A Semana - Opiniões
Stress: O Mal do Século
Crianças e adolescentes entre a vida e a morte
Há poucos anos vivenciei experiência que não desejo a ninguém, vi uma adolescente, no esplendor de seus 15 ou 16 anos, desmaiar em frente à plateia que assistia uma apresentação teatral de finalização de evento escolar. Imediatamente, como alguns outros espectadores que se sentavam nas primeiras cadeiras do recinto, me levantei e procurei ajudar a garota a recobrar os sentidos. Como isto não ocorria, com o auxílio de outras pessoas a carregamos para o hospital mais próximo, distante apenas uma quadra da localidade onde ocorria o evento.
Não se passaram pouco mais do que alguns minutos até que fossemos informados da morte daquela menina... A tristeza e a consternação tomaram conta de todos. Familiares, colegas de escola, amigos mais próximos, professores e até mesmo pessoas que não a conheciam tão bem, como eu, ficaram chocados. Como entender ou explicar que alguém, no auge de sua adolescência ou juventude, venha a morrer assim tão de repente?
Depois daquela situação li histórias parecidas nos jornais, algumas com final trágico, outras nas quais a medicina e a agilidade de pais, professores ou amigos foram decisivas para salvar a vida das pessoas enfermas.
Já havia vivenciado situação igualmente triste, com a morte precoce de uma colega de trabalho de 26 anos, pouco tempo antes, por aneurisma cerebral. Em ambos os casos, a despeito daquilo que foi diagnosticado pelos médicos como a causa dos falecimentos, não há como deixar de atribuir aos ocorridos (assim como, creiam-me, é possível pensar nisto para tantos outros casos), ao grande mal do século, o stress.
Mas, no que consiste o Stress ou Estresse? De acordo com o site Saúde e Vida Online, o "Stress é o resultado de uma reação que o nosso organismo tem quando estimulado por fatores externos desfavoráveis. A primeira coisa que acontece com o nosso organismo nestas circunstâncias é uma descarga de adrenalina no nosso organismo, e os órgãos que mais sentem, são o aparelho circulatório e o respiratório.”
E é justamente no ponto relativo ao estímulo por fatores externos desfavoráveis como detonadores de situações estressantes que devemos neste primeiro momento nos ater. Até algum tempo atrás vivíamos tal tipo de situação de forma mais esporádica, ocasional. Adultos encaravam cobranças em seus ambientes de trabalho ou vida pessoal que lhes ocasionava dores de cabeça, alteração na pressão arterial, batimento cardíaco mais acelerado, desconforto físico, sudorese (suor na palma das mãos, por exemplo) e alguns outros sintomas.
Destaco, porém, o fato de que estas circunstâncias ocorriam poucas vezes por semana, é claro que com exceções, e que, aconteciam quase que exclusivamente no universo do mundo adulto. Era raríssimo vermos jovens que vivenciassem situação parecida, quanto menos ainda adolescentes ou crianças...
Buscando apoio em outra fonte, no caso na Wikipédia, surgem outros pontos a destacar quanto ao fenômeno Stress. Nesta base de dados, se esclarece que o stress “pode ser causado pela ansiedade e pela depressão devido à mudança brusca no estilo de vida e a exposição a um determinado ambiente, que leva a pessoa a sentir um determinado tipo de angústia. Quando os sintomas de estresse persistem por um longo intervalo de tempo, podem ocorrer sentimentos de evasão (ligados à ansiedade e depressão).”
Angústia, ansiedade e até depressão constituem apenas a ponta do iceberg e são reflexo de várias circunstâncias, como: Cobranças excessivas, a premência ou urgência à qual praticamente todas as nossas ações são relacionadas hoje em dia, a queima de etapas de maturação pessoal e profissional, a falta de solidariedade e o distanciamento entre as pessoas (cada um por si), a necessidade de resultados e superação permanente ou mesmo a não concessão de tempo para si mesmo (lazer, entretenimento, descanso, intercâmbio, troca, carinho...) são fatos consumados que certamente aceleram e promovem a doença do século...
E não temos somente a evasão como resposta dos organismos afetados pelo stress... As pessoas estão padecendo de males como a depressão e outros psiquismos em função disto. Há também fortes indicadores que relacionam toda esta pressão à morte de muitas pessoas. O uso de drogas ilícitas é válvula de escape para muitos indivíduos afetados por este mal. As relações pessoais e profissionais acabam se deteriorando ou se desfazendo por completo. Perdem a sociedade, as empresas, as famílias e, principalmente, as próprias pessoas...
O pior de tudo é perceber que a epidemia de stress, silenciosa, se espalha de forma rápida e já não encontra fronteiras para sua existência, sejam elas físicas (está em todos os continentes e países), naturais (não existem muralhas ou cadeias de montanhas que a contenham) ou etárias (migrou até mesmo para as crianças e adolescentes).
As crianças de hoje já nem sabem exatamente como brincar, são dependentes de recursos tecnológicos, tornaram-se ainda mais egocêntricas e egoístas, acabam reinando soberanas e de forma ditatorial em seus lares, exploram a ausência dos pais cobrando benesses materiais em contrapartida e, cada vez mais cedo, deixam de viver a infância e ingressam precocemente no mundo adulto...
Não há como isto ocorrer sem que efeitos colaterais surjam e, neste caso, tais consequências podem ser percebidas através da dificuldade de concentração, nos problemas de relacionamento, na alimentação irregular e doenças relacionadas a isto (como a obesidade infantil), na insônia, na agressividade no contato com os pais, no desrespeito aos mais velhos, no desinteresse pela escola, no isolamento ou mesmo no uso de drogas de forma totalmente precoce...
E como lidar com isto? Inicialmente penso que é importantíssimo rever os caminhos que estamos trilhando hoje em dia... Isto significa reinventar-se, reestruturar-se, rever conceitos, quebrar paradigmas e, principalmente, reavaliar a forma como toda a sociedade está estruturada e em funcionamento. Pisar no freio é uma das primeiras medidas essenciais. Nada disto é fácil. E as mudanças não ocorrerão de cima para baixo. Elas se iniciam com cada um de nós. Somos, individual e coletivamente, os artífices da necessária mudança, aquela que efetivamente poderá diminuir os altos índices de ansiedade, stress e depressão que a tantos aflige na atualidade.
Os médicos e estudiosos preconizam que o ideal é prevenir sempre e, isto significa tomar medidas como fazer exercícios regularmente, alimentar-se de forma saudável ao menos 5 vezes por dia, beber muita água, fazer uma coisa de cada vez, delegar funções, não atribuir excessiva importância a tudo em detrimento de todos, preservar e estimular o bom humor, dar-se o necessário tempo para viver o que lhe é aprazível e agradável (tenha e vivencie seus hobbies), relacionar-se de forma verdadeira e intensa com as pessoas que preza e ama...
A não prevenção, por sua vez, incorre no socorro médico, na necessidade da ingestão regular de medicamentos pesados ou, ainda pior, em internações ou no passamento desta para outra existência... E isto, que até 20 ou 30 anos atrás ocorria com os adultos, hoje se estende também para crianças, adolescentes, jovens...
Se não nos preocupamos com nossas próprias saúdes isto é problema nosso, de cada um de nós... A questão central é que, com o andar da carruagem, não somos apenas nós os afetados pelo mal do século, também nossos filhos, alunos, sobrinhos...