Planeta Educação

Cinema na Educação

João Luís de Almeida Machado é consultor em Educação e Inovação, Doutor e Mestre em Educação, historiador, pesquisador e escritor.

Além da Linha Vermelha
Reflexão em território inimigo

Soldados-armados

Quando "Além da Linha Vermelha" foi lançado no cinema, muitos artigos sobre o filme destacaram que o diretor Terence Mallick não realizava uma produção a um longo período e que, a mesma situação havia ocorrido em relação a seus trabalhos anteriores. Muitos críticos se perguntavam o que acontecia com Mallick, já que ele não produzia seus filmes regularmente, como ocorre com a maioria dos cineastas americanos conceituados.

Se Mallick demora tanto tempo para filmar para que possa ter idéias de alto nível como as que apresenta ao longo de "Linha Vermelha", devemos deixa-lo meditar com tranqüilidade pois é muito difícil encontrar na produção atual norte-americana material da qualidade desse filme.

Como filme de guerra que é, "Linha Vermelha" fica devendo, pois não se trata de uma película ágil, rápida, com poucos diálogos e muitas explosões ou cabeças rolando para tudo quanto é lado. Não espere o convencional quanto a esse filme. Ele surpreende por ser acima de tudo cerebral, por buscar dialogar com os espectadores, por tentar nos mostrar o estado de espírito dos soldados a partir de seus pensamentos, por nos apresentar os protagonistas sensibilizados pela destruição na qual estão envolvidos e buscando forças em laços familiares ou amorosos muito distantes do front, onde estão envolvidos com toda a brutalidade de uma guerra.

Os pensamentos dos soldados alternam-se, cada hora é um deles que parece nos falar sobre o que seus sentidos captam da atmosfera em que se encontram, há estados de tensão profunda numa simples caminhada pela mata, assim como, nesse mesmo local, os recrutas se perguntam que direito tem de devastar toda a natureza e a vida que nela se encerra com seus projéteis, granadas, lança-chamas ou bombas.

As divagações dos soldados passam por temas que não imaginamos presentes na cabeça de um militar embrenhado na selva, tentando derrotar seus oponentes nipônicos, buscando conquistar uma ilha, perdida no meio do Pacífico, considerada pelos estrategistas e pelo alto comando militar norte-americano como fundamental para suas pretensões nessa exaustiva campanha de combate aos japoneses.

Cenas-do-filme-sargento-conversando-com-outro

Mas, afinal, o que nós, soldados, estamos fazendo aqui mesmo? Que motivos levam-nos a arriscar nossas vidas para tomar o cume dessa montanha? Por que devemos atirar contra nossos oponentes se nem ao menos os conhecemos?

Toda reflexão em torno da qual gira o filme é acompanhada por uma belíssima fotografia, auxiliada pelas locações de uma extraordinária paisagem natural. Há seqüências em que vemos os americanos caminhando lado a lado com os aborígenes locais e, nos surpreendemos por não termos sido capazes de imaginar que na guerra também há espaço para o distanciamento, para que outros interesses, mais relacionados a uma vida simples e sem o materialismo que permeia o mundo capitalista, possam existir, como acontece no caso das comunidades locais representadas no filme. Nelas os soldados parecem a vontade, como se tivessem encontrado o Paraíso Perdido, o Éden, onde a pureza e a ingenuidade ainda imperam.

Mas não espere passar incólume pelas horas de duração do filme (um dos poucos defeitos desse longa-metragem é que ele é realmente longo, extenso demais, talvez se algumas seqüências fossem reduzidas fosse mais agradável aos olhos do grande público), há momentos de combate, de enfrentamento e de mortes. Cadáveres surgem e médicos são a todo momento acionados, mas nada disso ocorre sem que haja uma reflexão, um pensamento, uma orientação para que você, espectador, venha a meditar sobre aquilo que vê.

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As qualidades do filme referem-se justamente a proposta bem-sucedida de fazer com que o público sinta o filme, pense sobre ele, perceba os dilemas que são vividos numa situação extenuante como a de uma guerra, entenda os soldados como homens iguais a cada um de nós, afeitos a paixões, ao medo, a angústias e ao descontrole em momentos extremos. "Além da Linha Vermelha" é ótimo material para uma aula de filosofia, permite debates que podem alimentar redações, estimula uma releitura da Segunda Guerra Mundial e nos permite, de quebra visualizar a geografia daquela região que tão pouco conhecemos. Vale a pena esperar porTerence Mallick!

Ficha Técnica

Além da Linha Vermelha
(A red thin line)

País/Ano de produção: EUA, 1998
Duração/Gênero: 170 min., drama/guerra
Disponível:- VHS e DVD
Direção e Roteiro de Terence Mallick
Elenco: Sean Penn, James Caviesel, George Clooney, John Cusack, Woody Harrelson,
John Travolta, Ben Chaplin e Nick Nolte.

Links

- www.foxmovies.com/thinredline (site oficial)
- http://www.adorocinema.com/filmes/alem-da-linha-vermelha/alem-da-linha-vermelha.htm
- http://epipoca.uol.com.br/filmes_detalhes.php?idf=857

Avaliação deste Artigo: 4 estrelas