Cinema na Educação
Kung-Fu Panda
Lições da Sabedoria Milenar dos Orientais
A sabedoria dos mestres orientais é reconhecida mundialmente. Sua paciência e persistência são igualmente notáveis marcos de uma cultura milenar. Tudo o que se refere às tradições daquele país, da saborosa gastronomia às artes marciais, consegue sempre despertar a curiosidade, o respeito e a admiração dos ocidentais. E o cinema é prova disso tudo. A animação Kung-Fu Panda, somente atesta as afirmações anteriores.
A produção tem personagens que certamente serão lembrados para sempre, tanto pelas crianças quanto pelos adultos. A começar pelo protagonista, o urso panda Po, hilário do primeiro ao último minuto do filme, um herói que não se sente melhor do que ninguém e que carrega inúmeras dúvidas sobre a sua escolha para ser o maior entre os maiores no Kung-Fu… Sua maior qualidade é saber rir de si mesmo e pensar que a vida não deve ser levada tão a sério.
Além dele, há os lendários aprendizes de Kung-Fu, virtuosos até o último fio de cabelo, mas que se mostram falíveis não por serem derrotados pelo vilão-mor, e sim por não aceitarem o fato de que as aparências enganam…
O mestre Shifu, treinador de grandes lutadores, também é uma amostragem tanto das grandes qualidades dos chineses e de sua cultura quanto das fraquezas que todos os seres humanos – representados nas telas por esses incríveis personagens – apresentam…
Ao duvidar do potencial do urso panda e tentar fazê-lo desistir de sua jornada rumo ao domínio das artes marciais, o mestre mostra-se incapaz de superar o olhar reduzido e egoísta que caracteriza tantas e tantas pessoas… O bom é que com o passar da trama ele percebe seu erro, se desculpa por isso e busca redimir-se…
O grande sábio representado pela tartaruga é, no entanto, a luz que a todos orienta e dá oportunidades. Seus dizeres, simples e pautados em exemplos do cotidiano, nos fazem voltar no tempo e buscar as figuras de Buda e Confúcio, ou de forma mais atualizada, do Dalai Lama.
A despeito das lições, que o olhar do educador sempre procura, Kung-Fu Panda é diversão de primeira. A trama é bem costurada, os efeitos visuais (inclusive o estilo que nos transporta para uma atmosfera muito chinesa), os diálogos, a ação e, em especial, o humor, são nota 10! Kung-Fu Panda é irônico, divertido, inteligente e engraçadíssimo.
O Filme
O urso panda Po trabalha com a família num negócio bastante promissor, eles vendem macarrão há gerações. Seu pai, o ganso, já o prepara, inclusive, para assumir a banca. Para isso, Po terá acesso à receita secreta que dá ao macarrão de sua família o status de melhor da região. O problema é que os sonhos do jovem urso panda não residem na banca comercial, no macarrão ou mesmo no segredo gastronômico de sua família... O que ele realmente gostaria de fazer pelo resto da sua vida era se juntar aos grandes lutadores e mestres do Kung-Fu...
Po gostaria de se juntar a seus ídolos, os cinco furiosos [Víbora, Louva-Deus, Macaco, Tigresa e Garça], treinados pelo mestre Shifu para defender o mundo dos perigos que nele existem. Ele sabe que este é um sonho distante, mas continua a alimentá-lo. Acredita, por exemplo, que um raro evento de abertura dos portões do templo onde são preparados estes grandes lutadores de Kung-Fu para a comunidade pode ser a oportunidade que esperava para alcançar seus objetivos.
O problema é que depois de subir uma imensa escadaria que separa o templo da comunidade, Po chega atrasado e não consegue entrar... Por obra do destino, o foguetório dos festejos na localidade acaba fazendo com que ele não apenas consiga entrar no templo como o colocam em evidência perante os lutadores, o treinador e o grande mestre, a tartaruga. Sua desajeitada e espetacular entrada em cena faz com que seja visto pela tartaruga como um predestinado, ou seja, como um enviado dos deuses para se tornar um lendário lutador de Kung-Fu...
A partir de então Po é integrado aos treinamentos juntamente com os cinco furiosos, experientes lutadores. O problema é que ele não demonstra tanta aptidão para a luta ou, sequer, para atividades físicas de impacto como as que são realizadas nos treinamentos... Seu único e grande interesse parece ser mesmo a comida...
