Planeta Educação

Cinema na Educação

João Luís de Almeida Machado é consultor em Educação e Inovação, Doutor e Mestre em Educação, historiador, pesquisador e escritor.

Considerações sobre o uso do Cinema na Escola
Pesquisa traz dados surpreendentes sobre o uso de filmes em sala de aula

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Quando uso filmes em sala de aula, normalmente... (434 respostas)

Grafico

(Fonte: Planeta Educação)

Realizamos regularmente pesquisas através de nossas enquetes acerca dos mais variados temas relativos à educação e que são colocados em pauta pela equipe do Planeta Educação todas as semanas. Tendo em vista que a coluna Cinema na Educação é a mais acessada de nosso site, aproximadamente 20% dos internautas que nos visitam leem textos dessa coluna, queremos conhecer melhor tanto quem navega por essas páginas quanto por outras e, também, saber um pouco mais sobre as práticas de quem trabalha com o Cinema na Escola e outros recursos e metodologias.

Reproduzo acima a pesquisa que fizemos e que tinha como foco descobrir de que forma os professores utilizam os filmes em sala de aula, se apresentam o filme na íntegra, se aproveitam apenas trechos selecionados, se variam as duas alternativas (trechos ou filmes inteiros) ou ainda se não usam filmes em sala de aula.

Tivemos 434 pessoas respondendo a pergunta, o que nos dá um patamar satisfatório quanto à abrangência e universo da pesquisa para que tiremos algumas conclusões acerca dos dados auferidos, a saber:

- A maioria esmagadora dos professores diz utilizar filmes na íntegra (92,5%) - Esse dado é importante para que pensemos as seguintes questões:

1. O tempo disponível para as aulas acomoda essa prática de apresentação dos filmes em tempo integral? A resposta para esta questão é conhecida de todos. Não há tanto tempo disponível, portanto, passar filmes na íntegra pode comprometer o andamento das disciplinas. O ideal é que, quando isto for necessário, a programação seja muito bem- estruturada, para que tal ação gere mais benefícios do que perdas.

2. Quais serão os interesses e finalidades que estão motivando os docentes a apresentar os filmes na íntegra e não apenas alguns trechos selecionados? Os professores devem ter em mente que a apresentação de filmes na íntegra deve gerar subsídios ao longo de toda a projeção, ou seja, ao realizar a projeção completa, ao longo desta, vários trechos devem ser úteis aos propósitos de sua programação pedagógica. Isto quer dizer que eles devem ser destacados durante e depois da apresentação da película e, em relação aos conteúdos trabalhados em aula, é preciso que os filmes sejam sempre vistos como pontos de apoio, argumentação, paralelos... Ademais, vale sempre lembrar que os filmes, na íntegra ou trechos, precisam sempre ser aproveitados em atividades de produção escrita – trabalhos em grupo, tarefas, avaliações...

3. Os professores usam filmes com que regularidade e em que períodos do ano? Não há uma receita de bolo que possa orientar a regularidade de uso. Aconselha-se que a utilização ocorra sempre como apoio às atividades previstas na grade curricular, como apoio a aulas expositivas, leituras, trabalhos em grupo... O uso mais ou menos regular relaciona-se também à disponibilidade de títulos para as diferentes áreas do conhecimento e disciplinas, tendo as Ciências Humanas e a área de Códigos e Linguagens muito mais material disponível que as demais. Ciências Físicas e Biológicas podem explorar mais o grande acervo de documentários disponíveis. A área com menos produções disponíveis acaba sendo a matemática. Penso que, o ideal é a utilização de, no máximo, 2 filmes por mês (um a cada quinzena), desde que sempre concatenados com os conteúdos trabalhados, vale sempre destacar.

4. A utilização dos filmes (que têm entre 1 hora e meia e 2 horas, em média) está adequada aos projetos pedagógicos e segue uma metodologia específica? Vamos pensar em exemplos práticos para ilustrar esta questão... Se o educador está trabalhando no Ciclo 1 do Ensino Fundamental questões étnicas e dando destaque às africanidades, a utilização de produções como “Kiriku e a Feiticeira”, conforme ação desenvolvida em escola da rede municipal de ensino de Bertioga, no litoral Sul de São Paulo, torna-se referência bastante forte e importante. Neste caso, antes de desenvolver as ações com o filme, a professora trabalhou os conceitos relativos ao assunto, fez com que seus alunos realizassem atividades sobre o tema, pediu a leitura de materiais de apoio e, arrematou trazendo o filme (na íntegra) para dar mais argumentos e ideias para as crianças. Seguiu desta forma o projeto pedagógico e realizou a ação tendo traçado um caminho, estipulando uma metodologia de trabalho.

5. Como está sendo o planejamento dessas atividades com filmes na íntegra? Ainda existe certa insegurança e também alguns vícios quanto ao uso dos filmes na escola. Tanto em um caso quanto no outro, podemos atestar que se trata de situações que ocorrem em virtude da falta de planejamento anterior de ações com filmes em sala de aula. A insegurança decorre do pouco ou nenhum uso anterior, é preciso superar esta barreira e, neste sentido, o planejamento faz toda a diferença por orientar as ações, o olhar e dar ao educador o necessário apoio ao desenvolvimento das ações. Os vícios, por sua vez, relacionam-se a hábitos perniciosos como apresentar o filme apenas para ocupar o tempo da aula, utilizar filmes sem planejamento anterior, usar produções sem conhecimento prévio...

- Poucos professores dizem usar apenas trechos selecionados dos filmes (2,5%) - Essa prática dá um pouco mais de trabalho, pois obriga o profissional a atentar em sua visualização prévia do filme aos segmentos que são adequados ao seu projeto pedagógico em andamento. Em virtude do tempo de aula reduzido - em especial em disciplinas como História, Geografia, Sociologia, Filosofia e Artes - que tem menos aulas programadas por semana (geralmente duas, por vezes três), essa é a prática mais recomendada.

- O uso das duas possibilidades, com filmes na íntegra ou apenas trechos, é a melhor alternativa. Esta prática acomoda a chance de apresentação de alguma obra de grande valor selecionando todos os seus trechos e ideias e, ainda, permite que com mais frequência e regularidade, o educador utilize apenas trechos para pontuar, reforçar, facilitar a compreensão, estimular a curiosidade e o interesse e dar subsídios para seus alunos. Apenas 4,5% dos professores dizem usar essa estratégia de trabalho com filmes.

- Agora, a melhor resposta, pelo menos para nós que advogamos o uso dos filmes na escola, foi a última, ou seja, aquela em que apenas 0,5% dos professores que participaram da pesquisa dizem não utilizar o Cinema na Escola. É claro que a pesquisa estimula a participação de quem gosta e se interessa pelo tema. Isso certamente induz a votação nessa enquete por uma maioria esmagadora de profissionais que vê nesse recurso uma ferramenta bastante rica e interessante. Mas, de qualquer forma, menos de 1% dos votantes dizendo que não usam filmes em sala de aula é um dado bastante animador...

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