Planeta Educação

Diário de Classe

João Luís de Almeida Machado é consultor em Educação e Inovação, Doutor e Mestre em Educação, historiador, pesquisador e escritor.

Elaboração de textos para a Internet
Escrevendo para o mundo

Maos-digitando-em-teclado-preto-e-branco 

Inicialmente é importante ter em mente que a Internet não é como um livro, seja ele didático ou literário. Isso não quer dizer que a rede mundial de computadores não contenha livros. Sabemos que existem portais e sites especializados que permitem aos internautas a leitura de livros na tela de seus computadores. Porém, ao afirmar que a web não deve ser encarada por quem produz textos como similar eletrônico de cadernos ou folhas de papel em branco, estamos sinalizando no sentido de alertar os produtores de textos que o formato, a linguagem, a estrutura, os componentes e até mesmo o propósito da internet são diferenciados e, como tal, merecem a devida atenção, compreensão e respeito.

Vamos então por partes para facilitar a compreensão...

Iniciemos pensando na questão do propósito de comunicação, apresentação de idéias, esclarecimento de fatos e acontecimentos, elucidação de conceitos, explanação de proposições ou simplesmente de disponibilização de mensagens através da internet. Enquanto nos livros, em jornais ou em revistas, ou seja, em material impresso, isso acontece de forma a seguir as normas cultas da linguagem, a preocupação com a lógica e a pertinência, o desenvolvimento de raciocínios pautados em argumentos fortes e a busca pela leveza e clareza por parte de quem escreve, na web, criada de forma livre, sem travas lógicas ou morais, permitindo-se a qualquer pessoa do universo a livre expressão de idéias, nem sempre é isso que vemos...

Isso quer dizer que podemos escrever de qualquer jeito que as pessoas irão ler e aceitar tudo o que digitarmos? Bom, que é possível escrever de qualquer jeito... Isso é verdade... Mas se queremos ser lidos e levados a sério, os princípios acima, que regem a produção escrita extra-internet há séculos, devem ser seguidos ao pé da letra (sem trocadilhos).

Bom, mas e as diferenças de propósito a que você se referia? No caso, a diferença mais evidente entre a internet e os outros veículos de divulgação e propagação de idéias por escrito é percebida no quesito alcance. O que isso quer dizer? Que ao escrevermos textos para materiais impressos, sejam eles quais forem, temos de antemão uma previsão do público ao qual se destinará essa produção. Por exemplo, se tivermos produzido um artigo para um jornal de grande circulação, como o Estadão ou a Folha, cujas tiragens diárias médias são de aproximadamente 300 mil exemplares, e levando-se em conta que um mesmo jornal pode e é regularmente lido por pelo menos 3 ou 4 pessoas, nosso texto poderá ser lido por cerca de um milhão de leitores (ou pelo menos passará nas mãos de um público dessa monta).

Se, por outro lado, a publicação for um livro, a sua leitura estará reduzida à quantidade de exemplares produzidos em cada tiragem e também pela aceitação do mercado e vendagem do mesmo. Nesse caso entram em questão fatores como publicidade, notoriedade do autor, pontos de venda onde podem ser encontrados exemplares do livro, custo de cada exemplar, local de exposição nas livrarias, resenhas publicadas na mídia especializada... Fatores determinantes para que um livro seja mais ou menos vendido do que outros...

No caso da internet alguns dos fatores mencionados anteriormente têm ainda relevância não sendo, porém, decisivos para a maior ou menor busca por um texto. Entre eles poderíamos mencionar a notoriedade do autor, o nome da instituição que está disponibilizando on-line esse material e a publicidade dada ao artigo por outros sites ou até mesmo por veículos impressos (jornais e revistas).

Decisivos para o maior ou menor destaque na procura através da internet são outros fatores, específicos da web. Por exemplo, o canal de acesso mais usado para se chegar a algum texto são os buscadores, como o Google, o AltaVista ou o Yahoo. É através deles que a maioria dos mortais encontra algum material na rede. Se o seu artigo estiver escondido entre as milhares de referências normalmente listadas por esses buscadores, é pouco provável que você tenha algum destaque.

E como fazer para que meu texto alcance alguma repercussão e, dessa forma venha a ter chances de aparecer entre as primeiras referências sobre o assunto nessas ferramentas de busca? É aí que entram fatores que aproximam o texto impresso daquele que é disponibilizado no universo virtual. Qualidades como lógica, pertinência, coesão, clareza, vocabulário qualificado, originalidade, criatividade, leveza e objetividade são itens básicos para quem quer ganhar o mundo através da web.

Indo além do alcance, a internet também tem como particularidade a indefinição do público que irá ler o material escrito produzido. Não dá para ter certezas quanto a quem está lendo seu texto. Podemos ter alguma idéia se nossa produção está destinada a segmentos específicos do público que navega pela web. É isso o que ocorre quando você escreve artigos sobre medicina, educação, física, história, política, religião,... Mesmo assim, as dúvidas persistirão e você poderá ser surpreendido por algum comentário indigesto ou inapropriado por parte de alguém que não entende nada daquilo que você abordou em sua produção.

A delimitação geográfica do público-alvo é outra diferença entre os textos produzidos para a internet e os materiais impressos. Quando se edita um jornal ou uma revista há uma clara definição das fronteiras por onde esses materiais circularão. E essa delimitação pode ser municipal, regional, estadual ou nacional. Eventualmente algumas cópias do jornal ou da revista acabam sendo vendidas em bancas ou livrarias em aeroportos de outros países.

Em relação aos livros aplica-se praticamente a mesma regra, apenas que com o advento do comércio eletrônico pela web tornou-se possível adquirir livros de qualquer origem ou idioma em praticamente todos os lugares do globo onde exista acesso à internet e a sites como o Amazon ou a livraria virtual Barnes e Noble.

No caso de materiais produzidos especificamente para a rede mundial de computadores e disponibilizados através de um portal, de um site ou mesmo de um blog pessoal, não há delimitação espacial e geográfica. Um artigo na internet pode ser lido na cidade em que foi escrito, do outro lado do país, em qualquer nação e continente ou mesmo em uma embarcação em alto mar ou num avião em vôo.

Nesse sentido o propósito de quem produz materiais escritos que serão disponibilizados na internet é o de burlar fronteiras, atingir públicos bastante amplos, não segmentar tanto seus textos (ainda que direcionados muitas vezes a um determinado nicho essas produções poderão e certamente serão lidas por pessoas das mais distintas formações, culturas e origens) e ainda, em especial, de se fazer ouvir por alguém, seja ele (ou ela) quem for o interlocutor...

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