Planeta Educação

Cinema na Educação

João Luís de Almeida Machado é consultor em Educação e Inovação, Doutor e Mestre em Educação, historiador, pesquisador e escritor.

Wall-E
Poesia em forma de Cinema

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      Um libelo pela preservação do planeta. Um romance belíssimo e totalmente diferenciado. Um filme de ficção em que os personagens principais não falam sequer uma palavra. Uma animação destinada a entrar no rol das mais impressionantes e fascinantes já realizadas em todos os tempos. Assim é WALL-E, produção realizada pela parceria entre a Disney e a Pixar.

        Ambientado num futuro não muito distante, nos vemos diante de um planeta Terra abandonado pela humanidade. Os seres humanos debandaram, fugiram, abandonaram suas origens, deixando para trás apenas resíduos que tornaram impossível sua própria sobrevivência em seu habitat original.

        O Planeta Azul, conforme descrito pelos primeiros astronautas, tornara-se cinza. As coberturas vegetais se extinguiram e, com elas, as espécies animais que resistiram e lutaram bravamente por suas vidas. De nossa passagem por aqui sobraram apenas as enormes construções, máquinas inoperantes, um calor exasperante e, ainda operacional, apenas um robô criado para juntar e empilhar, de forma organizada, a sujeira humana.

        Será este o nosso destino? Fugir tresloucadamente em naves espaciais autossuficientes como a Família Real Portuguesa o fez em 1808 quando confrontada com um inimigo de peso, no caso as tropas do exército francês de Napoleão Bonaparte, escoltada pela marinha inglesa, com suas caravelas carregadas [de pessoas e riquezas]? Ou deveríamos aproveitar a reflexão desenvolvida na brilhante animação dirigida e roteirizada por Andrew Stanton e, mais do que propostas, realmente trabalhar em prol do saneamento da Terra, buscando corrigir e solucionar os graves problemas ambientais por nós mesmos perpetrados ao planeta?

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        WALL-E propõe em seus 97 minutos de duração que deixemos de simplesmente demonstrar preocupação e passemos a ações que, de fato, encaminhem o planeta para uma realidade sustentável e não-agressiva ao meio-ambiente. Por mais que os espectadores se afeiçoem em relação ao robozinho que protagoniza o filme, não queremos que a situação chegue a este ponto.

        Neste sentido a discussão desta temática tão urgente em uma produção destinada às crianças é bastante pertinente. Pode e deve despertar na criançada e também nos pais e nas escolas, espaço para conversas, muitas conversas. Nas escolas, especificamente, WALL-E deve contribuir para o fomento de projetos, debates, trabalhos, tarefas e paralelos com aulas das mais diversas disciplinas [ciências, geografia, biologia, ética, sociologia, história...].

        E, se não bastasse a temática principal, há ainda espaço para discussões quanto à tecnologia, o universo, relacionamentos, alimentação, exercícios físicos, lixo... Outra característica marcante de WALL-E que o torna um espetáculo único, uma verdadeira obra de arte, é o modo como comunica as ideias para o público, em especial durante o tempo em que não há humanos em cena... Sem palavras, apenas com ações, expressões, imagens... Uma verdadeira e íntegra lição de cinema...

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O Filme

        Wall-E é o nome de um robozinho criado para juntar os detritos da humanidade e compactá-los para que depois possam ser empilhados e acumulados em depósitos. O objetivo desta sua atividade é sanear o planeta…

        Se é que isso é possível tendo em vista o alucinante ritmo de consumo dos habitantes da Terra desde a Revolução Industrial, cada vez mais avassalador e crescente… Quando o filme se inicia, a distância vemos uma grande cidade, com edifícios enormes e, na medida em que a câmera se aproxima, percebemos que esses prédios são pilhas e pilhas de resíduos acumulados há anos pelos vários Wall-es colocados na Terra…

