Planeta Educação

A Semana - Opiniões

João Luís de Almeida Machado é consultor em Educação e Inovação, Doutor e Mestre em Educação, historiador, pesquisador e escritor.

Família e Escola
Os pais precisam participar mais!

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Quantas horas por semana você, pai ou mãe, dedica a seus filhos? Conhece os amigos dele[s]? Sabe quais são seus passatempos preferidos? Poderia dizer quais são seus pratos favoritos? Se pratica esportes? Se está envolvido em atividades culturais? Qual é o rendimento escolar dele[s]? Que disciplinas gosta mais? Se gasta muito tempo no computador/internet? Por quais sites navega? Se lê ou ouve músicas [e que tipo de som]? Se assiste televisão e o que anda assistindo?

A Fundação Itaú Cultural divulgou, no final do mês de outubro [2008], pesquisa que afirma ser o contexto familiar o grande responsável pelo bom desempenho escolar de um estudante. Essa influência familiar responde por aproximadamente 70% do aproveitamento de cada aluno. A escola, por sua vez, interfere positiva ou negativamente, pelos demais 30%.

Pode parecer um paradoxo esta constatação. Sempre pensamos nas escolas e em tudo que a ela se relaciona, direta ou indiretamente, como os maiores fatores de sucesso ou fracasso escolar. Todos sempre reconheceram, sem dúvida alguma, a importância da família para a educação. A presença ou ausência dos pais na formação e nos estudos dos filhos têm sido percebidas como elementos decisivos para os bons ou maus resultados no todo da vida educacional de um estudante desde há muito tempo. O que não era perceptível aos olhos de todos era o tamanho da influência familiar para a educação e, inclusive, a sua prevalência sobre os próprios fatores relacionados diretamente às escolas [gestores, professores, recursos didáticos, sistemas de ensino, laboratórios...].

Particularmente sempre acreditei que o exemplo, a presença, a perseverança, o diálogo e o estímulo dos pais são ingredientes fundamentais para a educação e a vida dos filhos. E creio ser importante discernir o que cada uma destas palavras significam no tocante não apenas ao rendimento educacional da prole, mas também no que se refere a vida futura deles.

Quando se fala no exemplo dos pais como referência para a vida dos filhos não se deseja com isto induzir os progenitores a idéia de uma vida perfeita, em que erros, vícios, desacertos, angústias ou problemas não estejam presentes. Todas as pessoas estão sujeitas a momentos melhores ou piores, a deslizes e embaraços. Os pais não são diferentes de ninguém. A paternidade ou a maternidade não criam asas e tornam seres celestiais uma pessoa. Antes fosse assim...

Ao imaginar que devem ser perfeitos aos olhos de seus filhos para se tornarem exemplos perante eles, os pais se iludem e, ao mesmo tempo, passam uma falsa impressão a seus rebentos. Assumir dificuldades, fraquezas e problemas é agir dentro daquilo que se espera para qualquer ser humano. Cria-se, com uma atitude honesta como essa, um ambiente no qual as pessoas envolvidas se percebem, se compreendem e se respeitam muito mais.

O exemplo dos pais está associado a questões ligadas ao caráter, a visão de mundo, a compreensão e relação com os outros e, até mesmo, a forma como são percebidas ações e práticas como estudar ou trabalhar. Essa influência se consolida principalmente durante a infância e suas repercussões serão mais sentidas a partir do ingresso dos filhos na adolescência.

No que se refere à educação, pode-se afirmar categoricamente que pais que gostam de ler, escutar música, freqüentar teatros e shows [de dança e música], ir a cinemas ou a museus e que buscam bons programas na televisão criam entre seus filhos uma percepção e uma receptividade maior a atividades dessa natureza. E isso certamente influi positivamente na formação da prole. O contrário das referidas práticas, por outro lado, terá repercussões negativas, como é de se esperar, ou seja, com o surgimento de crianças que não apreciam atividades culturais. É a força do exemplo dos pais influenciando as atitudes presentes e futuras dos filhos...

