Ensino de Línguas
Recursos que efetivamente ensinam
A importância do material didático nas aulas de Língua Estrangeira
O processo de ensino aprendizagem de Língua Estrangeira (doravante LE) baseia-se no que a psicologia da aprendizagem e a lingüística trazem como contribuições na aprendizagem lingüística. Novas percepções a respeito desse processo surgiram nos últimos anos e elas sofreram grande influência de três visões: a behaviorista, a cognitivista e a sociointeracional (BRASIL, 1998).
Na visão behaviorista, o foco era colocado no processo de ensino e no professor. Isto é, acreditava-se que o professor detinha todo o conhecimento enquanto que o aluno era somente uma tabula rasa a ser moldada (BRASIL, 1998). Assim, ensinava-se por meio de repetitivos estímulos, melhor dizendo, o aluno era exposto a determinado item lexical e repetia exercícios de fixação propostos pelo professor.
Em cima da resposta do aluno vinha uma avaliação feita pelo professor, com o objetivo de eliminar qualquer tipo de erro imediatamente (BRASIL, 1998).
A visão cognitivista difere-se da behaviorista especialmente pela deslocação do foco do ensino da figura do professor para o aluno e suas estratégias na construção de sua aprendizagem de LE. O aluno elabora hipóteses sobre as regras da nova língua, com base no conhecimento que possui sobre a língua materna.
Nesse processo, o erro não é compreendido como algo a ser evitado, mas como parte da construção do conhecimento, como sinal de que a aprendizagem está em desenvolvimento (BRASIL, 1998).
Além de elaborar hipóteses sobre o funcionamento da LE, o aprendiz utiliza outras estratégias de aprendizagem, tais como a supergeneralização de regras para um contexto no qual tal regra não se aplica; e a hipercorreção, na qual o aluno, preocupado em corrigir seu conhecimento, corrige formas que estariam certas (BRASIL, 1998).
A grande contribuição da visão cognitivista é a atenção dada aos diferentes estilos individuais de aprendizagem que as pessoas possuem (BRASIL, 1998).
Entretanto, de acordo com os PCN-LE (BRASIL, 1998), há uma tendência em explicar a aprendizagem por meio de sua natureza sociointeracional, a qual pode ser ilustrada por meio de dois aspectos: o sociointeracional da linguagem e sociointeracional da aprendizagem.
O primeiro aspecto pontua que a aprendizagem de Língua Estrangeira deve centrar-se no engajamento discursivo dos alunos, considerando o seu posicionamento na cultura, história e sociedade. O segundo, além de considerar o posicionamento dos aprendizes na cultura, história e sociedade, enfatiza que a construção do conhecimento da linguagem acontece junto com alguém, neste caso, junto com professores e colegas colaboradores.
Tal processo tem como objetivo tornar o aluno um cidadão capaz de compreender e ser compreendido, além de apto a agir em um mundo social e autônomo em suas escolhas.
No entanto, para que esse processo aconteça, os PCN-LE (BRASIL, 1998) pontuam que elementos como a interação, a construção social do conhecimento e a reflexão são aspectos primordiais.
Nessa perspectiva, aluno e professor, e alunos e alunos protagonizam a construção social do conhecimento por meio da interação (BRASIL, 1998). O que fundamenta essa visão é que o fato de que aprender é uma forma de estar com alguém em um “mundo social, em um contexto histórico, cultural e institucional” que, conseqüentemente, gera processos cognitivos entre o aprendiz e um “participante de uma prática social” durante a interação mediada pela linguagem (BRASIL, 1998, P. 41). Segundo os PCN-LE (1998, P. 42),
“para que isso ocorra, o processo envolverá dificuldades e sucessos na compreensão, negociação das perspectivas diferentes dos participantes e o controle da interação por parte deles até que o conhecimento seja partilhado. Em última análise, o processo é caracterizado pela interação entre os significados ou conhecimento de mundo do parceiro mais competente (em sala de aula, o professor ou um colega) e os do aluno”.
O processo de aprendizagem de LE é visto pelos PCN-LE (BRASIL, 1998) como uma forma de co-participação social, isto é, a aprendizagem acontece junto com o professor ou um colega - sendo esses denominados parceiros colaboradores – na resolução de tarefas. Segundo Vygotsky (1934/2005, p.133), no processo de aprendizagem, o aluno constrói conceitos em colaboração com o professor ou um colega.
Isso significa que, ao se deparar com os obstáculos durante a aprendizagem, ele utiliza os meios fornecidos pelos seus parceiros nessa colaboração, passando a atuar gradativamente de maneira mais independente dessa vez sozinho. A ajuda do professor ou do colega, “invisivelmente presente, permite ao aluno resolver tais problemas” (VYGOTSKY,1934/2005, p.133).
Castro (2003, p. 83) menciona que,
“nesse processo [...], criam-se contextos de compreensão e produção compartilhados, nos quais, além de auxiliarem-se e ampararem-se emocionalmente na realização conjunta de tarefas orais ou escritas, como a discussão de tópicos de interesse comuns, por exemplo, os aprendizes negociam significados, muitas vezes, co-constróem, a própria forma, e, dessa forma, o conhecimento da outra língua é trazido à concretude da prática”.
Segundo os PCN-LE (1998, p. 41), “esse processo é, principalmente, mediado pela linguagem por meio da interação e por outros meios simbólicos”, que neste trabalho, por exemplo, é o material didático.
