Planeta Educação

Aprender com as Diferenças

 

Medo de ser professor
Patrícia Kast Caminha

Seu nome é Lúcia. Encontrei-a no ônibus a caminho do trabalho. Não dormiu bem à noite. Ficou sabendo no dia anterior que receberá, no próximo ano, um estudante com deficiência, entre os da nova turma. O que fará se não foi formada para isso? Com essa novidade de Inclusão, como fará para empreender novos conhecimentos numa área em que nunca teve intenção de trabalhar?

Oras, na sua época de magistério, um dos caminhos era a Educação Especial, mas fugiu como o diabo foge da cruz. Nunca teve contato com alguém com qualquer deficiência. Lógico, já viu, passou perto até, mas não, nunca teve contato. Nem em cinemas, nas ruas, nas lojas, nas praças… Muito menos nas escolas em que estudou. Culturalmente, pessoas assim sempre tiveram um ambiente próprio, que não era, definitivamente, não era o seu. E agora mais essa…

Mãe de dois filhos, dupla jornada para complementar o baixo salário… Mais essa…

Seu mundo, me pareceu, era pequeno. Uma reclusão a que tantos se impõem ou por medo, ou por preguiça.

Lúcia quis contar mais, que se considerava boa professora, mas que agora tinha dúvidas. Chegou ao final de mais um ano letivo concluindo que a maioria dos estudantes, que deveriam ser retidos, mas com esse negócio de promoção automática, pelo amor de Deus, foram promovidos. Não estavam recebendo uma boa educação em casa. Estava pensado muito seriamente sobre isso. E a moral e os bons costumes? Ela não ia se prestar a fazer o que considera obrigação da família. Não se acha a culpada por lares desfeitos (quando são feitos, salientou). Hoje em dia não pode nem comemorar Dia das Mães ou dos Pais na escola. E por quê? Porque as famílias não são mais família, disse indignada. Atualmente vieram com outra novidade: Dia da Família. Não sabe se adianta muita coisa.

Perguntei como era seu trabalho, o que ensinava. Começou a contar com alegria sobre as cartilhas, o alfabeto, as crianças com brilho nos olhos que chegavam a ela querendo aprender a ler. Não sabiam nada, muitas considerava virem do zero, nem pré-escola haviam feito, um horror na sua concepção de educadora. Tinha que ensinar tudo, desde escovar os dentes a ficar quieto na carteira escolar. Um custo. Levantar a mão para falar, rezar no início das aulas, falar em coro “seja bem- vindo” ou “volte sempre” para cada pessoa que vier à porta da sala de aula. Depois, com o passar do tempo, ficava uma beleza… Disciplina, todos iguaizinhos. Mas sempre têm aqueles… Os do fundo da sala. Esses, já sabe no que vai dar no final do ano. Já está escrito, pra ela não tem jeito.

Patricia Kast Caminha

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