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Cinema na Educação

João Luís de Almeida Machado é consultor em Educação e Inovação, Doutor e Mestre em Educação, historiador, pesquisador e escritor.

A.I. - Inteligência Artificial
Limites tênues entre homens e máquinas

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Sempre que o nome de Steven Spielberg está envolvido em uma produção, espera-se que o filme em questão seja um grande campeão, de bilheteria, de boas críticas e resenhas ou de ambas. Não há outra alternativa para o prodigioso cineasta, que carrega em seu currículo, desde que começou a brilhar intensamente lá pelos idos de 1970, sucessos como "Tubarão", "Contatos Imediatos do 3º Grau", "E.T.", "Caçadores da Arca Perdida", "A Cor Púrpura", "A Lista de Schindler" e "Parque dos Dinossauros", entre outros. Mas, como todo ser humano normal, de quando em quando, da produção ou direção de Spielberg surgem alguns fracassos (quem se lembra de "1941", "Além da Eternidade" ou "O Império do Sol").

No ano de 2001, o mercado cinematográfico mundial estava agitado pela menção de que Spielberg estava trabalhando um projeto que originalmente pertencia a outro grande cineasta, Stanley Kubrick ("O Iluminado", "Barry Lindon", "Dr. Fantástico", "Spartacus", "Nascido para matar",...). E o melhor de tudo, com as bençãos de Kubrick, que acreditava que o único que poderia encaminhar o projeto em questão seria o próprio Spielberg. Esse filme era "A.I. - Inteligência Artificial".

A época em que vivemos, marcada por projetos como a clonagem, o investimento no surgimento de máquinas que sejam capazes de "pensar" por si próprias, a biotecnologia e a alteração genética dos alimentos entre outras grandes transformações propostas pela ciência, abriu possibilidades para que os sonhos se tornassem ainda maiores e que, a criação de "replicantes" (robôs que são cópias perfeitas de seres humanos) prevista no filme "Blade Runner" de Ridley Scott voltasse a tona.

"A.I. - Inteligência Artificial" trabalha esse tema. No período em questão, esses seres terão se tornado tão comuns entre nós que não causariam mais espanto ou admiração. Apesar de muito parecidos com o que somos, seríamos capazes de diferenciá-los da espécie humana sem maiores dificuldades, principalmente pela dificuldade de fazer com que robôs (por mais que se pareçam fisicamente com homens, mulheres e crianças) externem seus sentimentos (sofram, amem, tenham dor, chorem ou riam com naturalidade).

"A.I" gira em torno do personagem David Swinton, vivido pelo ótimo ator Haley Joel-Osment, um novo protótipo de robô/replicante, que coloca a tecnologia no limite, com uma tênue e praticamente invisível linha divisória entre homem e máquina. Estaríamos nos aproximando do fim das diferenças que separam seres alimentados por óleos, cabos e chips do que somos.

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Ao se colocar o garoto/robô numa casa de família, abalada pela doença terminal de seu filho, numa tentativa de fazer com que David viesse a preencher o vazio deixado pela criança, surge uma situação das mais delicadas. A recuperação surpreendente da criança enferma torna o ambiente insuportável para os pais e as crianças. David é extremamente devotado aos pais e, constantemente sabotado pelo "irmão", enciumado, que quer se livrar dele. A situação extenuante termina de forma trágica para o robô, abandonado num mundo cheio de problemas e desigualdades.

O efeito estufa, a corrupção dos costumes e a incompreensão dos homens reinam nesse século XXI. O menino-robô peregrina por esse mundo e tenta, a todo custo, entender o que o cerca na busca de seu lar, de seus pais e da segurança com que estava acostumado. Encontra outros replicantes como ele e, seres humanos muito parecidos com seus "pais", sem jamais desconfiar que entre eles poderia haver uma aproximação (não foi capaz de entender o abandono a que foi submetido). É humilhado, colocado em situações em que esteve muito próximo da destruição e segue acreditando numa redenção (nos pais e na volta para casa).

Nesse momento passamos a nos perguntar: Devem existir limites para a ciência? Ao se criarem alimentos transgênicos, clones ou robôs que pensam e sentem (como no filme), a ciência não coloca em risco a existência dos seres humanos? Quem nos deu o direito de alterarmos a natureza através de experimentos como os citados ou de outros não mencionados? Que repercussões podem advir de mudanças tão grandiosas como essas? A tecnologia, qualquer que seja ela, é realmente necessária? O que acontecerá conosco se continuarmos avançando da forma como estamos?

O mundo obviamente divide-se entre os que defendem entusiasticamente a ciência e seus projetos, os que acreditam que determinados avanços são válidos e outros nem tanto e aqueles que rejeitam a maioria dos implementos trazidos pelos pesquisadores. Não se trata de escolher uma dessas opções mas, acima de tudo, de criar um canal de debates envolvendo a sociedade civil, os cientistas e os governos dos países para que a questão ética não seja esquecida. Para que a lisura prevaleça entre as pessoas que encabeçam essas transformações e que, em nenhum momento o que está sendo criado possa, num futuro breve, causar prejuízos a humanidade.

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Não significa brecar ou interromper o que está sendo feito pela ciência, mas, analisar outros fatores (não apenas os técnicos) como os sociais, os políticos, os econômicos e os culturais relacionados a esses experimentos.
Para as escolas, "A.I." pode representar o início de debates e estudos nessa área, com o envolvimento da biologia, da história, da geografia, da ética, do estudo das atualidades,...
Não perca!

Ficha Técnica

A.I - Inteligência Artificial
(A.I. - Artificial Inteligence)

País/Ano de produção: EUA, 2001
Duração/Gênero: 145 min., ficção científica
Disponível:- VHS e DVD
Direção de Steven Spielberg
Roteiro de Steven Spielberg e Stanley Kubrick
Elenco: Haley Joel Osment, William Hurt, Jude Law, Frances O´Connor, Ben Kingsley.

Links
- http://epipoca.uol.com.br/filmes_detalhes.php?idf=1953
- http://www.adorocinema.com/filmes/ai/ai.htm
- http://www.aimovie.com (site official)

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