Planeta Educação

Assaltaram a Gramática

Prof. Eduardo Fernandes Paes  Formado em Letras (Português-Literatura) pela Universidade Gama Filho - RJ -, com especialização em Tiflopedagogia. Promove cursos de Atualização em Língua Portuguesa, Informática para cegos e Sistema Braille.

Um toque na Língua
Aula 15

Lição 15

"A competência para grafar corretamente as palavras está diretamente ligada ao contato íntimo com essas mesmas palavras. Isso significa que a freqüência do uso é que acaba trazendo a memorização da grafia correta. Além disso, deve-se criar o hábito de esclarecer as dúvidas com as necessárias consultas ao dicionário. Trata-se de um processo constante, que produz resultados a longo prazo”.

(Pasquale Cipro Neto & Ulisses Infante, Gramática da Língua Portuguesa).

***

PROCURE LER TAMBÉM EM BRAILLE, ELE O AJUDARÁ A FIXAR MELHOR A GRAFIA DAS PALAVRAS.

***

"Ensinar é um exercício de imortalidade. De alguma forma, continuamos a viver naqueles cujos olhos aprenderam a ver o mundo pela magia da nossa palavra. O Professor, assim, não morre jamais..." - Rubem Alves.

UM TOQUE NA LÍNGUA - Lição15 (27 de junho de 2008)

Chegando à sala de aula, onde os alunos trocam alegres comentários sobre todos os fatos pitorescos que ocorreram na festa junina, promovida pelo colégio, o Professor Edu é alvejado de imediato pela pergunta incisiva do irônico Lucas:

- Bom dia, Mestre! Como foi o seu "Day After", depois de ter comido dois pratos daquela exótica canjica com "g"? Ahahah... Será que foi igual ao meu?...

- Bom dia, Lucas! Bom dia, turma! E como foi o seu "Dia Seguinte", meu caro e raro Lucas?

- Ah, meu bom Mestre! De madrugada, eu vivi momentos de um verdadeiro rei: da cama para o trono, do trono para cama... da cama para o trono, do trono para cama... Puts! Não foi fácil esta experiência real!

- Olha, meu rapaz! Devo confessar-lhe que, assim como você, também tive
os meus momentos de realeza nessa mesma madrugada. 

Não chegaram a ser de um rei, mas pode me colocar na categoria de um príncipe. Ahahah... Só sei de uma coisa: canjicas exóticas, com "g" ou com "j" mesmo, nunca mais!!! Prefiro ficar na minha condição de plebeu, que é muito mais segura e confortável!

- Eu também, Mestre! Mas essa história toda acabou me despertando uma outra curiosidade, quando o Senhor me falou que algumas palavras que se escrevem com a letra "j" têm origem indígena ou africana, como jibóia, pajé, jerico, berinjela, jerimum, jiló, etc., etc., etc., não foi isso mesmo, Mestre?

- Guardou bem, hein, meu rapaz!? E qual é a sua curiosidade agora em relação a este ponto?

- É que como este assunto de índios e africanos me interessa um pouco,
gostaria de saber se também podemos aplicar essa regrinha em palavras que são escritas com "x" ou "ch", pois ainda me confundo muito com isso...

- Podemos, sim, Lucas. Veja bem: devemos empregar a letra "x" nas palavras de origem indígena ou africana e também nas palavras inglesas aportuguesadas. Por exemplo, os vocábulos xavante, xingar, xique-xique, xará, xerife e xampu devem ser grafados com "x".

- Legal, Mestre! Tem mais alguns exemplos aí pra gente anotar e tirar as dúvidas?

- Tem, sim, Zé Luís. Anote aí em sua reglete: bexiga, bruxa, caxumba, laxativo, laxante, maxixe, paxá, muxoxo, quixotesco, rixa, xarope, xícara, xucro, xereta, capixaba, faxina, lixo, graxa, praxe, puxar, relaxar, roxo, xaxim, xenofobia...

