Erika de Souza Bueno Coordenadora Educacional da empresa Planeta Educação; Professora e consultora de Língua Portuguesa pela Universidade Metodista de São Paulo; Articulista sobre assuntos de língua portuguesa, educação e família; Editora do Portal Planeta Educação (www.planetaeducacao.com.br). E-mail: erika.bueno@fk1.com.br
Chega de Saudade / Tom Jobim e Vinícius de Moraes
Flexões Verbais com Alguns Nomes da MPB
“Vai minha tristeza e diz a ela que sem ela não
pode ser. Diz-lhe numa prece que ela regresse porque eu não
posso mais sofrer. Chega de saudade, a realidade é que sem
ela não há paz, não há
beleza é só tristeza e a melancolia que
não sai de mim, não sai de mim, não
sai...”.
Nota-se nesta primeira estrofe da bela música de Tom Jobim e
Vinícius de Moraes, algo muito intrigante que nos conduz
à seguinte questão: Como algo abstrato pode
assumir características físicas a ponto de
solicitar o retorno de alguém?
Pois bem, é natural que ao expressar sentimentos como
tristezas, frustrações e angústias,
autores e compositores transferirem para o abstrato,
características que só seriam
possíveis a seres reais.
Isto normalmente ocorre porque na Língua Portuguesa,
palavras que pertencem a uma determinada classe gramatical podem
assumir funções de classes distintas, dependendo
do contexto em que elas estejam envolvidas. Para compreender isto,
vamos pensar na classe gramatical da Língua Portuguesa que
mais sofre flexão, ou seja, os verbos.
Os verbos são palavras variáveis que exprimem
ações, estados, qualidades ou
existências. Várias vezes os utilizamos como
substantivo. Quando isto ocorre, dizemos que os verbos estão
em formas nominais.
Abaixo, elucidaremos o que ocorre aos verbos quando estão
nestas formas, ou seja, no infinitivo, particípio e
gerúndio.
No infinitivo: Evidencia-se a ação que o verbo
está sugerindo.
“... Quando a luz dos olhos meus e a luz dos olhos teus
resolvem se encontrar... Ai, que bom que isso é meu Deus,
que frio que me dá o encontro desse olhar...”.
(Pela luz dos olhos teus – Vinícius de Moraes /
Tom Jobim)
No particípio: Resultado de uma ação
terminada, podendo ser flexionado em número,
gênero e grau.
“A insensatez que você fez,
coração mais sem cuidado. Fez chorar de dor o seu
amor, um amor tão delicado...” (Insensatez - Tom
Jobim/Vinícius de Moraes)
Compreenda que quando o verbo não está
relacionado a tempo, ou seja, quando está apenas indicando
estado, funciona verdadeiramente como adjetivo e pode ser chamado de
adjetivo verbal.
“... Moça do corpo dourado do sol de lpanema, o
seu balançado é mais que um poema, é a
coisa mais linda que eu já vi passar.. (Garota de Ipanema
– Tom Jobim/Vinícius de Moraes).
No caso, o verbo “dourado” está
caracterizando o substantivo “corpo”.
No gerúndio: Quando modificar verbos, advérbios e
adjetivos funcionará como advérbios (palavras que
modificam estas três classes citadas). Semelhantemente,
quando o gerúndio fornecer informação
ao substantivo, exercerá função de
adjetivo.
“Por céus e mares eu andei. Vi um poeta e vi um
rei na esperança de saber o que é o amor.
Ninguém sabia me dizer, eu já queria
até morrer quando um velhinho com uma flor assim falou:
- O amor é o carinho, é o espinho que
não se vê em cada flor, é a vida quando
chega sangrando aberta em pétalas de amor”. (O
velho e a flor - (Toquinho e Vinícius de Moraes)
Em que “sangrando” agiu como advérbio,
pois modificou o verbo “chegar”.
“... Dizem até que ando rindo demais e que eu
conto anedotas demais; Que eu não largo o cigarro e dirijo o
meu carro correndo, chegando no mesmo lugar”. (Demais
– Tom Jobim / Aloysio de Oliveira).
Neste caso, o verbo no gerúndio (correndo) forneceu
informação ao substantivo (carro), ou seja,
exerceu função de adjetivo. Vale lembrar, que a
forma composta do verbo no gerúndio (como nos exemplos
acima) indica uma ação já terminada,
ao passo que na forma simples sugere uma ação em
andamento.
“É bom passar uma tarde em Itapoã. Ao
sol que arde em Itapoã. Ouvindo o mar de Itapoã.
Falar de amor em Itapoã”.(Tarde em
Itapoã – Tom Jobim / Vinicius de Moraes)
Fontes: Estudos de Língua Portuguesa – Douglas
Tufano (Editora Moderna) e http://vagalume.uol.com.br/