Planeta Educação

A Semana - Opiniões

João Luís de Almeida Machado é consultor em Educação e Inovação, Doutor e Mestre em Educação, historiador, pesquisador e escritor.

A Educação na Finlândia
“Tudo é possível em educação se sabemos o que estamos fazendo”

Bandeira-da-Filandia

         Na última sexta-feira, dia 24 de Abril, assisti em companhia de meu colega de trabalho Rômulo Faria, palestra proferida pelo Professor Doutor Pasi Sahlberg, especialista em educação, professor universitário e ex-assessor do ministério da educação de seu país, a Finlândia. Sua apresentação foi precedida pela fala do Cônsul finlandês em São Paulo que igualmente discorreu, de forma bastante breve, sobre os avanços notáveis da educação em seu país.

         A Finlândia, país nórdico, de aproximadamente 5 milhões e meio de habitantes é hoje detentora dos melhores resultados mundiais em educação de acordo com o PISA, exame internacional aplicado a um grupo de aproximadamente 60 países que avalia os conhecimentos dos alunos das respectivas redes de ensino de cada nação, por amostragem, em Ciências, Matemática, Leitura e Escrita.

         País pouco conhecido para estes lados do Atlântico, a Finlândia tem despertado a atenção dos especialistas em educação e motivado vários países a enviar delegações com a finalidade de verificar a estrutura e o funcionamento do sistema educacional finlandês. O professor Pasi Sahlberg visitou nosso país e esteve também em Brasília, a convite de autoridades do Ministério da Educação a fim de dar a nós, brasileiros, uma melhor compreensão das particularidades da educação em seu país.

         Ciente da falta de informação acerca da Finlândia em outras regiões do mundo – Sahlberg esclareceu de forma bastante agradável e interessante a evolução do país ao longo dos últimos 40 anos, passando de país eminentemente agrário e industrial para uma moderna sociedade da Era da Informação, com mão de obra local extremamente qualificada e habilitada para os desafios do Século XXI. A Finlândia, por exemplo, é a terra natal da Nokia, a maior fabricante e vendedora de aparelhos celulares do mundo.

         Esta introdução fez-se necessária até mesmo como elemento esclarecedor das diferenças efetuadas na sociedade finlandesa em virtude de investimentos e alterações nos rumos da educação daquele país. Mudanças que estão sendo implementadas desde o início dos anos 1980, por exemplo, com a criação de leis que aumentaram o nível de exigência quanto à formação dos professores do Ensino Básico (Educação Infantil e Ciclo I do Ensino Fundamental). Passou a ser obrigatório que estes docentes da rede pública finlandesa não apenas tivessem formação universitária em Pedagogia e Licenciaturas para trabalhar como professores, mas que avançassem em seus estudos com especializações e titulação de mestrado.

         Este dado é igualmente esclarecedor e importante quanto a, em especial, dois pontos: a necessidade de formação mais sólida (e sempre contínua) dos educadores e o fato de que qualquer mudança em educação se processa ao longo de um período de tempo maior do que aquele que a maior parte das pessoas de nosso país pensa. Para atingir o atual estágio de evolução e resultados notáveis que possui, a Finlândia iniciou a reformulação de seu sistema educacional há aproximadamente 30 anos e, para tanto, firmou-se compromisso nacional em torno da questão, independentemente de qualquer interesse ou bandeira político-partidária.

         No caso da formação dos professores, indo além da graduação, exigindo-se pesquisa, produção de artigos, elaboração de teses e dissertações, criando entre os educadores a mentalidade e a prática perene da pesquisa e atualização, os finlandeses apenas realizaram aquilo que todos nós, especialistas em educação, advogamos a tempos, ou seja, o mais elementar dos conceitos rumo à educação de qualidade: escola de ponta é aquela que tem professores engajados e competentes, técnica e pedagogicamente. Não é preciso reinventar a roda e, destaque-se que esta lógica é válida não apenas para os educadores que estão na sala de aula com os alunos, mas para todos aqueles que trabalham em escolas, entre os quais, destaque todo especial aos gestores.

