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Alegrias e Tristezas do Jeca
Museu Mazzaropi
Poucas pessoas estimadas no circuito cultural brasileiro até a década de 1970 levaram Mazzaropi realmente a sério. Muitas foram às críticas e restrições sofridas pelo ator e diretor ao longo de toda a sua carreira. Especialmente por parte de uma elite intelectualizada que dominava a crônica cultural paulista e carioca. Era inadmissível que personagens toscos e produções simplórias pudessem fazer o sucesso que fizeram. A ponto de, em diversas cidades do interior de São Paulo, depois da morte de Mazzaropi, serem realizados ciclos de filmes do artista, reprises que eram disputadíssimas, com grandes filas de espera e sessões duplas ou até mesmo, triplas.
Eram justas tais críticas?
Se levarmos em consideração as dificuldades e o atraso técnico vivido pelo cinema nacional até recentemente, poderíamos dizer que eram injustas. Não havia grandes especialistas. Apesar de termos vivido momento de grande empolgação na indústria cinematográfica nacional com a Vera Cruz e com a Atlântida (grandes companhias que se estabeleceram entre os anos 1940 e 1960 e que pautaram suas produções no modelo norte-americano), vimos o sonho de uma poderosa indústria cinematográfica brasileira ruir com a falência das mesmas.
O fracasso dessas companhias e as dificuldades que se seguiram para produzir filmes no Brasil só poderiam ser superadas caso surgissem produtores e realizadores que conseguissem recriar elos entre os filmes e o grande público. O temor aumentava ainda mais com o crescimento da televisão. Somente histórias e artistas que possuíssem carisma e proximidade com o povo brasileiro poderiam superar a crise e manter um certo vigor no cinema nacional.
Cena da produção “Chico Fumaça”, estrelada por Mazzaropi,
Filme da época em que o ator ainda tinha seus filmes produzidos
pela Companhia Vera Cruz.
Mazzaropi era, portanto, representante digno dessa estirpe de atores, que tem uma empatia grandiosa com o público espectador. Não gostava de meio-termo, usava um vocabulário simples, direto, objetivo, como o povo que ia aos cinemas tinha interesse em escutar. Não sentia embaraço ou vergonha de admitir suas raízes caipiras, taubateanas. Conterrâneo de Monteiro Lobato deu vida a um dos maiores sucessos da produção do escritor ao personificar o Jeca.
Brasileiríssimo é o termo utilizado para qualificá-lo na abertura da página do Museu Mazzaropi. Termo adequado se o comparamos com a vida simples e rústica do interior do país. Mais fácil de entender seu sucesso se notamos que, somente a partir da década de 1960, deixamos de ser um país onde a maior parte da população vivia no campo, na zona rural. Mesmo a partir de então, em busca das melhores oportunidades da cidade, o cidadão que se deslocou da roça para a zona urbana não abandonou por completo suas origens e seus hábitos.
Mazzaropi ousou desafiar a norma culta, a alta cultura, a linguagem acadêmica e a pompa e circunstância exigidas pelos críticos e falar a língua do povo. Sobreviveu, resistiu, ganhou a queda de braço e obteve o apoio dos que se sentiram muito mais parecidos com ele que com os intelectuais, superou as barreiras do tempo e da morte e continua vivo, através de seus filmes, depoimentos, fotos e entrevistas. Quer revê-lo ou conhecê-lo? Vá a uma locadora ou visite o Museu Mazzaropi, em Taubaté (SP) ou na web no site www.museumazzaropi.com.br.
O tom popular dos personagens de Mazzaropi apareceu em produções
que se realizaram ao longo de 4 décadas, entre os anos 1950 e 1980.
Nelas, os personagens revezaram-se entre histórias que se passavam na
zona urbana (como em “O Corintiano”, de 1963) e na zona rural (como
em “A Banda da Velhas Virgens”, de 1979).
