A Semana - Opiniões
A escola com que sempre sonhei e que não imaginei existir tão próxima...
Nossa visita ao Colégio Engenheiro Juarez Wanderley
Não acredito em fórmulas mágicas. Nem tampouco creio que existam idéias tão fantásticas que irão, por si só, revolucionar a educação ou qualquer área de ação humana. Penso apenas em trabalho sério, planejado em detalhes, estruturado passo a passo, contando com o apoio e dedicação de um grupo de profissionais bem formados e com suficiente clareza quanto aos objetivos que persegue.
Quando pensei nas linhas do presente texto, não consegui tirar de minha cabeça o título de um belíssimo livro de Rubem Alves, pessoa que estimo muitíssimo não apenas pelas idéias que povoam sua cabeça e que ele, gentilmente divide com todos nós através de seus artigos, mas pelo seu humanitarismo, simplicidade nas respostas, busca autêntica por uma educação renovada e inteligente, na qual professores sejam educadores e estudantes sejam reais aprendizes, com sede de conhecimento.
O livro em questão, cujo título é “A escola com que sempre sonhei sem imaginar que pudesse existir”, lançado pela Editora Papirus, um campeão de vendas entre os educadores brasileiros, fala sobre a visita de Rubem Alves a Escola da Ponte, em Portugal. Como ainda não tive o prazer de visitar a célebre escola portuguesa, adianto já, de antemão, que não é sobre ela que estarei falando nas próximas linhas.
Esclareço também que, a alteração no título do presente texto se faz necessária pelo fato de que a escola abordada nesse texto encontra-se em território nacional. E, para minha felicidade, muito próxima do Planeta Educação, dentro dos limites do município onde trabalhamos, a próspera cidade de São José dos Campos. A escola com que sempre sonhei e que não imaginei existir tão próxima é o Colégio Engenheiro Juarez Wanderley, mantido pela Fundação Embraer.
Algumas pessoas podem dizer que é fácil afirmar isso tendo em vista os expressivos resultados do ENEM 2007, que colocaram o Colégio na lista dos melhores do estado de São Paulo. Todos querem ficar ao lado dos vencedores e, num país onde os rankings são tão importantes para que as pessoas firmem suas opiniões e valores, nada mais natural.
Um
dos laboratórios de ciências do Colégio
Juarez Wanderley
Mas não é isso que nos mobiliza a escrever essas linhas. A princípio admito que nossa curiosidade em relação a escola foi motivada pelo ótimo desempenho de seus alunos nas últimas edições do ENEM. No entanto, o real ensejo para o artigo vem da visita que fizemos a escola e de tudo aquilo que vimos e ouvimos ao longo do tempo que passamos lá e que certamente nos fará visitá-los novamente.
Vamos então por partes, lembrando aspectos importantes de nossas andanças pelo Colégio para que possamos esclarecer o título do presente artigo. Inicialmente destaco a questão do investimento privado do Instituto Embraer em educação. A disposição dessa e de outras empresas (ainda que poucas) de investir em uma educação de qualidade é quesito básico para que possamos realmente atingir a excelência no trabalho escolar.
“Educação é infra-estrutura”, como li em recente entrevista do escritor e pesquisador Alvin Toffler e, nesse sentido, a parceria proporciona reais condições para que a educação aconteça e seja de qualidade. A afirmação do célebre futurólogo americano, autor dos clássicos e cultuados livros “A terceira onda” e “O choque do futuro”, feita em entrevista a revista Época, destaca a idéia de que os investimentos em comunicações, estradas, portos, aeroportos ou fontes de energia são importantes, mas que sem o suporte da educação, em nada resultarão...
E não se trata apenas das possibilidades advindas da maior disponibilidade de recursos para alavancar o funcionamento da escola. É claro que isso ajuda, e muito! Mas o principal é perceber que há muito mais, além disso. Existe na escola a crença de que mesmo todo o dinheiro do mundo não paga o resultado que a educação de qualidade ali proporcionada garante para os estudantes formados em seu futuro.
Instalações
para projetos de Empresa Júnior e Empreendedorismo.
E isso é bastante claro para todos. Alunos e professores, coordenadores e direção, funcionários e familiares dos estudantes. Todo mundo demonstra essa confiança e crença tanto no comprometimento com o trabalho quanto através da atitude geral, de simpatia, encantamento com o projeto, participação nas ações promovidas, busca por mais informações e por aperfeiçoamento contínuo,...
O compromisso com o futuro não se restringe a aulas de boa qualidade, respaldadas por instalações feitas na medida para que isso se efetive, contando com o apoio de um corpo docente engajado e muito bem preparado ou ainda sob a constante supervisão e orientação da direção. A utilização da pedagogia de projetos, o estímulo ao empreendedorismo, a consciente busca da sustentabilidade em trabalhos contínuos construídos pelos alunos com a orientação dos docentes e, em especial, a consciência geral de que no Ensino Médio se formam as bases definitivas da ética e da cidadania são outros fatores essenciais para que a admiração pelo projeto do Colégio Engenheiro Juarez Wanderley se consagrem entre as pessoas que conhecem a escola.
Durante nossa visita ao Colégio fomos recepcionados pela coordenação, representados por meu amigo historiador (como eu), professor Daniel Leite, responsável pela área de humanidades e, em nossa visita as instalações da escola, fomos acompanhados por um casal de alunos do 2º Ano, Henrique e Camila. Isso já nos causou uma impressão bastante positiva, pois imaginávamos que algum professor, coordenador ou relações públicas do projeto nos guiasse pelas salas, laboratórios, biblioteca,...
