Assaltaram a Gramática
Um toque na Língua
Aula 15
"A competência para grafar corretamente as palavras está diretamente ligada ao contato íntimo com essas mesmas palavras. Isso significa que a freqüência do uso é que acaba trazendo a memorização da grafia correta. Além disso, deve-se criar o hábito de esclarecer as dúvidas com as necessárias consultas ao dicionário. Trata-se de um processo constante, que produz resultados a longo prazo”.
(Pasquale Cipro Neto & Ulisses Infante, Gramática da Língua Portuguesa).
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"Ensinar é um exercício de imortalidade. De alguma forma, continuamos a viver naqueles cujos olhos aprenderam a ver o mundo pela magia da nossa palavra. O Professor, assim, não morre jamais..." - Rubem Alves.
UM
TOQUE NA LÍNGUA - Lição15 (27 de junho
de 2008)
Chegando
à sala de aula, onde os alunos trocam alegres
comentários sobre todos os fatos pitorescos que ocorreram na
festa junina, promovida pelo colégio, o Professor Edu
é alvejado de imediato pela pergunta incisiva do
irônico Lucas:
-
Bom dia, Mestre! Como foi o seu "Day After", depois de ter comido dois
pratos daquela exótica canjica com "g"? Ahahah...
Será que foi igual ao meu?...
-
Bom dia, Lucas! Bom dia, turma! E como foi o seu "Dia Seguinte", meu
caro e raro Lucas?
-
Ah, meu bom Mestre! De madrugada, eu vivi momentos de um verdadeiro
rei: da cama para o trono, do trono para cama... da cama para o trono,
do trono para cama... Puts! Não foi fácil esta
experiência real!
-
Olha, meu rapaz! Devo confessar-lhe que, assim como você,
também tive
os meus momentos de realeza nessa mesma madrugada.
Não chegaram a ser de um rei, mas pode me colocar na categoria de um príncipe. Ahahah... Só sei de uma coisa: canjicas exóticas, com "g" ou com "j" mesmo, nunca mais!!! Prefiro ficar na minha condição de plebeu, que é muito mais segura e confortável!
- Eu também, Mestre! Mas essa história toda
acabou me despertando uma outra curiosidade, quando o Senhor me falou
que algumas palavras que se escrevem com a letra "j" têm
origem indígena ou africana, como jibóia,
pajé, jerico, berinjela, jerimum, jiló, etc.,
etc., etc., não foi isso mesmo, Mestre?
-
Guardou bem, hein, meu rapaz!? E qual é a sua curiosidade
agora em relação a este ponto?
-
É que como este assunto de índios e africanos me
interessa um pouco,
gostaria de saber se também podemos aplicar essa regrinha em
palavras que são escritas com "x" ou "ch", pois ainda me
confundo muito com isso...
-
Podemos, sim, Lucas. Veja bem: devemos empregar a letra "x" nas
palavras de origem indígena ou africana e também
nas palavras inglesas aportuguesadas. Por exemplo, os
vocábulos xavante, xingar, xique-xique, xará,
xerife e xampu devem ser grafados com "x".
- Legal, Mestre! Tem mais alguns exemplos aí pra gente anotar e tirar as dúvidas?
- Tem, sim, Zé Luís. Anote aí em sua
reglete: bexiga, bruxa, caxumba, laxativo, laxante, maxixe,
paxá, muxoxo, quixotesco, rixa, xarope, xícara,
xucro, xereta, capixaba, faxina, lixo, graxa, praxe, puxar, relaxar,
roxo, xaxim, xenofobia...
-
Uau! A Xuxa é que ia gostar desse repertório todo
de palavras com "x", né, Professor Edu?
-
creio que sim, Luana! Acho que, para ela, não deveria
existir o "ch"; e todas as palavras que tivessem o som desse fonema
deveriam ser grafadas com "x", de xuxa, como seus produtores fizeram
com diversos termos e expressões que sempre envolveram seu
Mundo Mágico. Quem aqui não se lembra do "Xou" da
Xuxa, do macaco "Xico" Menega...
- Então, em que casos devemos usar o "x", Professor Edu?
- Vejam bem: de início, quero explicar que devemos empregar
o "x" após os ditongos, que são os encontros
vocálicos de uma vogal com uma semivogal em uma mesma
sílaba. Assim, temos ameixa, feixe, caixa, trouxa, frouxo,
gueixa, peixe, peixada, queixo, queixada, eixo, baixo, encaixar,
paixão, rebaixar, etc.
-
Professor, e como em toda boa regrinha, nesta a gente encontra alguma
exceção?
-
existe, sim, Zé Luís. Temos a palavra
recauchutar, mais seus derivados, e caucho, que é uma
espécie de árvore que produz o látex.
- Ah! Dessa exceção eu vou lembrar sempre, Mestre, porque meu pai só usa pneus recauchutados. É pão-duro pra caramba! Ahahah...
- Não sabia desse aspecto avaro de seu pai, Zé Luís! Bem, mas vamos continuar. Devemos também empregar o "x" Após as sílabas "en" e "me", como nas palavras enxada, enxurrada, enxame, enxaqueca, enxerido, enxovalho, enxugar, mexer, mexilhão, mexerico, mexerica, mexicano, etc.
Uma observação agora: Palavras como enchente, encharcar, enchiqueirar, enchumaçar, embora se iniciem pela sílaba "en", são grafadas com "ch" porque são palavras formadas por prefixação, ou seja, pelo prefixo "en" mais o radical de palavras que tenham o "ch". Por exemplo: enchente, encher e seus derivados possuem o prefixo "en" associado ao radical da palavra "cheio"; em encharcar, temos o prefixo "en" mais o radical de “charco"; em enchiqueirar, vemos o prefixo "en" mais o radical de "chiqueiro"; e enchumaçar, que tem o prefixo "en" juntamente com o radical de "chumaço".
