Universo Escolar
Por que os jovens caem nas drogas?
Temos de fazer alguma coisa...
FOLHA - Como os jovens que vocês encontram nos debates encaram as drogas?
JOÃO - Sinto que eles estão precisando conversar. Muitos vêm falar comigo depois dos debates, contam que já fumaram, que já beberam.
SELTON - Te pegam num canto?
JOÃO – Direto, direto. Acontece com eles a mesma coisa que aconteceu comigo no passado: não foi por causa de problemas familiares que eu fumei maconha. Foi porque a galera na rua tava naquela aventura de liberdade, de experimentação. Eu experimentei morrendo de medo. Apavorado. Mas é essa coisa do grupo, que começa a tomar ecstasy, a fumar maconha, e rola uma certa pressão. Então, eu sinto que muitos muitos jovens estão sofrendo essa pressão. E estão com medo de entrar numa história que é uma roubada mesmo, né? E eu aconselho a não experimentar porque você pode ter propensão a um problema maior.
FOLHA - Problemas familiares influíram na sua adesão às drogas?
JOÃO - Quando eu comecei, a minha família estava ótima, excelente. Se quiser uma resposta na lata, é essa: eu queria liberdade e aventura. Essa é a resposta, na mosca.
(Liberdade e Aventura, reportagem de Mônica Bérgamo, para a Folha de São Paulo, 02 de dezembro de 2007).
No ano de 2007 a Fundação Getúlio Vargas (FGV) divulgou pesquisa em que afirmava o que muitas pessoas esclarecidas dizem saber há bastante tempo, ou seja, que o tráfico de drogas existe em função dos consumidores das classes mais abastadas, que sustentam todo o esquema e garantem os lucros dos grandes e pequenos traficantes. O estudo tinha o sugestivo nome de "Droga de Elite", em alusão ao filme de José Padilha, "Tropa de Elite", que também destacou muito o decisivo papel dos consumidores das classes A e B como sustentáculo do submundo das drogas.
A reportagem de Mônica Bérgamo, produzida em função do lançamento do filme “Meu Nome não é Johnny”, estrelado por Selton Mello, baseado na vida do viciado em cocaína e traficante João Guilherme Estrela (que virou livro nas mãos de Guilherme Fiúza), torna-se então mais relevante por nos colocar em contato com uma pessoa de classe média alta que foi ao fundo do poço - sendo preso várias vezes e internado até mesmo em manicômios - e que conseguiu voltar para contar um pouco de seu drama...
E o que destaco nessa postagem são dois pontos dessa reportagem, a saber:
1. A colocação de João Estrela em que destaca, como seu motivo para o uso das drogas, a pressão por parte dos grupos e colegas com os quais andava e como isso ainda é uma realidade percebida por ele e por Selton Mello nos debates em universidades e escolas pelas quais estão passando para divulgar a produção.
2. A firmeza com que João Estrela diz a todos que sua família não teve qualquer responsabilidade pela sua entrada no mundo das drogas e que, pelo contrário, a situação de seus familiares à época era muito boa. O que ele queria era corresponder às pressões do grupo e à ansiedade da juventude por "liberdade e aventura"...
Sempre fui "careta" (graças a Deus!). Vivi minha adolescência e juventude numa pequena cidade do interior paulista, na qual a droga era facilmente comprada em qualquer esquina ou barzinho. Como era atleta jamais me permiti essa agressão (devo muito ao esporte que pratiquei, a natação - recomendo essa atividade física ou o ingresso em projetos culturais e sociais como alternativas ao ócio que conduz à droga).
Vi muitas pessoas jovens com as quais tive contato ou convivi por pouco tempo (na escola, nas ruas, nos clubes) e que não faziam parte do meu círculo de amizades (formado por pessoas que, como eu, não fumavam e tampouco usavam ou se interessavam por maconha, cocaína e afins...) se deteriorarem e morrerem.
Com poucos anos de existência, muitas dessas pessoas sucumbiram por overdose, vitimados por traficantes para os quais não pagaram suas dívidas ou, posteriormente, por doenças como a Aids... Concordo com o depoimento dado por João Estrela à colunista da folha, Mônica Bérgamo, ou seja, na maior parte dos casos a pressão dos grupos é o que levaram muitas das pessoas que vi morrerem ao entrarem nas drogas...
Eximir as famílias de responsabilidades quanto a situações como essas, procede então? Creio que os pais, na maior parte dos casos, querem e trabalham pelo melhor para seus filhos, mas penso também que se estabeleceu uma cultura de liberalidade e consumismo em função do ritmo louco de vida em que vivemos (todos em busca de dinheiro, trabalhando alucinadamente para comprar, comprar e comprar) que afastou pais e filhos e que levou muitas crianças e jovens a buscarem refúgios paralelos... Isso ainda não acabou... Temos de fazer alguma coisa...