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Sheila Cristina de Almeida e Silva Machado Graduada em Pedagogia; Especializada em Orientação Educacional; Pós-Graduada em Psicopedagogia; Atua como Orientadora Educacional no Colégio Poliedro de São José dos Campos – SP.

Em Busca do Respeito na Sala de Aula
Como atingir o comportamento moral e ético?

“Colocar a justiça acima da autoridade e a solidariedade acima da obediência” (Jean Piaget)

É pela educação que torna-se possível aprender a se comunicar e a desempenhar um papel responsável na sociedade.Nesse sentido, o tema respeito é central na moralidade. Cada pessoa, juntamente com sua vida intelectual, afetiva, religiosa ou fantasiosa, também tem uma vida moral.

A atividade moral acaba por envolver toda a atividade vital do homem e, dessa forma, durante seu desenvolvimento, sua vida está vinculada ao “comportar-se moralmente”. É interessante ressaltar que Libâneo (1991) nos introduz as propostas e tendências nesse campo. Segundo ele, há dois grupos distintos: os de posicionamento liberal e os de cunho progressista.

- As idéias pedagógicas tradicionais são evidenciadas por Comenius, Rosseau, kant, Pestalozzi e Durkheim, autores clássicos e que consideram de forma consistente a moral em suas teorias.

- As idéias pedagógicas renovadas são enfatizadas nos trabalhos de Dewey e Piaget, com o desenvolvimento do juízo moral na criança; e o tecnicismo educacional tendo como principal referência o trabalho de Skinner.

- As idéias de renovação educacional por iniciativa de militantes socialistas, estão enquadradas no segundo grupo, e tem como principal representante a produção de Makarenko.

O que podemos perceber atualmente, inclusive com a orientação dos órgãos oficiais de educação, é que há um reconhecimento da importância da participação construtiva do aluno e, ao mesmo tempo, da intervenção do professor para a aprendizagem, favorecendo o desenvolvimento das capacidades cognitivas, físicas, afetivas, motoras e éticas, fundamentais para o exercício da cidadania e para a participação.

Apesar de Aristóteles e Kant, mais tarde terem incluído o respeito no âmbito das emoções, excluindo-o das virtudes, o filósofo Demócrito foi o primeiro a atribuir uma significação moral e inserir este conceito na ética.

É importante que a criança sinta a conseqüência de uma atitude errada eticamente. Contudo, a disciplina e o sentimento da responsabilidade podem se desenvolver sem nenhuma punição expiatória, em um clima de reciprocidade, dentro da moral de cooperação, para que a diferenciação social e o individualismo resultem na solidariedade. Para Piaget (1996), “o respeito constitui o sentimento fundamental que possibilita a aquisição de noções morais”.

O aprendizado da cooperação é elemento fundamental do desenvolvimento moral. Para a cooperação acontecer, efetivamente, é necessário que os sujeitos envolvidos aprendam a fazer contratos, a comprometer-se com o grupo, a relacionar-se de forma recíproca e, sobretudo, a exercitar sua expressão verbal, bem como o saber escutar. Em outras palavras, a exercitar o diálogo.

O diálogo é a própria expressão da humanidade, da comunicação entre os seres humanos e possibilita o desenvolvimento do respeito mútuo.  A linguagem é um fato social por meio do qual as pessoas organizam seus pensamentos e expressam suas opiniões.

Na ação dialógica, o sujeito entenderá a importância de suas atitudes e como elas envolvem respeito, dedicação, busca, engajamento, pesquisas, trocas, participação e descoberta. O homem entende que neste processo de comunicação irá aprender a fazer leituras diversas da realidade em que vive e atua, conquistando a partir daí, sua autonomia moral e intelectual.

Cooperação e diálogo, por fim, parecem sempre caminhar juntos e são exigências fundamentais de todo o ensino. O ato de ensinar para a autonomia supõe a reciprocidade, condição básica da cooperação, e atesta o processo de comunicação.

Consideramos a relação professor-aluno como o ponto mais delicado do processo de aprendizagem, pois estão implicadas aí não só questões racionais, como também afetivas. Verifica-se que a maneira como o professor conduz sua aula, como lida com a motivação dos seus alunos e como se compromete com o projeto pedagógico são fundamentais para organizar a vida escolar do aluno.

Segundo Piaget, “a adolescência marca nas nossas sociedades o começo da liberdade de pensar; pelo menos uma emancipação em relação à infância, e isso tanto do ponto de vista sociológico como psicológico”.

Sob a perspectiva piagetiana, o professor que na sala de aula dialoga com seu aluno busca decisões conjuntas por meio de cooperação, para que haja o aprendizado do fazer contratos, honrar a palavra empenhada, ocasionando comprometimento nos projetos coletivos e estabelecimento de relações de reciprocidade.
Ainda em Piaget, podemos considerar a natureza afetiva e moral das sanções, em que é necessário instalar-se no infrator, um sentimento de vergonha pelo delito, fazendo-o perceber que seu ato lhe fez perder o valor, inviabilizando a confiança mútua.

Temos que observar se a figura do professor tem importância afetiva para os alunos, a ponto de eles se sentirem mal e envergonhados por perderem o merecimento de seus professores. Quando o professor é justo, compromissado e que respeita os alunos há um melhor aproveitamento dos anos escolares.

A relação verdadeira entre professores e alunos, que não seja somente para a informação, mas para promover também debates sobre questões morais, levando ao exercício da cidadania e construção da autonomia, ajudaria o desenvolvimento dos jovens, bem como os faria mais motivados.

Só se estabelece um encontro significativo quando o mestre incorpora o real sentido de sua função, que é orientar e ensinar o caminho para o conhecimento, amparado pela relação de cooperação e respeito mútuos.

Referência:  TARDELI, Denise D´Áurea. O respeito na sala de aula. Rio de Janeiro: Vozes, 2003.

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