Planeta Educação

A Semana - Opiniões

João Luís de Almeida Machado é consultor em Educação e Inovação, Doutor e Mestre em Educação, historiador, pesquisador e escritor.

Tecnologias na Educação dependem de Inteligência Pedagógica
Professores são essenciais para projetos eficientes com tecnologia

Criança-e-tecnologia

  • No auditório do Colégio Dante Alighieri, uma das escolas particulares mais tradicionais de São Paulo, próximo à Avenida Paulista, cerca de 60 alunos do 6º ano aguardam ansiosamente que a ligação pelo Skype seja atendida.Cercados por câmeras de vídeo, eles se reconhecem no telão. Assim que a ligação é atendida e os personagens do outro lado aparecem, a criançada vai ao delírio, levanta os braços e se agita ao som de gritos disciplinados. Por meio de webconferência, os alunos conversaram ao vivo com cientistas brasileiros da Estação Comandante Ferraz, na Antártida. A média de idade dos alunos era de dez anos. Ao perguntarmos quem já conhecia a ferramenta usada naquele dia – o Skype, que faz ligações pela internet gratuitas ou bem mais baratas do que uma chamada telefônica normal – a grande maioria levantou as mãos. O Dante é um colégio de classe média alta e seus alunos costumam ter acesso a computador e à banda larga em casa. O assunto abordado durante a webconferência já havia sido dado em sala de aula, e os pequenos tinham preparado perguntas para os cientistas. “Essa é uma aula que gera conhecimento ímpar”, diz a coordenadora do departamento de tecnologia educacional, Valdenice Cerqueira. “Já usamos o Skype como ferramenta de comunicação interna, entre os professores, mas é a primeira vez que a aplicamos de forma educacional”. Sucesso com a experiência? “Foi maravilhosa”, diz. (Fonte: Estadão)

Tecnologia na sala de aula... Como usar? Essa é a grande questão de dez entre dez educadores. E faz sentido, já que na maioria esmagadora dos casos, o educador é colocado em contato com computadores e internet sem que a ele sejam dados elementos para compreender e utilizar de forma adequada essas ferramentas em sala de aula. E isso faz uma enorme diferença entre o uso adequado e inadequado desses elementos na educação.

Por exemplo, trabalhei em uma instituição de ensino superior que têm ótimos laboratórios de informática, ligados a internet por banda larga e que disponibiliza equipamentos multimídia em sala de aula para todos os professores. Entre os educadores prevalece o uso de apresentações em Powerpoint, sem o uso das possibilidades de interação da rede mundial de computadores (como o acesso a mapas, a conexão por Skype ou MSN com outros especialistas, a disponibilização de vídeos ou áudios para as classes...).

Entre os alunos, nos laboratórios de ponta, os acessos principais são ao Orkut, a sites de esporte ou humor e ainda o uso do MSN para conversas fúteis. De trabalho prático educacional apenas pesquisas que resultam no velho expediente do copiar e colar, sem reflexão, aprofundamento, engajamento por parte dos estudantes...

Atividades diferenciadas surgem, felizmente, todos os dias. A criatividade dos professores e o interesse marcante dos alunos pela tecnologia estão compelindo as escolas a caminhar, sem volta para a adoção em larga escala, das tecnologias de informação e comunicação em sala de aula. O exemplo do Dante Alighieri apresentado no início desse editorial é importante para mostrar que é possível integrar os computadores e a internet ao cotidiano educacional com inteligência pedagógica.

Nesse sentido, é de primordial importância que prossigam os investimentos feitos pelas redes públicas no tocante a ampliação dos laboratórios de informática e acesso a internet de banda larga. Só isso, como já destacamos, não basta. Preparar os professores, dando aos mesmos acesso a cursos em que não se ensine apenas o uso elementar das ferramentas da tecnologia é também essencial.

O educador deve ser orientado não somente quanto às possibilidades técnicas de softwares aplicativos ou portais educacionais, mas tem que, principalmente receber formação para que esses materiais se tornem meios efetivos de apresentação de idéias, interação com os estudantes, aprofundamento de conceitos, proposição de atividades, reflexão sobre conteúdos discutidos em aulas...

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Mas não só de cursos de atualização carece o professor. Ele também necessita de algum tempo disponível nos laboratórios das escolas para que possa, por conta própria, navegar na internet, experimentar os softwares educacionais que foram indicados para o uso em sala de aula, projetar aulas com o apoio desses recursos, trocar experiências com outros professores, criar projetos em conjunto com profissionais de outras escolas (em diferentes bairros, cidades, países)...

O professor, como elemento principal na utilização pedagógica das tecnologias de informação e comunicação tem, portanto, que ser estimulado ao uso desses recursos em sala de aula não apenas com cursos, mas também com tempo e experimentação, estudo e manuseio, prática e intercâmbio. O apoio da direção e da coordenação pedagógica é, nesse sentido, imprescindível. Assim como, é de fundamental importância que também esses profissionais conheçam e utilizem essas ferramentas para que possam orientar, supervisionar e até mesmo cobrar o uso de computadores e internet nos planejamentos e no cotidiano de suas escolas.

E os planos e ações de trabalho em sala de aula, orientados a partir da inteligência pedagógica dos docentes, necessita ainda de auxílio e troca constante entre os docentes. A orientação de trabalho deve ser feita na busca de projetos que sejam interdisciplinares e que, ao mesmo tempo, desafiem o estudante, propondo leituras, trabalhos em grupo, pesquisas de campo, busca de informações na web, produção de textos, confecção de materiais diferenciados e até mesmo avaliações baseadas em todo o percurso e conteúdo trabalhado.

O professor deixaria de ser o centro das atividades e as tecnologias não seriam vistas como nova base e gênese dos conhecimentos. A ação coordenada, planejada e conjunta de atividades pedagógicas, utilizando as tecnologias como meios adicionais (juntamente com os livros, as aulas expositivas, tarefas, pesquisas, avaliações...), em projetos interdisciplinares, contando com a energia e o apoio dos estudantes (que invariavelmente se mostram apaixonados pelos novos recursos como os computadores e a web) traria, então, espaço para que essa forma diferenciada de trabalho ganhasse mais espaço e se disseminasse.

O que se espera é que casos como o do Dante Alighieri, apresentados no início desse texto, e outras histórias de sucesso iluminem os caminhos e orientem um futuro mais e mais promissor para a educação do Brasil. Para que isso aconteça, precisamos atuar como equipes mais coesas, utilizar as tecnologias da informação e comunicação como recursos adicionais de valor, orientar todos os processos a partir de planejamentos consistentes, contar com o apoio das equipes gestoras, estudar os recursos antes de utilizá-los, atuar dentro de parâmetros interdisciplinares e, principalmente, guiar nossas ações a partir de nossas inteligências pedagógicas...

Obs.: Inteligência pedagógica pode ser definida como o conhecimento técnico e específico dos profissionais que atuam na linha de frente dos processos de ensino-aprendizagem. Essa qualificação é proveniente dos estudos, da prática profissional e também derivativa da experiência de vida e dos intercâmbios entre especialistas em pedagogia em seu contexto particular de atuação, ou seja, no âmbito escolar. Quanto aos saberes que compõem a inteligência pedagógica poderíamos mencionar, em especial, quatro áreas de conhecimento específico: a inteligência interpessoal, a inteligência lingüística, a intrapessoal e também, de forma mais específica, a capacidade de compreensão específica de conteúdos das áreas com as quais trabalha em sala de aula (inteligência lógico-matemática; inteligência naturalista; inteligência físico-cinestésica).

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