- Uau! A Xuxa é que ia gostar desse repertório todo de palavras com "x", né, Professor Edu?

- creio que sim, Luana! Acho que, para ela, não deveria existir o "ch"; e todas as palavras que tivessem o som desse fonema deveriam ser grafadas com "x", de xuxa, como seus produtores fizeram com diversos termos e expressões que sempre envolveram seu Mundo Mágico. Quem aqui não se lembra do "Xou" da Xuxa, do macaco "Xico" Menega...

- Então, em que casos devemos usar o "x", Professor Edu?

- Vejam bem: de início, quero explicar que devemos empregar o "x" após os ditongos, que são os encontros vocálicos de uma vogal com uma semivogal em uma mesma sílaba. Assim, temos ameixa, feixe, caixa, trouxa, frouxo, gueixa, peixe, peixada, queixo, queixada, eixo, baixo, encaixar, paixão, rebaixar, etc.

- Professor, e como em toda boa regrinha, nesta a gente encontra alguma exceção?

- existe, sim, Zé Luís. Temos a palavra recauchutar, mais seus derivados, e caucho, que é uma espécie de árvore que produz o látex.

- Ah! Dessa exceção eu vou lembrar sempre, Mestre, porque meu pai só usa pneus recauchutados. É pão-duro pra caramba! Ahahah...

- Não sabia desse aspecto avaro de seu pai, Zé Luís! Bem, mas vamos continuar. Devemos também empregar o "x" Após as sílabas "en" e "me", como nas palavras enxada, enxurrada, enxame, enxaqueca, enxerido, enxovalho, enxugar, mexer, mexilhão, mexerico, mexerica, mexicano, etc.

Uma observação agora: Palavras como enchente, encharcar, enchiqueirar, enchumaçar, embora se iniciem pela sílaba "en", são grafadas com "ch" porque são palavras formadas por prefixação, ou seja, pelo prefixo "en" mais o radical de palavras que tenham o "ch". Por exemplo: enchente, encher e seus derivados possuem o prefixo "en" associado ao radical da palavra "cheio"; em encharcar, temos o prefixo "en" mais o radical de “charco"; em enchiqueirar, vemos o prefixo "en" mais o radical de "chiqueiro"; e enchumaçar, que tem o prefixo "en" juntamente com o radical de "chumaço". 

E Em relação à regra da sílaba "me", uma exceção é O SUBSTANTIVO "mecha"; não confundir com a forma verbal "mexa" do verbo mexer, que deve ser grafada com "x".

- E por falar em mecha... o Senhor já viu as mechas douradas que a Professora Sônia mandou fazer no cabelo dela? Ficou dez!

- Sabe que eu ainda nem reparei nesse detalhe, Lucas?

- Será, ou não será, Mestre?... A Professora Sônia ficou uma tremenda gata com aquele cabelo, e o Senhor me diz que ainda nem reparou nela!? Hummmm... Fala sério, Mestre!

- É que nas escolas em que trabalho só tenho olhos para os meus queridos alunos!

- Ahahahah, galera, o Professor Edu agora, além de ser um ótimo professor de português, é também um ótimo contador de piadas! Conta outra, Mestre! Ahahah...

- Calma, turma! Olha a zoeira! Prometo que vou reparar com mais atenção nas novas madeixas da Professora Sônia e depois conto para vocês o que achei delas, certinho? Opa! Olha aí mais uma palavrinha com "x": madeixa, que é o mesmo que mecha com "ch". 

E aproveitando a deixa, vou lhes ditar mais algumas palavras com "ch". Anotem aí: charque, chiste, chicória, chimarrão, ficha, cochicho, cochichar, estrebuchar, fantoche, flecha, inchar, pechincha, pechinchar, penacho, salsicha, broche, arrocho, apetrecho, bochecha, brecha, chuchu, cachimbo, comichão, chope, chute, debochar, fachada, fechar, linchar, mochila, piche, pichar, tchau...

