Assaltaram a Gramática
Que Sujeito é Este?
Sujeitos na Voz de Caetano Veloso
Entre classes de sujeitos que a Língua Portuguesa dispõe, há três que, ao que tudo indica, causam mais dúvidas. São eles: sujeito oculto, indeterminado e inexistente.
Porém, antes de os esclarecermos, vamos relembrar a definição mais conhecida sobre sujeito de uma oração.
Sujeito
é o elemento de
quem está sendo falado e que recebe ou pratica a
ação verbal.
Por exemplo:
No
trecho da música apresentada acima, pergunta-se:
“Quem vai contra o vento sem lenço e sem documento
no sol de quase dezembro?” Resposta: Eu.
Sendo assim, o “eu” é o sujeito que
pratica a ação de caminhar.
Agora, observe como identificar o sujeito oculto, indeterminado e o inexistente através de algumas músicas cantadas por Caetano Veloso, cantor e compositor brasileiro que deu voz às muitas contrariações vividas durante a Ditadura Militar no Brasil.
Sujeito oculto – É chamado assim porque não está evidenciado na oração. Mas não se preocupe, pois o identificamos pela desinência verbal de tempo (passado, presente, futuro), daí também ser chamado de elíptico ou desinencial.
“Alguma coisa acontece no meu coração que só quando cruza a Ipiranga e a Avenida São João é que quando [eu] cheguei por aqui eu nada entendi...” (Sampa)
Mesmo se omitíssemos o pronome eu, daria para o reconhecer pela desinência do verbo chegar, que no caso está no pretérito perfeito do indicativo (cheguei). Portanto, se isto acontecesse no trecho da bela música, teríamos um sujeito escondido, oculto.
Sujeito indeterminado – É quando perguntamos à frase quem fez tal ação a resposta for o pronome eles.
Reconhecemo-lo quando o verbo está na 3ª pessoa do plural ou do singular, sendo que no singular deve ser acompanhado pelo pronome “se”.
“... Disseram que eu voltei americanizada com o burro do dinheiro, que estou muito rica, que não suporto mais o breque do pandeiro e fico arrepiada ouvindo uma cuíca...” (Cantada por Caetano Veloso)
No caso, quem disse que eu voltei americanizada? Eles. Portanto, temos um sujeito que é indeterminado.
Sujeito inexistente – Como o próprio nome sugere, o sujeito inexiste, ou seja, a oração não possui sujeito. Ocorre principalmente quando temos verbos na 3ª pessoa do singular acompanhando fenômeno da natureza e com o verbo chegar no imperativo.
“... [Chega de saudade]. A realidade é que sem ela não há mais paz, não há beleza, é só tristeza e melancolia que não sai de mim, não sai de mim, não sai...” (Chega de saudade/Composição: Tom Jobim / Vinicius de Moraes)
Mas cuidado, pois se o fenômeno da natureza compuser oração de sentido figurado, esta não pertencerá ao que chamamos de oração sem sujeito, enquadrando-se em outra classe de sujeito.
“[Assim que o dia amanheceu lá no mar alto da paixão], dava pra ver o tempo ruir, cadê você, que solidão, esquecer ai de mim!...” (Oceano/Composição: Djavan/ Chico Buarque)