Planeta Educação

Cinema na Educação

João Luís de Almeida Machado é consultor em Educação e Inovação, Doutor e Mestre em Educação, historiador, pesquisador e escritor.

O Lobisomem e o Coronel
Porta Curtas Petrobras - Direção de Elvis Figueiredo e Ítalo Cajueiro

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Mistérios da meia-noite,
que voam longe,
que você nunca, não sabe nunca,
se vão se ficam,
quem vai, quem foi.
Impérios de um lobisomem,
que fosse homem,
de uma menina tão desgarrada,
Desamparada, se apaixonou...
[Trecho da música “Mistérios da Meia-Noite”, de Zé Ramalho]

Foi difícil não se lembrar da música de Zé Ramalho quando assisti ao curta de animação “O Lobisomem e o Coronel”, de Elvis Figueiredo e Ítalo Cajueiro. Vivemos num país em que o folclore ainda tem força, vitalidade e influência na vida das pessoas e na cultura popular. O lobisomem vive a espreitar os campos, assim como o Saci, o Boitatá, a Iara, o Boto que se transforma em homem, o Negrinho do Pastoreio e tantas outras maravilhosas histórias de nosso povo.

E esta fantástica prática de contar histórias, narrando “causos” de pai para filho, na sala de casa ou em frente de uma fogueira a iluminar os céus e dar mais brilho ao anoitecer, tão tradicional no Brasil, hoje se moderniza. É transportada dos encontros de família para as telas de nossos cinemas e da televisão.

E se assim não fosse... Estariam condenadas ao esquecimento, ao ocaso, ao apagar das luzes. Sobreviveriam apenas de forma esparsa, escondidos pelos campos, aonde ainda existissem avós e pais com talento e disposição para contar histórias.

Não apenas a TV e o Cinema preservam esta cultura. Os repentistas e os escritores que mantém a rica e importante literatura de cordel também preservam estes contos, estas criaturas, todo este encanto. Desfilam seus dons de cantadores e contadores de lendas, que juram ser verdadeiras, pelas ruas e mercados das principais cidades do Nordeste do Brasil, a encantar turistas de outras regiões e países. É a mais pura e genuína manifestação de riqueza cultural popular brasileira de que se tem notícia. Até quando conseguirão manter sua arte de pé? Isso não sabemos...

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“O Lobisomem e o Coronel”, animação produzida pela dupla Elvis Figueiredo e Ítalo Cajueiro em 2002, nos permite conhecer [e temer] não apenas o lobisomem, mas também nos coloca em contato com o repentista e sua nobre arte de transformar histórias deliciosas em um animado e ritmado encontro no qual as rimas nos fazem soltar a imaginação.

Se não bastasse isto, há ainda a história daquela região – com seus coronéis e cangaceiros - e a própria paisagem árida a desfilar pelas telas numa criativa e divertida versão de contos celebrados pela literatura de cordel nordestina. Cordel, que é igualmente festejado ao longo do filme ao ser apresentado a todos como a principal fonte e referência para a história que toma conta de nossas telas.

“O Lobisomem e o Coronel” é mais uma excelente produção em curta-metragem a celebrar o que há de mais bonito em cada um de nós e que ainda assim, muitas vezes, teimamos em querer destruir, a nossa brasilidade... Não percam!

 Por João Luís de Almeida Machado, brasileiro nascido em Caçapava, SP. Caipira do interior, que como os nordestinos, têm grande apreço pelas histórias populares, os causos contados de pai para filho, e que igualmente também escuta os uivos do lobisomem em noites de lua cheia de tempos em tempos...

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