia, baseado em fatos reais, conta a história de um grupo de garotos cujas paixões eram justamente o futebol e a filatelia. Tudo acontecendo no fatídico ano de 1964, pouco tempo antes do Golpe Militar que estabeleceu a ditadura no país. Um dos meninos descobre, por acaso, que em seu prédio, no Rio de Janeiro, viviam alguns chineses e que, estes homens recebiam muitas cartas, com selos diferentes aos quais ninguém mais teria acesso...

O problema é que, ao mesmo tempo em que ele consegue consolidar amizade com os orientais e aumentar a sua coleção de selos com a colaboração deles, ocorre o golpe em 1º de Abril (31 de Março, de acordo com os militares e a visão oficial do movimento “revolucionário”) e seus amigos, provenientes de um país comunista, do chamado perigo vermelho, irão pagar por suas pretensas bases ideológicas...

De forma bastante suave, contrabalançada por imagens e fotos que nos fazem perceber os fatos políticos da época, “Meus Amigos Chineses” nos faz voltar no tempo, para recordar tanto a riqueza da infância de outrora quanto os acontecimentos que levaram o Brasil a viver um longo e rigoroso “inverno” em sua história...

Por João Luís de Almeida Machado que, ainda garoto, fez também coleções de selos (em parceria com suas irmãs Cláudia e Flávia) e torceu como ninguém pelo seu amado Corinthians...

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