        De todos aqueles Robôs, apenas um continua ativo. E sua única companhia é uma esperta é ágil baratinha, sobrevivente do desastre ambiental que não permitiu a nada mais que fosse orgânico a sobrevivência na Terra. Em suas andanças e limpezas do planeta, Wall-E descobre uma plantinha preservada dentro de um refrigerador e, com ela, a esperança de que a vida aconteça novamente…

        Mas é a chegada de Eva, outro robô, enviado a Terra pelos sobreviventes que estão há séculos instalados (e plenamente acomodados) numa nave a perambular pelo universo, como se estivessem num grande cruzeiro (só que espacial e não marítimo), em busca de sinais de vida em nosso planeta dá o tom de romance, humor e graça nesse filme memorável.

        Para crianças e adultos que ainda acreditam na vida, “Wall-E” é programa obrigatório. Imperdível. Cinema de Primeiríssima!

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Para Refletir

1. Projetos relacionados ao estudo do meio-ambiente nas escolas não podem mais se restringir a produções em papel ou mídias virtuais. É preciso que nas escolas o trabalho e a energia de alunos e professores sejam cada vez mais direcionados para ações que traduzam, através de práticas, um veemente engajamento de todos na luta pela defesa da vida no planeta. E isto não pode se restringir a ações esporádicas ou isoladas por parte de alguns alunos ou profissionais da educação, dentro de certas disciplinas que teoricamente estariam mais relacionadas ao tema. É preciso que todos participem, da direção da escola aos pais, passando obviamente pelo corpo docente e pelos estudantes, projetos de manutenção e preservação de parques, áreas verdes nativas, rios, lagos, espécies animais e vegetais, ou do próprio ar que respiramos, devem se tornar bandeiras permanentes e promover a partir das escolas e das novas gerações, reais mudanças de postura e comportamento frente ao planeta em que vivemos. Não se trata mais de discurso, esta bandeira não pertence a ninguém especificamente, mas a todos nós. Já passou da hora de agirmos...

2. Outra questão relevante trabalhada em WALL-E relaciona-se ao fato de que estamos ficando cada vez mais sedentários, ou seja, que nosso cotidiano nos leva mais e mais a trabalhar e estudar, relaxar e descansar, abrindo mão de atividades físicas necessárias para uma boa saúde. Os humanos retratados no filme com certo humor e ironia podem muito bem caracterizar o futuro da espécie, cada vez mais obesa. Dados divulgados anualmente pela Organização Mundial de Saúde indicam que a obesidade já superou a fome como maior problema enfrentado pela humanidade no que se refere à alimentação. Esta temática trabalhada em WALL-E deve despertar e mobilizar projetos não apenas de caráter acadêmico, especificamente, mas também e, principalmente, motivadores de atividades físicas tanto no currículo escolar quanto no próprio seio das famílias que façam exercícios e práticas esportivas uma realidade perene na vida de todos.

3. WALL-E também pode [e deveria] motivar os educadores a ampliar o conceito de comunicação vigente. Não que não conheçamos ou desprezemos a comunicação que se estabelece através de ações, atitudes, expressões faciais e/ou imagens. A questão não é esta. Apenas não estamos habituados a ler além daquilo que é mais evidente ou mais óbvio e, certamente, precisamos nos preparar para isso desde a mais tenra idade.

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Ficha Técnica

WALL-E

País/Ano de produção: EUA, 2008
Duração/Gênero: 97 min., Animação
Direção de Andrew Stanton
Roteiro de Andrew Stanton
Elenco: Ben Burt, Elisa Knight, Jeff Garlin, Fred Willard, John Ratzenberger, Kathy Najimy e Sigourney Weaver.

Links
http://www.adorocinema.com/filmes/wall-e/wall-e.asp
http://epipoca.uol.com.br/filmes_detalhes.php?idf=19287
http://www.cinemaemcena.com.br/Ficha_Filme.aspx?ID_NOTICIA=1&ID_FILME=5655

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