O Site
O Museu Mazzaropi on-line tem algumas boas opções para quem quer conhecer melhor o artista, suas produções e, inclusive, ler resenhas e críticas produzidas na época de lançamento de alguns de seus filmes. Além disso, há notícias publicadas mais recentemente nos jornais e fotos pessoais do ator (além daquelas relacionadas aos filmes dos quais Mazzaropi participou). Confiram abaixo algumas das boas opções do Museu (www.museumazzaropi.com.br) :-
- Uma das boas preciosidades disponíveis no site são os trechos de filmes (é necessário que você tenha o Real Player em seu computador) e trilhas sonoras (para ouvir as músicas você precisa de MP3) das produções de Mazzaropi. Dá para sorrir, mesmo que os trechos sejam tão curtos.
ü Em “Minha História”, temos acesso à entrevista dada pelo ator à revista Veja em 1970. Se o internauta clicar em “Mazzaropi quadro a quadro” encontrará uma cronologia da vida do artista produzida pela Profa. Olga Rodrigues Nunes de Souza.
- Ao entrar na página referente aos filmes você ficará frente a frente com os títulos de todas as produções em que Mazzaropi trabalhou, desde o início nos anos 1950 até seu último filme em 1980. Ao escolher um dos títulos e acioná-lo a partir de seu mouse você obtém as informações técnicas e um resumo da história daquele filme.
- “Sucesso e Crítica” é um setor destinado a mostrar as diversas opiniões registradas na mídia a respeito do fenômeno Mazzaropi. Despertava a ira de alguns colunistas. Era amado pelo público que lotava as sessões de seus filmes. E você o que pensa a respeito do artista? Leia, opine, se informe mais a respeito.
- Além disso, o site nos oferece alguns links relacionados ao assunto, permite que mandemos cartões com imagens de filmes de Mazzaropi e abre espaço para que entremos em contato através de e-mail.
De seu primeiro a seu último filme, Mazzaropi jamais se afastou de
suas raízes populares. Acima temos imagens de “Candinho” (1952) e
de “O Jeca e a égua milagrosa” (1980), respectivamente sua premiére
e sua despedida das telas de cinema.
Aos Professores
Durante um certo tempo as pessoas tiveram um certo receio de revelar sua origem caipira, interiorana. Tinham vergonha do “r” bem puxado pronunciado em praticamente todo o interior de São Paulo. Marca registrada de um povo que vivia da forma simples, próximo a terra, plantando café, cana, laranja ou fazendo surgir as primeiras indústrias, as grandes ferrovias, as importantes e prósperas cidades paulistas que fizeram o Brasil crescer como nunca.
Mazzaropi era um desses paulistas do interior. Caipira que abriu portas, realizou grandes negócios, promoveu a sétima arte nacional e, sempre teve orgulho de se afirmar interiorano de Taubaté. Conheço algumas histórias das filmagens de Mazzaropi por morar e ser originário da igualmente caipira e interiorana Caçapava (vizinha de Taubaté e de São José dos Campos).
Meus pais e tios foram a alguns sets de filmagem. Um dos que mais me falaram a respeito foi “A Tristeza do Jeca”, considerado um dos melhores filmes de Mazzaropi. Sempre mencionaram essas situações com orgulho, prezando a dignidade de sermos conterrâneos do cineasta e ator (somos valeparaibanos).
O resgate da cultura nacional e regional é dever de todos aqueles que lidam com educação e cultura. Buscamos obras, fotos, cartas, documentos, desenhos e filmes que nos falem a respeito de nós mesmos. Vamos atrás de nossas origens, de nossas raízes. Ao descobrirmos Mazzaropi, Monteiro Lobato, Cassiano Ricardo, João do Pulo, Renato Teixeira e tantos outros expoentes de nossa rica cultura regional valeparaibana, celebramos alegremente nossa tradição caipira, tão rica e valiosa quanto nossa brasilidade... O desafio dessa busca deve se estender a todos os brasileiros e regiões. A busca por músicos, literatos, atletas, cineastas, políticos, artistas plásticos e a celebração de suas memórias é o que podemos fazer de melhor para consolidar suas obras e firmar a idéia que temos de nós mesmos... |