Diga-se de passagem, que os dois estudantes se mostraram muito bem informados sobre o projeto, a metodologia, a proposta de trabalho, as instalações, os recursos, as práticas cotidianas e, é claro, todas as atividades em desenvolvimento na escola, tanto aquelas do ano que estão cursando quanto as dos outros anos. Além disso, foram extremamente educados e solícitos, respondendo todas as perguntas que fizemos e demonstrando total paciência (e lembrem-se que estamos falando de dois adolescentes) mesmo com a visita indo bem além do tempo previsto inicialmente de 40 minutos (acabamos gastando perto de uma hora e meia).
O colégio realiza todos os anos um processo seletivo para alunos de escolas públicas (estaduais e municipais) da região (Vale do Paraíba) e admite para cada novo ciclo escolar, 200 alunos. São, portanto, 600 estudantes cursando o Ensino Médio na escola. Devido a qualidade reconhecida de seu curso a quantidade de participantes no concurso de admissão tem crescido ano a ano e, em sua última edição teve aproximadamente 5 mil inscritos.
Biblioteca
do Colégio Engenheiro Juarez Wanderley.
Os melhores alunos da região acabam sendo premiados com a possibilidade de, no Ensino Médio, estudarem numa escola de ponta sem que tenham que arcar com os custos que isso normalmente acarretaria em se tratando de uma escola particular. Apesar de existirem críticas no sentido de que o Colégio se beneficia desse processo e tem apenas os melhores estudantes da rede pública em suas turmas (o que certamente o auxiliaria nos resultados do ENEM, por exemplo), pessoalmente considero que a iniciativa oferece a quem mais se dedicou nas fases anteriores de estudo uma real chance de ter uma educação de qualidade. Além disso, penso que se cria um forte estímulo para que outras crianças e adolescentes se esforcem mais no Ensino Fundamental tendo como objetivo entrar no Colégio Engenheiro Juarez Wanderley.
Apesar do Colégio se constituir na principal ação do Instituto Embraer, o intuito dessa instituição educacional não é formar mão-de-obra especializada para a Embraer, como pensam algumas pessoas. Há um forte trabalho de apoio a escolha profissional dos estudantes (com uma equipe de psicólogos e psicopedagogos, além dos orientadores e de visitas regulares de profissionais ou estudantes universitários) e a possibilidade de que os mesmos optem, a partir do 2º semestre do 1º ano do Ensino Médio, por estudos mais focados nas três diferentes áreas de aperfeiçoamento (humanas, exatas e biológicas) e profissionalização técnica ou universitária em suas etapas posteriores de estudo.
Outro diferencial bastante positivo do Colégio é o ensino em período integral. Além das aulas regulares, há tempo suficiente para que os estudantes participem de projetos de empreendedorismo, sustentabilidade, artes, ciências,... Nos períodos de tempo adicional há sempre professores em sala de aula para dar suporte, tirar dúvidas, orientar trabalhos, ajudar com as tarefas, indicar leituras,...
O aparelhamento da instituição também é exemplar. Há biblioteca, laboratórios de informática, laboratórios de ciências (física, química, biologia), sala de artes, horta, minhocário, quadra esportiva (os alunos participam de torneios internos e externos em diferentes modalidades) e, até, uma área destinada a projetos semelhantes às empresas-júnior, comum em universidades.
Laboratório
de informática do Colégio Engenheiro Juarez
Wanderley
A participação da família é estimulada através de reuniões e de atividades diferenciadas, como o dia em que os pais vão para a escola no lugar dos filhos e assistem aulas; a responsabilidade e a autonomia dos estudantes é também outra meta constantemente perseguida, conforme nos disseram Camila e Henrique e pudemos perceber através de algumas práticas cotidianas (os alunos são, por exemplo, responsáveis pela horta, por um galinheiro e também pela produção e/ou venda de produtos como velas de incenso, ovos, húmus,... – o dinheiro arrecadado financia esses e outros projetos em andamento na escola).
A tecnologia também faz parte do cotidiano dos estudantes. Tanto como ferramenta pedagógica quanto como meio e recurso de produção de trabalhos. Os alunos são estimulados a aprender e utilizar as ferramentas e recursos das tecnologias, como a internet e os softwares aplicativos – dos básicos aos mais recentes.
Por tudo isso, entre tantos outros aspectos que nos foram apresentados em nossa visita (fui à escola em companhia de minha esposa Sheila e do gerente do Planeta Educação, Alexandre Abreu – que como eu ficaram muito felizes com o que viram e souberam), finalizo reafirmando a idéia do título e as linhas iniciais desse artigo, ou seja, destacando que o projeto do Colégio Engenheiro Juarez Wanderley constitui a escola com que sempre sonhei e que não imaginei existir tão próxima e, ainda, lembrando que tudo o que vimos é fruto de trabalho sério, dedicação, empenho, confiança e vontade de vencer – sem fórmulas mágicas...
Obs.: Além do amigo Daniel, também fiquei muito feliz em rever as colegas Denilce (professora de Geografia), Dieine (professora de Física) e Íris (psicóloga). Um grande abraço a vocês e aos seus colegas do Colégio.