Ensino de Línguas
Repensando o ensino-aprendizado de Línguas Estrangeiras
Por que e para quê meu aluno precisa aprender outro idioma?
“(...) as mudanças necessárias para enfrentar sobre bases novas, (...) não se resolvem com um novo método de ensino, nem com novos testes de prontidão nem com materiais didáticos. É preciso mudar os pontos por onde nós fazemos passar o eixo central das nossas discussões. (...) Temos uma imagem empobrecida da criança que aprende: a reduzimos a um par de olhos, um par de ouvidos, uma mão que pega um instrumento para marcar e um aparelho fonador que emite sons. Atrás disso há um sujeito cognoscente, alguém que pensa, que constrói interpretações, que age sobre o real para fazê-lo seu.” (FERREIRO, 2000)
O que refletir na busca por um bom ensino-aprendizado de Línguas?
Nosso quadro atual de sociedade nos mostra o avanço da globalização, a rapidez das informações, a internet, as músicas internacionais, os filmes, os produtos, as tecnologias, enfim, uma quebra de muros de países e continentes em detrimento de uma proximidade de línguas, culturas, negócios e mídia que cresce a cada dia. E é exatamente neste contexto que vive nossos alunos. Eles jogam videogames cujas instruções e jogos são em inglês; eles ouvem no rádio músicas em inglês; utilizam a internet que tem nomes específicos, serviços, avisos, sites em inglês; vão a shoppings que tem lojas, restaurantes, produtos, em inglês; assistem à TV que exibem artistas que falam e cantam em inglês, vêem propagandas, reportagens, entrevistas e outros, em inglês; enfim, eles estão no mundo e interagem nele, seja de forma consciente ou inconsciente. E é aqui que entra o papel não do professor, mas do mediador.
Relembrando Paulo Freire, quando falava sobre a “Educação Bancária”, já não é satisfatório mais uma aula de Inglês em que se vê o professor como a única fonte de informações e saberes que tão somente deposita tais conhecimentos nas mentes, até então “vazias” dos alunos. Conscientes de que nossos alunos são agentes ativos deste novo modelo de sociedade e que dispõem de diversos conhecimentos antes de chegar à escola, cabe a nós, mediadores da aprendizagem, organizarmos estes tais conhecimentos, disseminá-los entre o grupo e permitir circular na classe o máximo de informações que auxiliem no aprendizado de uma nova língua.
Planejamento
Sendo assim, partindo do que sabem nossos alunos, do que necessitam, e de onde deverão chegar, é possível traçarmos um planejamento adequado, coerente e significativo para um efetivo aprendizado de línguas:
*Histórias
*Músicas
*Jogos
*Atividades comunicativas
*Dramatizações
*Passatempos
*Pesquisas
*Trabalhos em grupo
*Laboratório de Informática
*Internet
*Projetos, etc.
Abordagem sociointeracionista
É necessário se ter em mente também a estrutura de aulas que queremos oferecer aos nossos alunos. Que tipo de atitude, saber, desenvolvimento, habilidade, hábitos são fundamentais para eles? Conforme discutido no início do artigo, é essencial que as atividades sejam voltadas para a interação em situações reais. Por exemplo, simular uma entrevista, uma visita a um restaurante, uma compra, um show, etc., sempre propondo aos alunos que coloquem em prática tudo o que sabem, oferecendo-lhes atividades difíceis, mas possíveis, bastante desafiadoras e motivadoras, em que se dêem de frente com problemas a resolver e decisões a tomar, objetivando formarmos alunos, além de conhecedores de outro idioma, autônomos, hábeis e ativos, perpassando pelos quatro pilares da educação: o saber conhecer, saber fazer, saber ser e saber conviver.