         Entre os outros aspectos marcantes da educação finlandesa que merecem destaque podemos chamar a atenção para as seguintes informações que nos foram dadas pelo professor Pasi Sahlberg:

  • A Finlândia não se preocupa em educar alguns, mas sim a todos. As escolas (aulas, alimentação, recursos materiais, transporte) são responsabilidade do Estado.
  • O país oferece oportunidades iguais a todos e incentiva as pessoas a encontrarem seus talentos.
  • Educação é trabalhada como compromisso coletivo e nacional, com a divisão de responsabilidades entre todos os envolvidos. Com isto não apenas o governo, os gestores das escolas ou os professores, mas também os próprios alunos, seus pais e toda a comunidade.

Há também o que foi chamado pelo professor Sahlberg de paradoxos da educação finlandesa que igualmente merecem nossa atenção e apreciação, a saber:
  • Paradoxo 1 – “Less is More” (Quando menos é mais...) – O que se procura reforçar com esta afirmação é o conceito de que educação de qualidade não significa necessariamente grande volume e/ou quantidade de aulas, exercícios, tarefas. De acordo com as palavras do professor Sahlberg, os finlandeses acreditam que “não adianta encher os alunos de aulas ou exercícios, eles não irão aprender mais por causa disso”. Eles acreditam, por experiência, ser de fundamental importância que os educadores tenham plena consciência do seu trabalho e que, certamente, o tempo disponível para pesquisa, leitura, planejamento e intercâmbio que surge ao não se sufocar o aluno com tantas atividades deve ser (e, na Finlândia é) utilizado para a concretização desta ação mais consciente e objetiva dos professores.

  • Paradoxo 2 – “More learning with less testing” (Aprende-se mais com menos avaliações) – Não há “standardized tests” ou testes nacionais padronizados. O tempo gasto para avaliar é deslocado para ações de ensino-aprendizagem, o que diminui o stress geral dos estudantes e aumenta consideravelmente a atenção despendida pelos educadores com o ensino propriamente dito.
  • Paradoxo 3 – “Equity Through Diversity” – (Igualdade na Diversidade) – Os finlandeses tiveram um crescimento expressivo na quantidade de imigrantes que entraram no país ao longo das últimas duas décadas. Esta diversidade étnica e cultural, comprovada a partir de dados e estatísticas apresentados na palestra, é vista como oportunidade para o crescimento tanto dos nativos da Finlândia quanto dos que no país se estabeleceram e estão criando raízes. A diversidade é elemento importante para o crescimento da nação, creem os finlandeses.

  • Paradoxo 4 – “The better a high school graduate is, the more likely she wants to become a teacher” - (Quanto melhor é uma estudante ao finalizar o Ensino Médio, maior o desejo desta se tornar professora) – De acordo com os dados do país, entre 20 e 25% dos formandos do Ensino Médio quer ser professor. A profissão é valorizada não apenas em termos financeiros, com boa remuneração, mas porque os professores são considerados socialmente como muito importantes para o futuro da nação (Estão em segundo lugar no ranking nacional finlandês de confiabilidade, perdendo apenas para os policiais!). Se não bastasse isto, a consideração com os educadores é tão grande, e igualmente é tão reconhecida a qualidade de sua formação, que muitos deles são contratados por grandes empresas (como a própria Nokia, por exemplo), pois são profissionais que sabem lidar com pessoas, planejar, orientar ações, demonstram criatividade...

             Para finalizar, destaco o pensamento que nos foi apresentado logo ao início da palestra do professor Pasi Sahlberg e que utilizei como subtítulo deste Editorial já que, creio, ilustra bem aquilo que pensam os finlandeses e também a minha pessoa quanto à educação:

         “Tudo é possível em educação se sabemos o que estamos fazendo” (Prof. Dr. Pasi Sahlberg)

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