Ensino de Línguas
Estrangeirismos no português
Cheeseburguer ou Pão com carne moída prensada e queijo?
Um dos assuntos mais debatidos entre linguistas no Brasil é o polêmico projeto de lei 1676/99, de autoria do deputado Aldo Rebelo – do PCdoB de São Paulo – que objetiva defender, proteger e promover a língua portuguesa em território brasileiro.
Tal projeto define como prática abusiva os casos em que a utilização da palavra ou expressão em língua estrangeira tiver equivalente em língua portuguesa. Dessa forma, se a lei for publicada, as palavras ou expressões em língua estrangeira utilizadas em território nacional ou em repartição brasileira no exterior deverão ser substituídas por palavras ou expressões equivalentes em língua portuguesa.
Ao pensar a respeito dessa polêmica, me vem à mente o trecho de um pensamento do autor francês Paul Ambroise Valery, afirmando que “a maioria das pessoas ignora o que não tem nome”. No caso da aprovação desse projeto de lei, muitas “coisas” – a princípio – ficarão sem nome até que consigamos encontrar novas palavras para substituí-las.
Porém, se formos de acordo com a ideia de Valery, será que conseguiremos simplesmente ignorar a existência das pizzas, por exemplo? Ou, como já diria o prof. Pasquale, deveremos nos acostumar a pedir um "disco de massa com queijo e molho de tomate"?
Confesso que me anima o fato de ficarmos temporariamente sem o stress causado pelo temido telemarketing. Mas como poderemos sobreviver sem os sanduíches com hambúrguer, bacon, pickles, cheddar, maionese e ketchup? E os croissants com cappuccino, ou os mousses com chantilly? O que será das mulheres o dia que não houver mais a lingerie ou o jeans? Imagine você ligar o rádio e não poder mais nomear os estilos Pop, Rock, Blues, Country, Jazz etc.
Vamos ter de nos contentar apenas com Samba, Pagode e Bossa-Nova (pelo menos, o Funk também chegará ao fim dos seus dias). Isso me parece até um complô (aliás, complô vem do francês).
Com apenas poucas palavras, restritas a duas categorias de vocábulos (comida e música), já podemos nos dar conta de que nossa performance como falantes da língua portuguesa ficará bem prejudicada com a perda dos estrangeirismos. Porém, cabe a nós manter o controle ao usá-los, para não cometermos excessos.
Nas situações acima, não consigo encontrar palavras para substituir os termos estrangeiros, mas em muitos casos isso é perfeitamente possível.
Não há a necessidade de utilizarmos a frase “vamos dar um start na reunião” ao chamarmos nossos companheiros para um encontro de trabalho, ou então “precisamos dar um up nas vendas”, para dizer que a empresa precisa vender mais. Nesses casos, compartilho da opinião do deputado Rebelo e do ex-presidente da Academia Brasileira de Letras Tarcísio Padilha ao condenarem a substituição desnecessária de idiomas.
O melhor, nesses casos, é optar pelo bom-senso e não tentar “falar bonito”, como forma de exibicionismo. Até por que, muitas vezes, podemos acabar cometendo uma grande gafe. Portanto, fiquemos atentos.
Caso tenha interesse em conhecer mais sobre os estrangeirismos presentes na Língua Portuguesa, sugiro que acesse o dicionário online localizado no Portal da Língua Portuguesa. Esse website traz pouco mais de mil palavras (menos de 1% do léxico do português) oriundas do inglês, francês, italiano, alemão, japonês, e até mesmo do sânscrito.
Porém, se preferir, basta dar uma lida mais atenta a esse texto, e você encontrará inúmeras palavras em itálico, com links (ops, mais uma) direcionados para o Portal da Língua Portuguesa ou para o website Dictionary.com. Sem elas teria sido impossível escrever esse artigo.