Outra mudança que se busca hoje é quanto à função social dos materiais, textos e situações trazidos à sala de aula. A pedagogia como um todo tem discutido esta questão. A idéia é que ao invés de trabalharmos com histórias e personagens inexistentes, redações pedidas apenas para avaliação e ponto, vocabulário por vocabulário, descontextualizado de qualquer estrutura textual real; é que se trabalhe com diversidade de gêneros e textos, de situações cotidianas e de fim social aos trabalhos propostos, partindo de textos e não de palavras soltas, sem contexto, pois precisamos trabalhar dentro da escola o que faz sentido fora dela. Exemplos de gêneros textuais em inglês que podem ser utilizados em sala de aula:
Para se compreender, por exemplo, uma entrevista escrita em inglês, não é obrigatório que se saiba falar/escrever em inglês. Os alunos se apoiarão no máximo de informações do gênero para interpretar o que está ali contido, através de:
Estas, no caso de habilidades de leitura e escrita. Já no caso de habilidades orais, a idéia é se utilizar de situações reais de comunicação, simulando-as, como por exemplo:
O importante é que o aluno se coloque em situações reais onde tenha que improvisar, pôr em jogo tudo o que sabe, formular hipóteses, utilizar a língua como meio de comunicação para expressar suas idéias, sentimentos, preocupações, para falar de si mesmo, do outro, do mundo, de forma espontânea, utilizando estratégias, ferramentas diversas, fazendo associações, assimilações, enfim, se comunicando.
Ambiente de aprendizagem
Outra questão a se repensar é quanto ao ambiente de aprendizagem. Não faz parte da realidade de todos os alunos e mediadores ter uma sala de inglês, o que facilita na apresentação dos recursos e materiais. Porém, precisamos saber que ambiente de aprendizagem não diz respeito somente a paredes enfeitadas e materiais à mão. Mais que isso, ambiente de aprendizagem é o “clima” de interação, socialização, circulação de conhecimentos, tanto por parte dos próprios alunos como do mediador.
Mudanças conceituais
A Revista Nova Escola do mês de Agosto/2008, traz uma reportagem interessante de Amanda Polato, sobre o ensino de Línguas, acompanhe este trecho por meio do qual a autora brilhantemente fala sobre as “Mudanças conceituais”:
“A própria natureza da linguagem exige que se considere seu uso social, e não apenas sua organização. Quando o ensino se resume a vocabulário, gramática, funções (cumprimentar, pedir informação) e questões ligadas ao conhecimento sistêmico, a própria língua e sua estrutura passam a ser entendidas como objeto de ensino. O importante é considerar o contexto de produção dos discursos, permitindo a compreensão do uso que as pessoas fazem do idioma ao agir na sociedade. (...) Isso significa que, ao participarem de uma atividade real, as crianças vão aprender os conteúdos lingüísticos e também outros ligados à própria ação. Por exemplo, ao buscarem informação num site (...), perceberão, além do vocabulário e da organização da frase, diversos conteúdos relacionados à pesquisa em si e ao assunto investigado. Ao estudar um segundo idioma, o aluno usa conhecimentos prévios de leitura e escrita e faz analogias com a língua materna. Embora a maior parte dessas comparações não tenha correspondência, existe um conceito abrangente, vindo da área de Alfabetização, que pode ser usado em Língua estrangeira: o desenvolvimento de comportamentos leitores e escritores por meio de práticas sociais. Os principais instrumentos para trabalhar nessa perspectiva são os diversos gêneros textuais ou discursivos. (...) O trabalho com gêneros também possibilita o estudo das questões relacionadas à diversidade cultural e social.”
Temos plena consciência de que não é fácil, mas é possível desenvolver um trabalho de qualidade com um bom planejamento, objetivos claros, aulas e projetos bem estruturados, bem como, estudar e acreditar nas propostas e compreender que o maior intuito de se saber outra língua é a comunicação, a interação, a ampliação da visão de mundo e, claro, o conhecimento de outra cultura.
Referências Bibliográficas:
FERREIRO, Emília. Reflexões sobre alfabetização, São Paulo, Cortez Editora. 24. edição. 2000.
POLATO, Amanda. Além da Gramática, Revista Nova Escola do mês de Agosto/2008.