Da mesma forma, a reflexão é outro aspecto a ser tratado como elemento primordial na aprendizagem de LE, uma vez que o conhecimento metacognitivo envolve a consciência lingüística - conhecimentos de mundo, sistêmico e da organização textual -, bem como a consciência crítica de como esse conhecimento é usado pelas pessoas, nas relações sociais (BRASIL, 1998).
A partir disso, consideram-se neste trabalho que, a construção social do conhecimento, a reflexão e a co-participação são fatores cruciais no processo de aprendizagem de LE, uma vez que por meio da interação social e das relações metacognitivas estabelecidas no processo de aprendizagem, em que a linguagem é o instrumento primordial (VYGOTSKY, 1934/2005), possibilitam o engajamento discursivo dos aprendizes no desenvolvimento da LE, discurso que este trabalho propõe, como cidadãos críticos, capazes de agir em um mundo social (BRASIL, 1998).
Material didático à luz do sociointeracionismo
De acordo com Damianovic (2007), à luz da perspectiva sociointeracionista vygotskiana, podemos entender que material didático é um artefato de mediação, algo estruturado que tem por objetivo possibilitar ao aprendiz a (re) construção do seu comportamento por meio do estudo das atividades de linguagem. Tal comportamento, segundo a autora, é determinado por condições sócio-histórico-culturais já existentes.
A elaboração do material didático é uma atividade de linguagem entre o sujeito, no caso, o aprendiz e o meio – a escola, o mundo, a história a qual deveria proporcionar ao aprendiz a sua representação neste mundo sócio-histórico-culturalmente determinado (DAMIANOVIC, 2007).
Dentro dessa perspectiva, a autora pontua que uma atividade possui alguns aspectos: a ação é mediada por objetos contextualizados na história do indivíduo, tendo em vista sua posição sócio-histórico-cultural. Nesse processo, instrumentos são construídos e eles estão entre o indivíduo agente e o objeto/situação na qual ele age (DAMIANOVIC, 2007).
Entretanto, para que o instrumento seja de fato algo mediador, ele deve ser apropriado pelo sujeito, deve proporcionar a construção dos esquemas de sua utilização (DAMIANOVIC, 2007).
Há professores que acreditam que o material didático é um suporte para suas aulas, tendo como foco a figura do professor, dentro da visão behaviorista (BRASIL, 1998). Há ainda professores que entendem que o material didático serve de apoio à aprendizagem do aluno, o que nos remete à visão cognitivista da aprendizagem de LE, focando o aluno e suas estratégias de aprendizagem (BRASIL, 1998).
Há também professores que entendem que a função do material didático é de ser mediador entre o conhecimento e o aluno nas aulas, sinalizando o aspecto sociointeracional da aprendizagem de LE.
Acredito que a reflexão sobre o papel do material didático nas aulas de inglês é de suma importância, se entendemos que a interação proposta pelos PCN-LE (BRASIL, 1998) está diretamente ligada às atividades de linguagem que permitam ao aprendiz sua (re)construção do comportamento por meio do estudo dessas atividades.
Tal comportamento, de acordo com Damianovic (2007), auxilia na compreensão de possíveis problemas que professores possam apresentar no trabalho docente.
Referências:
ABREU-TARDELLI, Lília Santos. Elaboração de seqüências didáticas: ensino-aprendizagem de gêneros em língua inglesa. In: DAMIANOVIC, Maria Cristina (Org). Material Didático: Elaboração e Avaliação.Taubaté: Cabral editora e Livraria Universitária, 2007. p. 73-86.
BRASIL. Secretaria da Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais: terceiros e quarto ciclos do ensino fundamental: língua estrangeira. Brasília: MEC/SEF. 1998.
DAMIANOVIC, Maria Cristina. Material didático: de um mapa de busca ao tesouro a um artefato de mediação In: DAMIANOVIC, Maria Cristina (Org). Material Didático: Elaboração e Avaliação.Taubaté: Cabral editora e Livraria Universitária, 2007. p. 199-214.
CASTRO, Solange T. Ricardo de; ROMERO, Tania Regina de Souza. A Linguagem na formação do educador. In: CASTRO, Solange T. Ricardo de e SILVA, Elizabeth Ramos (Org.) Formação do profissional docente: Contribuições de pesquisas em lingüística Aplicada. Taubaté: Cabral, 2006.
CASTRO, Solange Teresinha Ricardo de. Transpondo as barreiras da língua materna na expressão oral (e escrita) em língua estrangeira: um estudo com alunos de inglês de um Curso de Letras. In: CASTRO, Solange T. Ricardo de (Org.). Pesquisas em Lingüística Aplicada: Novas Contribuições. Taubaté: Cabral Editora e Livraria Universitária, 2003. p. 67-89.
SHIMOURA, Alzira; LIBERALI, Fernanda. Material didático para a construção da formação crítica: alguns passos para a realização da reunião pedagógica. In: DAMIANOVIC, Maria Cristina (Org). Material Didático: Elaboração e Avaliação.Taubaté: Cabral editora e Livraria Universitária, 2007. p. 199-214.
VYGOTSKY, L. S. Pensamento e linguagem. ed. 3. São Paulo: Martins Fontes, 2005. Tradução: Jefferson Luiz Camargo.