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Moda Inclusiva
Com que roupa eu vou? Conheça a importância do vestuário sob medida.

Inovações técnicas auxiliam as pessoas com deficiência a se vestirem melhor, mas ainda faltam profissionais especialistas na criação destas roupas.

Conquistas no mercado de trabalho e na educação e melhorias na formação profissional das pessoas com deficiência ampliaram a participação deste segmento na economia, chamando a atenção do comércio para este nicho de mercado.

Agora, a indústria da moda começa a se adaptar para atender melhor este segmento. Roupas com velcro, botões de pressão, tecidos especiais, e, principalmente, qualidade, começam a se incorporar ao vestuário das pessoas com deficiência.

Inovações técnicas auxiliam as pessoas com deficiência a se vestirem melhor, mas ainda faltam profissionais especialistas na criação destas roupas.

Uma exceção é a estilista e professora de moda, em curso universitário, Maria de Fátima Grave, que pesquisa o que chama de "moda inclusiva" há cerca de dez anos e há cinco anos realiza um "desfile inclusivo", em parceria com a Fundação Selma, ONG que oferece reabilitação física.

"Comecei fazendo roupa para um menino com hidrocefalia (apresenta cabeça com diâmetro aumentado), e como não havia roupas no mercado para ele, desenvolvi uma roupa especial", conta a estilista.

Ela passou então a pesquisar o mercado para saber o motivo de não haver roupas para pessoas com deficiência.
"Eu não entendia porque não valia à pena, segundo a ótica da indústria, desenvolver roupas para esse público, então comecei a estudar as deficiências e suas necessidades", lembra Maria de Fátima.

Ela levantou informações com diversos setores da saúde, como a fisioterapia e a terapia ocupacional, agrupando informações e entendendo melhor as diferenças destes indivíduos para adequar as roupas a eles.

"A roupa para esse público tem que ter algumas características, cada deficiência resulta num tipo diferenciado de roupa, e comecei a ver que este tipo de vestuário ainda era limitado no Brasil", salienta a estilista.

"O principal é que a roupa tenha não só facilidade para vestir, mas qualidade na construção da peça, porque não adianta ter uma abertura com velcro, por exemplo, e a calça ficar torcida no corpo, não adianta ter um botão moderno, se a camisa não se posiciona bem no indivíduo", exemplifica.

Recursos

Dentre os recursos utilizados na confecção de roupas para pessoas com deficiência, estão: botões de pressão, que facilitam a abotoadura; zíper com área de giro, que mesmo que a mão prenda ou a pessoa apresente um espasmo, o zíper se desloca e não arrebenta; roupas com etiquetas em braile; e velcro, útil para colocar e retirar, abrir e fechar a roupa.

"Há a necessidade também de verificar se o tecido não irrita a pele, para as pessoas com sensibilidade reduzida", lembra a estilista.

No entanto, ela destaca que o principal fator é técnico.

"Quando a técnica correta é empregada, além de dar conforto para o indivíduo, dá-se qualidade de vida, pois considera em sua confecção meios para que ela se adapte melhor ao corpo da pessoa", explica.
Para a psicóloga Ana Rita de Paula, tetraplégica e usuária de cadeira de rodas, "o jeito como a pessoa se veste reflete a maneira como ela aparece para o mundo, é seu cartão de visitas". Ela avalia que pessoas que apresentam alguma deficiência, muitas vezes ficam com a auto-estima muito baixa, e acabam se descuidando desse lado, o da aparência. "Mas acho que deveria ser justamente o contrário, pois o cuidado com a aparência ajuda a pessoa a sair dos momentos mais depressivos", avalia.

Para a psicóloga, a regra básica da moda para pessoas com deficiência é a mesma que rege o universo de qualquer outra: tirar proveito do que há de positivo e bonito. Ela dá dicas para a composição do vestuário: "tentar valorizar os pontos que a pessoa julga interessante e o que gosta em si, e tentar minimizar o que não gosta". A psicóloga também aconselha as usuárias de cadeiras de rodas "a não usar saia rodada, que podem enroscar na roda e causar um acidente".

Ela revela outro truque útil na hora de comprar peças novas: "é bom analisar se a roupa é só legal para pessoas em pé; tem que escolher uma que fique bem com a pessoa sentada também". Complementa, ainda, que "o fato de não poder andar não significa que você não possa escolher um sapato transado, inclusive com salto, por que não?".

A regra, acrescenta, vale também para os homens com deficiência, que "estão ficando cada vez mais vaidosos, e as mulheres gostam disso".

Mercado

Mas a moda inclusiva ainda sofre com a falta de alguns recursos. Segundo a estilista Maria de Fátima, "não há fornecedores específicos destes tipos de produtos no Brasil". Ela ressalta que a insuficiência de profissionais especializados também atrapalha o desenvolvimento desse segmento.
"Quando se trata de roupas para pessoas com deficiência, é uma outra moda, além do fashion, pois é necessário conhecer muito bem o corpo humano".

Outro problema apontado é a falta de pesquisas na área, necessárias para desenvolver este tipo de roupa. Mas isso não significa que não haja mercado para esse público. "Existe mercado no Brasil, um mercado novo, que está aí que vale a pena justamente por esse motivo", afirma Maria de Fátima, acrescentando que seria necessário um empresário com capacidade de investir, mas o empresariado ainda está "vendo o lucro primeiro, antes do benefício, e ambos têm que ser considerados paralelamente."

Fonte
Publicado no Jornal da AME.
Maria Isabel da Silva: bel_jornalista@yahoo.com.br

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