Assaltaram a Gramática
Música na Sala de Aula
Uma Chance de Trabalho
Fazer com que jovens alunos se interessem pela leitura é um desafio muito grande para pais e professores. Há diversas tentativas para diminuir a distância entre a leitura e o aluno, muita delas inegavelmente eficazes.
Uma
possibilidade de integrar alunos e leitura escrita é a
apresentação de uma nova perspectiva sobre aquilo
que não é novo para eles, ou seja, uma nova
visão sobre materiais que eles tenham alguma
particularidade. A música é uma boa
opção para tal objetivo.
Levar letras de músicas de diversos gêneros para a
sala de aula é algo que atenua significativamente a
aversão ao mundo da leitura escrita por parte de nosso
alunado, uma vez que a resistência a assistir a uma aula de
língua portuguesa, por exemplo, fica um pouco esquecida ante
a um material que eles tenham alguma familiaridade.
Digo familiaridade porque desde o nosso nascimento somos expostos ao mundo da música. Algumas mães cantam para seus filhos ainda em processo de gestação e, ao nascer, a criança convive com inúmeros gêneros musicais e, por isso, o professor ao apresentar uma letra de música na sala, tem grandes chances de atrair a atenção de seus alunos.
Uma vez com a atenção de seus alunos voltadas para ele, conseguirá induzir o despertar de diversas competências que nossos jovens já têm ou ainda terão. Dentre estas competências, a interpretação da vida cotidiana, dos hábitos das pessoas, do vocabulário usado em diferentes épocas, entre tantas outras possibilidades.
Não é preciso ser apenas músicas consideradas modernas, inúmeros títulos musicais de outras gerações podem ser transformados em materiais de trabalho para o professor. A apreciação de um estilo mais que outro pode se transformar também num delicioso bate-papo estreitando o relacionamento aluno/professor.
Observe o trecho da música “Águas de Março” abaixo:
“É pau, é pedra, é o fim do caminho, é um resto de toco, é um pouco sozinho, é um caco de vidro, é a vida, é o sol, é a noite, é a morte, é um laço, é o anzol. É peroba no campo, é o nó da madeira, Caingá candeia, é o matita-pereira, é madeira de vento, tombo da ribanceira, é o mistério profundo, é o queira ou não queira, é o vento ventando, é o fim da ladeira, é a viga, é o vão, festa da cumeeira. É a chuva chovendo, é conversa ribeira das águas de março, é o fim da canseira...” (Tom Jobim)
Somente através deste trecho inúmeros assuntos poderão ser trabalhados em diversas disciplinas, quanto mais em se tratando de língua portuguesa.
O professor poderá, por exemplo, falar sobre o clima, sobre como as águas de março são tratadas nesta música, sobre os termos empregados, entre tantos outros assuntos.
Apenas a título de exemplificação, o professor poderá questionar se as chuvas ainda são bem-vindas atualmente. Evidentemente, muitos dirão que sim, e não há, num primeiro momento, o que se questionar, pois a falta de chuva seria e é em alguns estados brasileiros, motivo de desespero e muita preocupação.
Contudo, em São Paulo a chuva tem se tornado o oposto do que se aprecia neste trecho da bela canção:
“... é a chuva chovendo, é conversa ribeira das águas de março, é o fim da canseira”.
Isto porque chuva em São Paulo é sinônimo de trânsito parado, enchentes, noticiário ocupado com o assunto e exaustivo trabalho de diversos setores da sociedade. Eis assim, mais uma possibilidade de assunto que poderá ser trabalhado por professores em sala de aula, fazendo com que alunos interpretem uma letra de música muito além do que supostamente poderiam ter pensado.