Planeta Educação

A Semana - Opiniões

João Luís de Almeida Machado é consultor em Educação e Inovação, Doutor e Mestre em Educação, historiador, pesquisador e escritor.

6/10/2003 - Ontem e Hoje
Um Retrato do Brasil no século XX

Palavras-sendo-trocadas

Na semana passada o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) divulgou um importantíssimo documento intitulado “Estatísticas do Século XX”. Pelos dados disponibilizados nesse trabalho podemos verificar mudanças notáveis em diversos segmentos da realidade nacional:- da educação a renda nacional, da quantidade de hospitais que existem no país a participação das mulheres no contingente populacional brasileiro, da quantidade de museus existentes no país a porcentagem de lares que tem acesso à luz elétrica ou água encanada. O que faremos a seguir é desenvolver uma reflexão a respeito de alguns desses dados para que possamos entender o ontem e o hoje de nosso país.

- Se a expectativa de vida de nosso país fosse a mesma de 1900, equivalente há 33 anos em média, o escriba que lhes remete essas linhas não poderia estar dividindo idéias, informações e abrindo um canal de comunicação via internet com vocês. Já teria sido enterrado há alguns anos. Felizmente, para todos nós, a média nacional subiu para 68 anos. Por esse dado percebemos que nossas linhas do tempo mais do que dobraram. Sobra mais tempo para se divertir, estudar, desfrutar da companhia dos amigos, trabalhar, praticar esportes, ler, assistir filmes,...

Moedas-douradas

- Segundo os cálculos médios de nossos pesquisadores nossa economia cresceu o equivalente a 100 vezes. Passamos de um PIB (Produto Interno Bruto) de 9 bilhões de reais em 1901 para uma economia que atinge hoje a casa dos trilhões, para ser mais exato, 1 trilhão de reais anuais. Infelizmente só aprendemos a “fazer” mais dinheiro (nos serviços, na indústria, na agro-pecuária e no comércio) e não conseguimos nos sair bem nas lições quanto a dividir melhor a renda nacional. Tanto é verdade que à distância que separa a renda dos ricos e dos pobres cresceu de 34 vezes em 1960 para 47 vezes em 2001.

- A “fome” do governo por novos recursos ao longo do último século só fez aumentar. Suas despesas subiram de um expressivo montante de 10% do PIB em 1900 para astronômicos 36% em 2001. Para compensar essa necessidade crescente de recursos, nossa carga tributária passou de 10% em 1900 para 33% em 2001. Passamos a produzir muito mais e a pagar taxas e impostos em patamares incompatíveis com a média mundial (muito superiores). E o pior de tudo é constatar que a utilização dessa arrecadação não tornou a vida do brasileiro mais justa, mais harmoniosa. As filas continuam nos hospitais, as escolas ainda apresentam sérias mazelas a resolver, os transportes se mostram insuficientes para atender toda a demanda, sofremos com a crise energética e com a falta de água,...

Produtos-da-agropecuaria

- Vemos a agro-pecuária bater recordes mundiais de produtividade e a população se tornando cada vez mais urbana (a população das cidades em 1940 equivalia a 31% do total nacional e, atualmente, 81% dos brasileiros estão vivendo em cidades). Esse assombroso crescimento das cidades tem ocasionado o surgimento de bolsões de pobreza em áreas de risco e inviabilizado o planejamento racionalizado que permitiria evitar problemas de saneamento, saúde, educação, lazer, transportes e habitação que deixam nossos administradores públicos de cabelo em pé!

- Apesar dos ganhos de produtividade e rendimento da agricultura nacional, a participação da agropecuária na economia nacional baixou de 45% em 1900 para 11% em 2000. Nos tornamos mais diversificados quanto aos produtos que oferecemos no mercado internacional. Além do Café e da Soja, dos frangos ou da carne bovina, exportamos aviões, programas de computador, automóveis, tecidos, calçados, suco de laranja,...

- Melhoramos de forma excepcional os índices de municípios que dispõem de luz elétrica e água encanada (no primeiro quesito atingimos 100% e no segundo, 90%). Tivemos um crescimento expressivo também no que se refere a cidades que disponham de uma eficiente rede de esgoto (passamos de 14% em 1960 para 47% em 2000). Insuficiente esse último dado para evitar que epidemias (de dengue, febre amarela ou malária, por exemplo) continuem infernizando a vida de nossos habitantes, especialmente dos idosos e das crianças.

- Nem mesmo o grande crescimento na quantidade de hospitais (passamos de 296 hospitais em 1908 para 48.800 no ano 2000, um aumento equivalente a 164 vezes) tem sido capaz de aplacar as enfermidades que regularmente acometem os brasileiros. O ideal seria que tivéssemos investimentos maciços em saneamento básico (esgoto e limpeza pública) para que as filas nos postos de saúdes, santas casas e hospitais públicos pudessem diminuir ao invés de aumentar...

Museu-de-Petropolis
Museu de Petrópolis

- Aumentou a quantidade de museus (passamos de 100 em 1934 para 1300 em 1988). Na direção contrária, porém estão os cinemas, que diminuíram de quantidade e restringiram-se especialmente as cidades maiores e as áreas nobres, particularmente aos shoppings centers. O ideal seria que pudéssemos saber se o aumento no número de museus significou crescimento expressivo na quantidade de pessoas que os visitam e se os acervos são mantidos e atualizados constantemente.

- Como você já deve ter percebido, deixei para o fim os dados referentes à educação. Todos bastante expressivos e positivos. Deixamos de ter uma população em que quase 2/3 dos habitantes eram analfabetos (65% dos brasileiros em 1900 não sabiam ler, escrever ou fazer cálculos simples) e passamos a ter um índice de 13,6% no ano 2000 (o equivalente a 1/8 dos brasileiros).

- De 1933 para cá a quantidade de crianças matriculadas e efetivamente cursando o Ensino Fundamental passou de 2 milhões para 36 milhões de crianças. Multiplicamos os nossos efetivos em 18 vezes num prazo de 70 anos!

- Tínhamos apenas 108 mil alunos matriculados no Ensino Médio em 1933. Em 1998 chegamos a um patamar superior a 6 milhões de alunos nesse nível de ensino.

- Nos aproximamos de 2 milhões de estudantes universitários. Em 1933 eram apenas 23 mil!

- Apesar disso, não custa lembrar que a qualidade de nossas escolas ainda está muito distante daquela que esperamos e sonhamos. Ela ainda está distante da realidade, tem dificuldades para incorporar novas tecnologias e metodologias, é conservadora e não fala (muitas vezes), a língua dos alunos e das comunidades que serve.

Obs. Na semana passada comemorou-se o aniversário de 50 anos de surgimento da mais importante empresa brasileira, a Petrobrás. Os meios de comunicação deram grande importância ao fato (com toda a razão). Voltaremos a falar sobre esse importante acontecimento.

Links

- http://www.ibge.gov.br
- http://www.terra.com.br/istoe
- http://www1.folha.uol.com.br/folha/arquivos (assinantes)

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