Planeta Educação

A Semana - Opiniões

João Luís de Almeida Machado é consultor em Educação e Inovação, Doutor e Mestre em Educação, historiador, pesquisador e escritor.

Cinema na Escola no Brasil
A cultura ao alcance dos alunos

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O que é possível aprender com os filmes?
(imagem do filme "Cinema Paradiso")

"Um projeto de lei do senador Cristovam Buarque (PDT-DF), que prevê a exibição obrigatória de obras audiovisuais de produção nacional nas escolas de educação básica do País, foi apresentado no início da semana no Senado Federal e deve causar certa discussão. Atualmente, o projeto está em debate na Comissão de Educação, Cultura e Esporte do senado. O projeto de lei 185/8 foi protocolado este mês e estabelece que a exibição de filmes brasileiros se tornará um componente curricular de complemento à proposta pedagógica das escolas, sendo a sua exibição obrigatória por no mínimo duas horas mensais." (Fonte: Estadão)

A notícia acima, publicada no último dia 06 de junho de 2008, reitera um movimento que a cada dia se torna mais vivo e intenso na educação brasileira, a inserção de elementos da produção cultural nacional no cotidiano das salas de aula como subsídio de valor para o enriquecimento dos estudantes. O cinema é, certamente, um dos elementos que está sendo percebido como excepcional ferramenta de reforço a bagagem educacional e cultural para nossas escolas.

E esse movimento não é percebido apenas a partir da ação de nossos políticos e legisladores comprometidos com uma educação de maior qualidade, como o senador Cristovam Buarque. Já há alguns anos, algumas universidades públicas e privadas passaram a requisitar e/ou sugerir que as produções cinematográficas (nacionais e estrangeiras) têm valor e relevância cultural ao inserir em seus exames de admissão (vestibulares) as listas de filmes sugeridos.

Outra matéria jornalística recentemente publicada pela Folha de São Paulo (08/06/08) acerca da relação dos paulistanos com o cinema nacional mostra que nossas produções ganharam prestígio, público e qualidade ao longo da última década, o que impulsionou alguns filmes nacionais ao topo das bilheterias no país. Apenas para citar alguns exemplos, basta lembrar que desde “Central do Brasil”, passando por “Cidade de Deus”, “Se eu fosse você”, “Ônibus 174”, “Dois filhos de Francisco”, “O ano em que meus pais saíram de férias” e desembocando recentemente em “Tropa de Elite”, vimos que prêmios e reconhecimento de crítica e/ou público se tornaram uma prática comum no país.

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Imagem do filme "O ano em que meus pais sairam de férias", de Cao Hamburguer, indicado a vários prêmios e vencedor de festivais nos anos de 2007 e 2008. Sucesso de crítica e público

Se não bastasse isso, podemos dizer a partir de nossa própria experiência no portal Planeta Educação - que possui a coluna Cinema na Educação há sete anos e que, recentemente, lançou também o blog “Aprendendo com a Sétima Arte”, dispondo de mais de 200 materiais sobre o tema entre os recursos que oferece a educadores e estudantes – que a procura é mais do que expressiva sobre o tema.

Diariamente temos mais de 15 mil pageviews e, desse todo, aproximadamente 20% das visitas são direcionadas a artigos sobre o Cinema na Escola. Isso representa, em números, o equivalente a:

  • 3 mil pageviews diárias;
  • 90 mil pageviews mensais;
  • Mais de um milhão de pageviews por ano;

Se não bastasse isso, grande parte dos e-mails que recebemos diariamente são comentários, críticas, sugestões e pedidos de orientações quanto ao uso de filmes na escola. E o correio eletrônico segue a mesma proporção das leituras de nossas páginas, ou seja, de cada 10 e-mails recebidos, pelo menos 2 ou 3 são sobre Cinema na Escola.

Corroborando essa prática, o Planeta Educação presta serviços na área de Cinema na Escola na cidade de Bertioga, no Litoral Sul Paulista, com a disponibilização de equipamentos, recursos didáticos e cursos de formação (palestras e oficinas) aos educadores das escolas municipais daquela rede de ensino. Estive em Bertioga nas três últimas semanas para encontros com os professores, atendendo turmas de aproximadamente 60 pessoas, apresentando conceitos teóricos e ações práticas de uso dos filmes em sala de aula.

Como a rede municipal de ensino daquele município atende principalmente o ensino fundamental, estamos realizando um trabalho direcionado a esse público, com ênfase em animações e filmes para o público infanto-juvenil. Há também um grupo de professores que trabalha com a Educação de Jovens e Adultos (EJA) e, para eles, o trabalho é diferenciado, com produções focadas em alunos dessa faixa etária.

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Imagens do 2º e do 3º encontro sobre Cinema na Escola em Bertioga, Litoral sul de São Paulo, realizado em Março de 2008

Ainda como reforço a idéia e a prática com cinema na escola, tive a oportunidade de lançar pela Editora Intersubjetiva o livro “Na Sala de Aula com a Sétima Arte – Aprendendo com o Cinema”, livro através do qual reproduzo alguns de meus principais artigos sobre o uso de filmes em sala de aula. Com a publicação do livro quisemos criar condições de acesso às práticas e teorias sobre o Cinema na Escola para professores que não tenham facilidade ou possibilidade de acesso à internet. A repercussão está sendo muito boa e a aceitação do livro também.

Ao mesmo tempo, ao abrirmos espaços no blog e na coluna sobre Cinema na Educação, estamos tendo a oportunidade de verificar as opiniões e o uso dos filmes em sala de aula por professores do Brasil inteiro. Há experiências interessantes e enriquecedoras, críticas pertinentes, sugestões de outros títulos (que ainda não tivemos chance de analisar) e a busca de apoio e troca de experiências. Vale a pena participar e conhecer.

Para complementar, devo dizer que certamente compreendemos a educação como um processo de enriquecimento e formação global, ou seja, que exige não apenas o conhecimento do cinema, mas de todas as demais produções culturais – como o teatro, a dança, a música, as artes plásticas... Assim como cabe afirmar que o uso dos filmes na escola complementa as ações pedagógicas, mas não substitui ou aposenta outras ações e recursos.

Os livros, por exemplo, são de fundamental importância. As explanações dos professores, assim como tarefas e avaliações ou trabalhos em grupo, continuam muito vivas e são de grandiosa utilidade e importância para a educação. A fusão de todos esses elementos com as novas tecnologias de informação e comunicação – como os computadores, a internet e o cinema na escola – é que delineia e define os rumos da educação daqui em diante, circunstância essa que deve ser plenamente entendida e para qual os profissionais da educação devem se preparar.

E se não bastasse tudo isso, vale sempre lembrar que vivemos uma era em que as produções audiovisuais ganham cada vez mais espaço e destaque. Há pesquisadores que não se cansam de nos alertar que as novas gerações são eminentemente visuais e que, certamente, isso acarreta para a educação a necessidade de preparar os estudantes para aprender a ler não apenas textos, mas também fotos, quadros, filmes...

Obs.: Informo às pessoas que se interessarem em adquirir o livro “Na Sala de Aula com a Sétima Arte” que é possível comprar a obra através das livrarias virtuais Martins Fontes Paulista (www.martinsfontespaulista.com.br), Cia dos Livros (www.ciadoslivros.com.br) ou ainda pelo site da Editora Intersubjetiva (www.intersubjetiva.com.br).

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