A presença, por sua vez, não se relaciona simplesmente a questão da proximidade física, nem tampouco se refere a como o tempo compartilhado pode permitir maior contato dos filhos com os pais enquanto exemplo para suas vidas. É também isso, mas principalmente está ligado ao fato de que as pessoas precisam perceber em seus pares o mais que necessário comprometimento emocional e a criação de laços que estreitem sua intimidade, confiabilidade e companheirismo. Não é apenas entre o casal que essa proximidade irá gerar maior estabilidade e comprometimento, mas também entre pais e filhos. A vivência de uma circunstância real de presença no âmbito familiar tende a criar em outros ambientes, inclusive na escola, a busca por uma prática semelhante.

Quando me refiro a perseverança nas relações entre pais e filhos, utilizo a palavra pensando nas circunstâncias da vida, aquelas do cotidiano, que geram desgaste e nos fazem por vezes esmorecer e desanimar perante os atritos naturais nas relações humanas. As diferenças tendem a se acentuar, por exemplo, com a chegada da adolescência e a transformação hormonal vivida entre os 12 e os 18 anos. Perseverar, neste caso, relaciona-se a capacidade que os pais devem ter de compreender, orientar, apaziguar, utilizar de sua autoridade de forma sábia e, principalmente, nunca desistir de seus filhos seja qual for a dificuldade vivenciada, mesmo as mais extremas [como drogas, relacionamentos amorosos, crimes...]. Esta disponibilidade dos pais provavelmente será aprendida pelos filhos e, em termos de escola, o que se espera é que os professores também tenham sempre em mente e atuem de forma a perseverar...

Estímulo então, não pode faltar nunca. Palavras de apoio em momentos de dificuldade, pensamento positivo diante dos desafios da vida, cumprimentos e aplausos nas vitórias são práticas que os pais devem adotar com constância. Posicionamentos críticos são igualmente bem-vindos e necessários. Os filhos têm suficiente autocrítica para saber quando não fizeram o melhor que podiam e adulá-los numa ocasião como esta poderia soar como se estivessem sendo desconsiderados quanto a sua inteligência pelos próprios pais. Se for necessário criticar, que assim seja, claro que com sempre com o devido cuidado. Nada de mimar excessivamente ou de pensar que estímulo relaciona-se a presentes ou dinheiro... Imprescindível mesmo é a confiança que deve ser passada...

Por fim, mas de imprescindível valor e permeando todos os demais aspectos fundamentais para a formação dos filhos, encontra-se o diálogo. E o que significa esse vocábulo? Não é simplesmente a troca de palavras, idéias, conceitos ou a expressão livre de pensamentos entre duas ou mais pessoas. É o verdadeiro elo que deve unir as pessoas e permitir que entre elas reine o entendimento, a tolerância, a capacidade de argüir e escutar, de defender pontos de vista e, em especial respeitar idéias alheias. Entre pais e filhos espera-se que exista o necessário respeito de ambas as partes, com a devida compreensão dos laços que os unem e das diferenças que existem entre eles [criados em diferentes contextos, frutos de gerações distintas]. A prática do diálogo, uma vez estabelecida, será reutilizada por todos que a conhecem e sabem de seu valor inúmeras vezes e nas mais diversas situações e circunstâncias, inclusive nas escolas.

Para complementar, penso que as escolas não apenas devem incentivar e incorporar práticas e idéias próprias dos relacionamentos familiares [adaptadas a seu contexto e particularidade], mas principalmente, devem se esforçar para que os pais sejam cada vez mais participativos e atuantes dentro das escolas de seus filhos. Isso significa, por exemplo, acompanhar os estudos dos filhos, conhecer os professores e os colegas, ir a reuniões pedagógicas e sociais, conhecer o projeto pedagógico e a programação de eventos da escola, conversar periodicamente com os gestores, participar de associações de pais e mestres, reunir-se e conhecer pais de outros alunos...

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