Ensino de Línguas
Slang
Por que ensinar gírias nas aulas de inglês?
Segundo o Dicionário da Língua Portuguesa Contemporânea (2001), língua é um "sistema de signos vocais, que podem ser transcritos graficamente, comuns a um povo, a uma nação, a uma cultura constituindo o seu instrumento de comunicação".
Se considerarmos esta definição de língua, podemos dizer que as gírias e as expressões idiomáticas fazem parte deste sistema de comunicação lingüístico e estão presentes na língua de quaisquer povos, independentemente de sua posição social.
Para o Cambridge Advanced Learner`s Dictionary, slang (gíria) é “uma linguagem muito informal que é geralmente falada e não escrita, utilizada especialmente por certos grupos de pessoas”.
Já The Free Dictionary define slang (gíria) como “um tipo de linguagem que ocorre principalmente em discursos casuais, construídos tipicamente por recentes neologismos e figuras de linguagem que são deliberadamente utilizadas na substituição de termos padrões para adicionar interesse, atração, humor, irreverência ou outros efeitos”.
David Burke (1998) propõe a seguinte definição para slang (gíria): “vocabulário não-padrão de certa cultura ou sub-cultura. Em outras palavras, slang é tipicamente uma palavra não-padrão, não uma frase como em um idiom (expressão idiomática)... Slang pode ou não ter significado literal alternativo. São palavras inventadas”.
O site English Experts traz a origem da palavra slang como a junção das palavras Secret + LANGuage = SLANG. De acordo com o site, as gírias (slang) foram inicialmente utilizadas pelos comerciantes de Londres para conversar sem que fossem entendidos e atualmente fazem parte de conversas informais ao redor do mundo.
A partir das definições e explicações explicitadas anteriormente, não há como negar que as gírias surgiram a partir da necessidade de um determinado grupo em se comunicar.
É fato também que elas variam de acordo com os grupos sociais e no decorrer dos anos, pois a língua é viva. Com essa afirmação considero que devido à utilização da língua pelos falantes de um determinado povo, a mesma sempre estará em processo de mutação.
Porque ensinar?
Após pesquisar sobre o assunto, pude perceber que existe muito preconceito em relação ao ensino de gírias nas aulas de inglês, principalmente por parte dos professores que acreditam que a língua é pura e imutável.
Infelizmente estes professores transferem para a sala de aula, conceitos sobre o ensino de línguas estrangeiras que acreditam ser únicos e verdadeiros, mas que muitas vezes não são utilizados em seu dia-a-dia, em sua língua materna.
Um exemplo é o ensino de gírias em outros idiomas. Um professor de língua estrangeira, que é contra o ensino de gírias em suas aulas, certamente deve utilizar – muitas vezes sem perceber – uma gíria ou uma expressão idiomática – em seu cotidiano, com sua família ou grupo de amigos, em situações informais...
Então, como este professor pode ser contra o ensino de “palavras não-padrões” nas aulas de língua estrangeira, uma vez que estas fazem parte do sistema de comunicação lingüístico, da cultura do povo nativo que as utiliza em seu dia-a-dia? Não seria um tipo de injustiça com os alunos que querem aprender a falar, a se comunicar diretamente e claramente com pessoas nativas que falam o outro idioma?
Esta é uma das razões pelas quais alunos que
estudaram uma língua estrangeira e depois tiveram a
oportunidade de viajar para o país referente à
mesma, concluem que não aprenderam de forma concreta a
utilização oral do idioma.
Fica uma lacuna muito grande entre o que é ensinado nas
aulas de língua estrangeira do que é realmente
utilizado no país de língua nativa.
Eu não quero dizer que com estas colocações a respeito do ensino de gírias nas aulas de inglês que as regras gramaticais e ortográficas devem ser abolidas. Simplesmente acredito que o que é ensinado em sala de aula, deve estar também de acordo com a linguagem que é efetivamente utilizada nos países que possuem este idioma como oficial.
Como ensinar?
Tudo o que é ensinado em sala de aula deveria partir do interesse ou da curiosidade do grupo de alunos, a fim de tornar a aprendizagem do idioma mais significativo.
David Burke (1998) apresenta uma proposta de atividade que leva em consideração o fato dos alunos preferirem ter menos gírias e expressões idiomáticas em cada texto e mais atividades dentro de sala de aula – porque muitos professores dão atividade de vocabulário (entre eles as gírias e as expressões idiomáticas) para casa.
Veja a seguir os passos para uma atividade interessante, baseada na proposta elaborada por David Burke:
1) É interessante que os alunos trabalhem em duplas ou grupos de 4 componentes, dependendo do número total de alunos presentes na sala;
2) Entregue para cada grupo um diálogo natural que contenha não mais que 12 gírias ou expressões idiomáticas.
Um número maior de palavras não-padrões, poderá tornar o texto desinteressante para os alunos. Selecione o texto antes de trazê-lo para a aula e conheça bem cada palavra. Pesquise, busque, pergunte cada dúvida, antes de mostrar aos alunos.
3) Baseado no contexto de cada frase, peça para os alunos tentarem adivinhar o significado de cada gíria ou expressão idiomática. Faça interferências, sugestione, ajude quando necessário, para não frustrar as tentativas dos alunos.
4) Incentive o uso do dicionário para maiores dúvidas, a fim de entender o contexto do diálogo. Lembre aos alunos que os significados das gírias e expressões podem variar muito daqueles encontrados no dicionário.
5) Faça a correção oral (ou na lousa, retro-projetor, apresentação em power point, etc.) a fim de garantir que todos os grupos conseguiram compreender as palavras novas, gírias, expressões e o contexto.
6) Para finalizar, peça para que eles utilizem o novo vocabulário em diferentes situações ou que façam outro diálogo baseado neste.
É interessante que eles façam esta atividade de forma escrita, caso o professor tenha essa finalidade, mas principalmente que eles apresentem o resultado final de maneira oral para toda a sala, a fim de trabalhar a oralidade e a pronúncia.
Referências:
- BURKE, David. Without Slang and Idioms, Students are in the Dark!
Revista ESL – Setembro/ Outubro de 1998.
- Dicionário da Língua Portuguesa
Contemporânea - Lisboa, 2001.
- http://dictionary.cambridge.org
- http://www.thefreedictionary.com
- http://www.teflcorp.com
- http://www.englishexperts.com.br