- Tchau, Professor Edu! Até amanhã!!!

- O que é isso, Lucas! A aula ainda não acabou...

- Mas o Senhor já tava dando tchau pra gente; não foi, galera?

- Muito engraçadinho! O termo tchau também fazia parte dos exemplos das palavras que levam "ch", meu querido xaropinho!

- E bota xarope nisso, Professor Edu! O Lucas é um purgante dos brabos!!!


- Gente, vocês hoje estão numa agitação só. Vamos sossegar o facho até o fim da aula!

- Faxo com "x", ou facho com "ch", Mestre?

- Facho com ch, Lucas. E não me vá confundir com faixo, que é a primeira pessoa do singular do presente do indicativo do verbo faixar, ou seja, ligar com faixas, enfaixar, que é a vontade que estou tendo neste
momento para fechar sua boca e me deixar terminar de explicar este ponto de ortografia!

- Calma, meu bom Mestre! Vou fechar, com "ch", minha linda boquinha agora mesmo! Mummmmm...

- Muito bem. Então, turma, para terminar este ponto sobre o emprego do “x" e do "ch", quero dizer que existem vários casos de palavras homófonas, isto é, palavras que possuem a mesma pronúncia, mas a grafia diferente. Nelas a grafia se distingue pelo contraste entre o "x" e o "ch".

Vejamos alguns pares destas palavras homófonas: temos o chá, com “ch", um tipo de bebida feito com plantas; e o xá, com "x", que é o título do ex soberano do Irã, antiga Pérsia. Quem não tem vontade de ter um chalé, com "ch", um tipo de casa campestre de estilo suíço; e qual a mulher que não fica bem charmosa e elegante com um belo xale, com "x", em seus ombros!? Problemas com cheque, com "ch", vocês, um dia, certamente terão; e quem gosta de jogar xadrez, certamente também já deu e recebeu um xeque ou mesmo um xeque-mate, com "x".

Xeque, com a variante xeique, também pode ser um chefe de tribo, ou um soberano, entre os árabes. Temos ainda o cocho, com "ch", que pode ser uma espécie de Caixa onde
gira o rebolo ou esmeril nas amoladeiras, ou um Recipiente de madeira onde se dá de comer aos animais; e o coxo, que é aquela pessoa que coxeia, que manca. 

Ah, lembrei agora da brocha, com "ch", que pode ser tanto um prego curto, de cabeça larga e chata, também conhecido como tacha, com "ch", quanto uma correia de couro que passa por baixo do pescoço do boi, prendendo-o à canga. E a broxa, com "x", que é aquele Pincel grande, de pêlos ordinários, bastante empregado em caiação e noutros tipos de pintura, que não se requer muito apuro, muito requinte. 

Esta palavra também tem seu emprego chulo, significando um Indivíduo sem potência sexual. E como falei em tacha, com "ch", digo que também existe taxa, com "x", que significa imposto, tributo...

- Mestre, vou abrir minha santa boquinha só para lhe fazer uma perguntinha: por que quando o Senhor falou em broxa, com "x", o Senhor olhou diretamente pra mim?

- Ahahah, não se preocupe, Lucas! Não estou pondo em xeque a sua virilidade, ouviu?! Eu só olhei para você agora no final das minhas explicações para ver se você estava realmente prestando atenção à aula. Foi só coincidência, meu rapaz!

- Olha, galera! Quero deixar bem claro aqui, principalmente pras minas, que sou um cara macho, com "ch". Muito macho mesmo!!!

- Tá bom, Lucas! Depois dessa, só dando um intervalo para beber uma água e tomar um cafezinho. Gente, quinze minutinhos para depois fazermos uma bateria de exercícios sobre os toques de hoje, falou!? Até já!

Avaliação deste Artigo: 4 estrelas