Será então que o grande mestre, a tartaruga, errou ao escolher o urso panda como o novo predestinado a se tornar um lendário lutador de Kung-Fu? A chance de redenção de Po surge quando o perigosíssimo Tai Lung, o leopardo das neves, escapa da prisão e ameaça a paz na China...
Para Refletir
1. As aparências enganam. Este sábio ditado popular não é repetido há tanto tempo por acaso. Kung-Fu Panda traz à tona a necessidade de não olharmos para as pessoas e o mundo já tendo em nossas mentes algum tipo de pré-conceito estabelecido. Somos iludidos muitas vezes pela forma como uma pessoa se veste, pelas palavras que profere ou ainda por seus primeiros atos e gestos quando em contato conosco. O mesmo se aplica às coisas do mundo, ou seja, por que tantas vezes nos recusamos a experimentar um novo alimento, participar de um evento cultural diferenciado ou mesmo entrar em contato com a natureza? Não podemos agir de forma intolerante em nenhum momento. Tampouco permitir que nossos pré-conceitos nos impeçam de perceber com clareza as pessoas e o mundo que nos rodeia. Esta importante lição tirada de Kung-Fu Panda precisa ser trabalhada com mais cuidado e atenção também nas escolas...
2. Disciplina é um importantíssimo fundamento a ser trabalhado em nossas vidas e também na educação escolar. Não basta, no entanto, falar sobre o assunto, cobrar atitudes ou mesmo dar sermões sobre o tema. Disciplina constrói-se dia após dia de forma silenciosa, tranqüila e, principalmente com perseverança, bem de acordo com o receituário oriental [chinês e japonês]. Ser disciplinado significa, na prática, mostrar a partir de seus atos a capacidade de manter a vida em harmonia, organizada, equilibrada em todos os momentos, até durante as maiores tormentas. Não deve depender apenas daquilo que nos é requisitado por terceiros, mas principalmente de nossa própria capacidade de nos percebermos como parte de um todo, coexistindo com outros seres e com a própria natureza.
3. Treinamento e estudo, outro quesito explorado em Kung-Fu Panda, parece elementar para quem trabalha com educação, mas não é... Os grandes mestres do Kung-Fu e das artes marciais oriundas da China e do Japão atingiram este alto grau de habilidade graças a muita dedicação, força de vontade, capacidade de superação e disciplina. Submeteram-se a longos períodos de capacitação não apenas física, mas também mental e espiritual. No Ocidente queremos tudo muito rápido, “para ontem” como dizem no linguajar das ruas. Ninguém consegue realmente chegar ao ápice desta forma, é preciso lapidar os diamantes brutos que existem dentro de nós para que nos tornemos verdadeiras jóias dignas de admiração e respeito e, certamente, para isso, é necessário trabalhar com sabedoria o tempo...
4. Estudar a China nos dias de hoje é uma premência. De país semi-feudal para uma nação socialista que posteriormente se adequou às regras de mercado ao mesmo tempo em que mantinha rédeas curtas em sua política interna; de mercado fechado e cultura milenar a uma nação que se moderniza em ritmo acelerado e que provavelmente [de acordo com os especialistas] irá se tornar a maior potência do mundo em poucos anos, a China poderia virar um capítulo à parte nas escolas em projetos multidisciplinares.
Ficha Técnica
Kung-Fu Panda
País/Ano de produção: EUA, 2008
Duração/Gênero: 92 min., Animação/Comédia
Indicação Etária:livre
Direção de John Stevenson e Mark Osborne
Roteiro de Jonathan Aibel e Glenn Berger, baseado em estória de Ethan Reiff e Cyrus Voris Elenco [Vozes]: Jack Black, Dustin Hoffman, Angelina Jolie, Jackie Chan, Lucy Liu, Ian McShane, David Cross, Seth Rogen e James Hong; Lúcio Mauro Filho e Juliana Paes [na versão brasileira]
Links
http://www.kungfupanda.com.br/ [site oficial]
http://www.cinemaemcena.com.br/ficha_filme.aspx?ID_FILME=4738
http://www.adorocinema.com/filmes/kung-fu-panda/kung-fu-panda.asp