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Filosofando

 

Observando a História em Perspectiva
Entre inovações e Saltos de Época

Max Weber diz que as coisas só podem ser compreendidas se forem observadas a sangue frio e em profundidade, apreendendo sua objetividade. Eu creio que se compreende melhor a realidade quando a observação se dá “ao longo do processo”, conferindo-lhe uma perspectiva. E, neste caso, ao dar uma perspectiva, nos tornamos mais otimistas. Compreenderemos melhor a sociedade industrial se, em primeiro lugar, abordarmos as mudanças de época que a precederam.

Vamos procurar percorrer a história humana através das etapas da sua criatividade, isto é, tentar ver a História não como uma sequencia de batalhas e divisões baseada no possuir, mas como uma história das invenções, baseada no inovar.

As mudanças sempre aconteceram. Ennio Flaiano dizia: “Estamos numa fase de transição. Como sempre.” E isto, como em todos os jogos de palavra, é em parte verdadeiro e em parte falso. Provavelmente não existe época onde não tenha havido uma transição, porém nem todas as épocas mudam com a mesma intensidade e com a mesma velocidade. Muitas vezes temos a sensação de que, em dez anos, se faz mais história do que num século. Nos últimos dez anos, por exemplo, com a queda do muro de Berlim e com a difusão do fax, do telefone celular, da tomografia computadorizada e da Internet, vivemos uma evolução tecnológica mais intensa do que nas fases lentas e longas da Idade Média.

Em determinados momentos, temos a sensação de que se trata de uma mudança de época. Porém, não é apenas um fator da História que muda, mas é todo o paradigma – com base no qual os homens vivem – que se altera. Isso acontece quando três inovações diferentes coincidem: novas fontes energéticas, novas divisões do trabalho e novas divisões do poder. Se somente um desses fatores se alterasse, viveríamos uma inovação, mas, se todos eles mudassem simultaneamente, aconteceria um salto de época. Trata-se do mesmo conceito ao qual se refere Braudel, quando fala das ondas da História, que podem ser curtas, breves, médias ou longas.

Se por salto de época entendemos não uma simples guerra ou revolução, mas sim esse salto tríplice, então nos damos conta de que os casos em que essa coincidência de eventos se realizou na história humana são bem poucos: seis ou sete, não mais do que isso. E existem fases de milênios, séculos ou anos nas quais aconteceu alguma coisa, mas não uma verdadeira mudança de civilização.

Domenico de Masi, Sociólogo Italiano [Trecho extraído do livro “O Ócio Criativo”, publicado no Brasil pela Editora Sextante]

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