E
Em relação à regra da
sílaba "me", uma exceção é
O SUBSTANTIVO "mecha"; não confundir com a forma verbal
"mexa" do verbo mexer, que deve ser grafada com "x".
-
E por falar em mecha... o Senhor já viu as mechas douradas
que a Professora Sônia mandou fazer no cabelo dela? Ficou dez!
- Sabe que eu ainda nem reparei nesse detalhe, Lucas?
- Será, ou não será, Mestre?... A
Professora Sônia ficou uma tremenda gata com aquele cabelo, e
o Senhor me diz que ainda nem reparou nela!? Hummmm... Fala
sério, Mestre!
-
É que nas escolas em que trabalho só tenho olhos
para os meus queridos alunos!
-
Ahahahah, galera, o Professor Edu agora, além de ser um
ótimo professor de português, é
também um ótimo contador de piadas! Conta outra,
Mestre! Ahahah...
- Calma, turma! Olha a zoeira! Prometo que vou reparar com mais atenção nas novas madeixas da Professora Sônia e depois conto para vocês o que achei delas, certinho? Opa! Olha aí mais uma palavrinha com "x": madeixa, que é o mesmo que mecha com "ch".
E
aproveitando a deixa, vou lhes ditar mais algumas palavras com "ch".
Anotem aí: charque, chiste, chicória,
chimarrão, ficha, cochicho, cochichar, estrebuchar,
fantoche, flecha, inchar, pechincha, pechinchar, penacho, salsicha,
broche, arrocho, apetrecho, bochecha, brecha, chuchu, cachimbo,
comichão, chope, chute, debochar, fachada, fechar, linchar,
mochila, piche, pichar, tchau...
-
Tchau, Professor Edu! Até amanhã!!!
-
O que é isso, Lucas! A aula ainda não acabou...
- Mas o Senhor já tava dando tchau pra gente; não foi, galera?
- Muito engraçadinho! O termo tchau também fazia
parte dos exemplos das palavras que levam "ch", meu querido xaropinho!
-
E bota xarope nisso, Professor Edu! O Lucas é um purgante
dos brabos!!!
-
Gente, vocês hoje estão numa
agitação só. Vamos sossegar o facho
até o fim da aula!
-
Faxo com "x", ou facho com "ch", Mestre?
-
Facho com ch, Lucas. E não me vá confundir com
faixo, que é a primeira
pessoa do singular do presente do indicativo do verbo faixar, ou seja,
ligar com faixas, enfaixar, que é a vontade que estou tendo
neste
momento para fechar sua boca e me deixar terminar de explicar este
ponto
de ortografia!
- Calma, meu bom Mestre! Vou fechar, com "ch", minha linda boquinha agora mesmo! Mummmmm...
- Muito bem. Então, turma, para terminar este ponto sobre o emprego do “x" e do "ch", quero dizer que existem vários casos de palavras homófonas, isto é, palavras que possuem a mesma pronúncia, mas a grafia diferente. Nelas a grafia se distingue pelo contraste entre o "x" e o "ch".
Vejamos alguns pares destas palavras homófonas: temos o chá, com “ch", um tipo de bebida feito com plantas; e o xá, com "x", que é o título do ex soberano do Irã, antiga Pérsia. Quem não tem vontade de ter um chalé, com "ch", um tipo de casa campestre de estilo suíço; e qual a mulher que não fica bem charmosa e elegante com um belo xale, com "x", em seus ombros!? Problemas com cheque, com "ch", vocês, um dia, certamente terão; e quem gosta de jogar xadrez, certamente também já deu e recebeu um xeque ou mesmo um xeque-mate, com "x".
Xeque, com a variante xeique, também pode ser um chefe de
tribo, ou um soberano, entre os árabes.
Temos ainda o cocho, com "ch", que pode ser uma espécie de
Caixa onde
gira o rebolo ou esmeril nas amoladeiras, ou um Recipiente de madeira
onde se dá de comer aos animais; e o coxo, que é
aquela pessoa que coxeia, que manca.
Ah, lembrei agora da brocha, com "ch", que pode ser tanto um prego curto, de cabeça larga e chata, também conhecido como tacha, com "ch", quanto uma correia de couro que passa por baixo do pescoço do boi, prendendo-o à canga. E a broxa, com "x", que é aquele Pincel grande, de pêlos ordinários, bastante empregado em caiação e noutros tipos de pintura, que não se requer muito apuro, muito requinte.
Esta palavra também tem seu emprego chulo, significando um Indivíduo sem potência sexual. E como falei em tacha, com "ch", digo que também existe taxa, com "x", que significa imposto, tributo...
- Mestre, vou abrir minha santa boquinha só para lhe fazer
uma perguntinha: por que quando o Senhor falou em broxa, com "x", o
Senhor olhou diretamente pra mim?
-
Ahahah, não se preocupe, Lucas! Não estou pondo
em xeque a sua virilidade, ouviu?! Eu só olhei para
você agora no final das minhas
explicações para ver se você estava
realmente prestando atenção à aula.
Foi só coincidência, meu rapaz!
-
Olha, galera! Quero deixar bem claro aqui, principalmente pras minas,
que sou um cara macho, com "ch". Muito macho mesmo!!!
- Tá bom, Lucas! Depois dessa, só dando um intervalo para beber uma água e tomar um cafezinho. Gente, quinze minutinhos para depois fazermos uma bateria de exercícios sobre os toques de hoje, falou!? Até já!