A Semana - Opiniões
Uma hora sem o Google...
Dá para viver sem ele?
Para as novas gerações, formada pelas pessoas nascidas a partir da década de 1990, parece impossível ou, ao menos, inadmissível um mundo em que o Google não exista. Mas no dia 31 de janeiro, por quase uma hora [exatos 58 minutos], o gigante da Internet parou. Era domingo e, certamente por conta disto muitas pessoas nem perceberam, não se deram conta.
Para os que estavam fazendo alguma pesquisa ou levantamento, este fato representou um blecaute tão assustador e devastador quanto aqueles que acometem, por vezes, o sistema elétrico. Nas palavras de alguns analistas, o Google é hoje tão imprescindível quanto o oxigênio que respiramos.
Se lembrarmos que a empresa de Larry Page e Sergey Brin surgiu no final dos anos 1990 e revolucionou o mercado de buscadores desbancando gigantes de então, como o Yahoo ou o AltaVista, e mesmo que até 1995 não existia a Internet nos moldes por nós conhecidos hoje em dia – com a disponibilização de acesso em rede mundial, com a inclusão digital acontecendo dia a dia sem interrupção - talvez possamos pensar que sim, é possível viver sem o Google.
Como
isso seria possível se os dados são expressivos
na direção da comprovação
do crescimento espantoso do uso da web no mundo inteiro? Não
seria o contrário, ou seja, a dependência que
está sendo criada é tão grande que
provavelmente no futuro não conseguiremos viver sem o Google
e alguns outros serviços que crescem exponencialmente em
termos de influência cultura, como o YouTube [que
também pertence ao grupo Google].
A monocultura percebida por alguns veículos de comunicação a partir dos crescentes índices de acesso ao Google pode ser tão perigosa conforme preconizam alguns estudiosos, como o prestigiado Nicholas Carr, jornalista e escritor norte-americano?
Vamos então pensar todas estas questões, uma de cada vez...
Somente nos Estados Unidos o Google responde por cerca de 70% dos acessos a buscadores. O seu perseguidor mais direto é o Yahoo, com 19% deste mercado. A toda poderosa Microsoft está em terceiro com aproximadamente 6%. No Brasil o Google é ainda mais poderoso com índices que superam os 80% deste segmento. As razões para tal sucesso relacionam-se principalmente a facilidade de uso da ferramenta e a necessidade que todos nós temos de procurar informações.
O segundo quesito beneficia tanto o Google quanto seus concorrentes e o primeiro não explica sozinho tanto sucesso. Pode-se também destacar que nenhum dos adversários da empresa tem o alcance, em quantidade de buscas, do serviço oferecido pela empresa de Brin e Page. Outro atributo a se destacar no Google é que a empresa não parece se acomodar jamais, ou seja, apesar de contar com o melhor e mais abrangente serviço do setor, investe pesado na ampliação de seus préstimos e não pensa duas vezes em gastar na aquisição de outros recursos [como o YouTube] que possam enriquecer a navegação de seus usuários.
Talvez por tudo isso surja a preocupação com o monopólio e o estabelecimento de uma monocultura a partir do Império que está sendo formado pelo Google. Certamente por conta disso tudo aqueles 58 minutos de pane do buscador no dia 31 de janeiro de 2009 tenham gerado real preocupação entre seus usuários... Pessoalmente não creio em monocultura a partir do Google ou mesmo em monopólio, apesar dos índices que evidenciam sua força suprema perante seus competidores no mercado.
No primeiro caso porque o Google não é o “provedor” de conteúdos e sim um canal de acessos rápido e eficiente para que encontremos estes materiais na web. Os conteúdos continuam sendo produzidos pelos quatro cantos do mundo a partir de empresas, universidades, governos, órgãos de imprensa, sites especializados ou mesmo a partir dos cidadãos comuns em suas páginas pessoais e blogs. O Google, como todos os outros buscadores do mercado, capitalizam em cima da disponibilização de artigos, vídeos, imagens, gravações em áudio e todos os demais recursos produzidos para a web, tanto por particulares quanto por organismos governamentais ou empresas privadas.
Quanto ao monopólio, ainda que o domínio do Google seja esmagador sobre seus concorrentes no momento em que escrevo estas linhas, não creio que os concorrentes, ainda que levemos em consideração a crise da economia que abate todos os segmentos do mercado, inclusive o de alta tecnologia e Internet, estão assistindo a tudo de forma passiva, sem tomar providências para tentar reverter o jogo...
Imaginem que, só para exemplificar, até alguns
anos atrás os Estados Unidos eram imbatíveis no
basquete e, nas Olimpíadas de Atenas [2004], os
campeões do torneio foram os argentinos... Isso levou os
norte-americanos a reverem seus princípios e reorganizarem
suas ações naquele esporte para reconquistar o
trono em Pequim [2008]... Que garantia temos que este
fenômeno observado no esporte e em tantas outras
áreas de atuação humana não
possa ocorrer também entre os buscadores da Internet?
Quanto à dependência em relação ao Google, para pesquisas e estudos, que está sendo criada juntamente a nova geração, creio que temos uma importante missão a realizar em família e através das escolas para reforçar o uso das Tecnologias de Informação e Comunicação como elemento complementar e paralelo às demais ferramentas com as quais contamos há mais tempo.
Explico... Nada substitui o diálogo, a presença humana, a leitura de publicações impressas, a ida aos cinemas, o encantamento do teatro, a delicadeza ou agudeza da música e da dança, o contato direto com as artes plásticas... A tudo isto estamos a incorporar o poder também inigualável das tecnologias e da web. Não podemos permitir que o advento destes recursos tecnológicos e universos virtuais seja visto como substituto irremediável de tudo aquilo que precedeu este segmento e sim que, ao invés disto, criemos uma cultura de convivência colaborativa entre eles...