Planeta Educação

A Semana - Opiniões

João Luís de Almeida Machado é consultor em Educação e Inovação, Doutor e Mestre em Educação, historiador, pesquisador e escritor.

Os perigos da Internet para as crianças
A família precisa acompanhar e orientar

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O acesso à Internet pelas crianças e adolescentes tem aumentado de forma exponencial e não há, por parte da família, informação e tempo suficientes para fazer o acompanhamento e dar as devidas orientações quanto a esta particularidade do mundo em que vivemos. O que fazer? Que cuidados tomar? Navegar na web por quanto tempo e por quais caminhos? Creio que qualquer solução passa pela escola, inclusive penso que os pais também devem ser orientados quanto ao uso dos computadores e da Internet e, nesse sentido, a orientação poderia vir dos próprios professores de seus filhos. “Mas por que se preocupar?” podem perguntar alguns. Vamos aos fatos...

O acesso a sites impróprios por mais de 50% das crianças [pesquisa recente, divulgada no início de outubro de 2008, revelou que 53% das crianças já acessaram sites impróprios] é resultado da falta de orientação e supervisão quanto ao uso da web pelos familiares e também pela escola. A escola está preocupada em adequar conteúdos à rede, a repassar para a Internet aquilo que já está presente nos livros didáticos. Essa mera transposição de conteúdos é um grande desperdício de tempo.

É preciso ensinar as crianças e os adolescentes a pesquisarem na internet, orientando quanto a sites adequados, que possuam informações que podem enriquecer o debate promovido pelos projetos e trabalhos realizados em sala de aula. Até mesmo o uso do Google e de outros buscadores precisa ser revisto e reorientado nas escolas. Não se devem utilizar essas ferramentas de busca como principais referenciais, é necessário que paralelamente à web os estudantes também sejam incentivados a ler livros, a conversar com as pessoas, a assistir filmes, a ouvir músicas, a buscar informações em jornais impressos e revistas de informação.

A convergência das mídias para a Internet está fazendo com que tudo seja buscado nos computadores e que, com isso, se perca o contato com os demais recursos ou mesmo com as pessoas. Quanto à família, o que está acontecendo é a substituição da televisão como babá eletrônica pela Internet sem que exista qualquer preocupação quanto aos conteúdos e sites visitados pelas crianças e adolescentes, o que os leva a cair em sites impróprios e a entrar em contato com o lado mais perverso e devastador da rede, no qual há pedófilos, terroristas, racistas...

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Não há consenso entre os estudiosos quanto à idade mais apropriada para uma criança começar a navegar pela Internet. Pessoalmente creio que o mais adequado seja a partir dos seis anos, quando a criança chega ao primeiro ano do ensino fundamental. Antes disso o que penso e advogo para esse público é que a eles sejam dadas oportunidades de trabalhar com aquilo que é concreto, lúdico, que as estimule, que as faça desenvolver todos os sentidos. Na educação infantil e, nas fases posteriores também, nos falta uma educação do olhar, do paladar, do ouvir, do tato, do cheiro...

Que criança é preparada para distinguir cheiros, ler imagens ou conhecer sabores? A escola está negligenciando isso e, ao fazê-lo, não permite o pleno desenvolvimento de habilidades e competências. A ênfase nas tecnologias depois dos seis anos será uma realidade para o resto da vida de cada criança nascida depois do advento da web. Se antes disso não aprenderem a andar de bicicleta, subir em árvores, pular amarelinha, chutar bolas ou brincar de bonecas... dificilmente o farão depois do contato com as tecnologias.

Quanto a alternativas no que se refere à relação entre as crianças e as Tecnologias de Informação e Comunicação, para quem tem filhos ou alunos que já navegam desde que ainda usavam fraldas é preciso pensar e pesar, ou seja, analisar a situação e verificar as possibilidades existentes. Há, por exemplo, filtros e até rastreadores de acessos da Internet. O próprio histórico da web é facilmente acessível por qualquer pessoa. No entanto, o mais importante é a educação e o monitoramento das famílias.


Acompanhar, explicar, saber quais sites estão sendo acessados, navegar por eles para conhecê-los melhor e pedir que a escola sempre oriente quais portais oferecem informação segura são caminhos muito necessários para os pais. Outra importante ação é informar-se e trocar idéias com outros pais sobre a web, seus recursos, suas ferramentas e fazer uso destas para conseguir acompanhar a evolução das crianças e adolescentes que rapidamente as incorporam ao seu cotidiano.

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Isso não constitui censura? Não acarretaria reações e rebeldia por parte dos filhos? A web possui grandes riscos e, um posicionamento mais cuidadoso por parte da família, auxiliada e orientada pela escola não deve ser encarada ou confundida com censura.

Quanto à rebeldia dos filhos, é bem possível que isso aconteça, o melhor, nestes casos, é explicar os motivos que estão levando os pais a tomar tais atitudes e precauções. Os sites de relacionamento, como o Orkut ou mesmo o Second Life, por exemplo, possuem regras que não permitem o uso desses ambientes virtuais por menores de 18 anos... Como os pais não sabem isto, não utilizam essa informação quanto conversam com os filhos... Se os próprios sites manifestam essa preocupação através de suas regras, por que as famílias não orientam os filhos para não utilizar estes ambientes virtuais?

Mas os sites não constituem o único problema. Os riscos também estão nos e-mails, nos comunicadores e, até mesmo nos próprios buscadores [como o Google]... Não há proteções contra os criminosos do mundo virtual a não ser o acompanhamento, a orientação e supervisão dos pais e professores. Sempre é aconselhável que família e escola orientem as crianças a buscar informações em sites de instituições conhecidas e fidedignas como órgãos de imprensa, sites do governo, universidades e escolas, portais especializados...

Saber quem garante o site, quem assina os artigos, quem coloca vídeos na web e mensagens nos blogs é de essencial importância. Se não há assinaturas e identificação dos responsáveis, provavelmente boa coisa não é... Quanto aos sites de relacionamento, especificamente, acho que para crianças não são recomendáveis - aplicam-se a jovens e adultos que têm mais discernimento e maturidade para lidar com outras pessoas no mundo virtual.

Quanto ao tempo de permanência na Internet, penso que as crianças não devem passar mais de uma hora por dia na web para se divertir e, caso precisem fazer trabalhos, adicionar o tempo necessário para essas pesquisas e tarefas - sem abusos e com o acompanhamento dos pais. No caso de crianças em idade pré-escolar, em escolas que utilizam os computadores já na Educação Infantil, penso que o tempo máximo de uso dos computadores deve ser de meia hora diária e, de preferência, apenas duas ou [no máximo] três vezes por semana. Sempre lembrando que esse trabalho deve ser realizado apenas como apoio às atividades do mundo real, de projetos relacionados à aprendizagem concreta, lúdica e significativa.

De qualquer forma, o mais importante é entender que o diálogo é o melhor e mais importante instrumento para esclarecer o uso da web entre as crianças. Olho no olho, criando uma relação de confiança, demonstrando afeto e preocupação, explicando detalhadamente os motivos dessa monitoria e orientação e também ouvindo a criança, dando espaço para a sua manifestação.

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