A Semana - Opiniões
Educação não é prioridade...
Estamos muito distantes da qualidade em nossas escolas...
Queria escrever outro artigo... Tirar o não do título desse texto... Conseguir dizer com todas as letras que no Brasil a educação é prioridade para todos... Mas infelizmente, as afirmações quanto à importância e a relevância da educação em nosso país constituem, na maioria dos casos, apenas discurso, palavras soltas jogadas ao vento sem que as pessoas que as proferem tenham realmente assumido o compromisso verdadeiro de fazer a sua afirmação se tornar realidade.
O descompromisso não é, felizmente, de todos. Há pessoas (em bom número) que realmente devotam o seu trabalho para a construção de uma educação de qualidade. São professores, diretores, orientadores, coordenadores, funcionários do setor administrativo, estudantes, membros da comunidade, jornalistas e até alguns políticos (como é o caso notório do senador Christovam Buarque) que não apenas falam bonito, afirmando o que todos querem ouvir quanto aos rumos e projetos para a educação.
As pessoas engajadas lutam contra inúmeras adversidades: o cansaço, os problemas do cotidiano, a descrença generalizada, a falta de estrutura, o desvio de verbas, o educador que se vitimiza e não percebe o seu papel decisivo no processo de ensino-aprendizagem, a incompreensão do valor real da educação para o futuro de nossas crianças e do próprio país,...
Esses batalhadores não apenas sonham com qualidade no trabalho educacional, correm atrás do prejuízo, dentro de suas próprias unidades escolares, fora delas auxiliando projetos alheios, socializando suas práticas e conhecimentos, estudando para conhecer mais e aperfeiçoar suas aulas, lendo o mundo com a constância e a inteligência necessária para perceber suas mudanças, buscando a estruturação de aulas que sejam mais estimulantes e atraentes aos olhos dos estudantes,...
E é possível atingir o sonho da educação de qualidade? Claro que é! Há exemplos brotando em unidades escolares de todo país que comprovam essa possibilidade. Li artigo publicado pela Revista Veja dessa semana (edição de 12 de março de 2008) em que é apresentado projeto educacional em desenvolvimento no estado de Pernambuco em algumas escolas de ensino médio.
De acordo com a reportagem, essas escolas há três anos tinham rendimento equivalente ao de todo o estado e região nordeste, ou seja, nas avaliações oficiais aplicadas pelo MEC a média dos estudantes que ali freqüentavam aulas era equivalente a zero em matemática e 1 ou 2 em português...
Passados apenas três anos de um choque de gestão, com a incorporação de práticas de gerenciamento dessas 33 escolas nos moldes da iniciativa privada (equivalentes as que são utilizadas por empresas do setor comercial, industrial ou agro-pecuário), a nota dos alunos dessas unidades educacionais estaduais subiu para 6 (seis) tanto em matemática quanto em geografia... Mais do que isso, eles estão se sentindo muito mais estimulados para estudar e tentar até mesmo ingressar em universidades...
O que foi feito? Basicamente passou-se a cobrar dos profissionais que trabalham nessas escolas que os resultados fossem melhorados, exatamente como acontece em empresas privadas. Os professores começaram a ser avaliados quanto ao seu trabalho por alunos, pais, diretor da unidade e também a partir das metas propostas e alcançadas (ou não).
A essas escolas foram direcionados educadores selecionados pelo engajamento, disposição, estudo, resultados apresentados em outras escolas, ou seja, pelos méritos ao longo da carreira. Esses professores são aqueles que não ficam apenas reclamando dos salários, das condições inadequadas de trabalho, da falta de recursos ou ainda que ficam tricotando, vendendo produtos de beleza, falando mal dos alunos, colocando a culpa nas famílias (ou nos políticos, na direção da escola,...) em horários de planejamento ou nos intervalos das aulas.
São educadores que se dispõe a participar de cursos de atualização, escutar outros profissionais, anotar as dicas e sugestões, acompanhar pela internet ou por jornais e revistas as novidades de sua área de atuação, planejar coletivamente, modificar práticas que não deram certo, utilizar as novas tecnologias (quando disponíveis) sem abandonar recursos tradicionais que geram bons resultados,...
Mas, como disse no início desse texto, esses constituem um grupo de abnegados guerreiros em busca do cálice sagrado da educação de qualidade... Para um enorme contingente de pessoas a educação é, infelizmente, prioridade apenas da boca para fora...
Políticos sobem em palanques (e fiquem muito atentos, pois estamos em ano de eleições municipais) e falam em educação como se fossem realizar e concretizar em seus mandatos ou através das leis que pretendem criar a melhor escola do mundo em suas cidades ou estados...
Pais dizem saber do valor e relevância da educação, porém não se preocupam em acompanhar a vida escolar de seus filhos – verificando tarefas, indo a reuniões, conhecendo os professores, cobrando mudanças quando necessário, orientando e disciplinando seus rebentos – deixando-os a própria sorte, como se tivessem maturidade para resolver por conta própria suas obrigações...
Diretores, coordenadores e orientadores ficam presos ao cotidiano e a burocracia de tal forma que não conseguem nem mesmo perceber, compreender, enxergar ou ainda providenciar mudanças quando necessário em suas próprias unidades escolares...
Professores por sua vez, preocupados demais com o que lhes falta (materiais, salários mais elevados, benefícios), se imaginando já totalmente preparados para dar aulas (repetindo conceitos por anos a fio, sem criatividade ou disposição de mudar) e se recusando a aprender novas metodologias (práticas, conceitos, teorias, uso de tecnologias e recursos), ou ainda transferindo a responsabilidade para outros pelos problemas que ocorrem em sua circunscrição (tempo e espaço de trabalho) demonstram também não considerar a educação como uma prioridade para o desenvolvimento do país.
Estamos à deriva...
Pais atentos e participativos na vida escolar de seus filhos podem melhorar e muito os resultados pífios obtidos por suas crianças. É inadmissível que os alunos cheguem a 3ª ou a 4ª série sem saber ler ou escrever com um mínimo de exatidão e qualidade... Os pais têm que monitorar, cobrar, exigir que as escolas dêem aos seus filhos aulas de bom nível.
Políticos que não cumprem com o que prometem não podem ser reeleitos. Chega de discurso. Avaliem o currículo dos candidatos e vejam se realmente há vínculo dos mesmos com a melhoria da qualidade da educação no país. Se já foram eleitos questionem e verifiquem o que já fizeram pelas escolas de sua cidade. Se ainda não foram, vejam se têm como praxe trabalhar em prol da comunidade ou se esse compromisso com a população é apenas eleitoreiro.
Professores que não estudam e deixam de se atualizar não podem dar aulas de qualidade. Cobrar salários mais altos sem prover os alunos e a comunidade com boas aulas é inaceitável – penso que ao realizarmos bons projetos e um trabalho consistente poderemos reclamar tais benesses com propriedade e direito de causa (os professores que foram encaminhados para as 33 escolas estaduais de Pernambuco mencionadas nesse texto tiveram aumento de salário e têm direito a bônus em seus pagamentos pelas metas atingidas).
Precisamos de ação. De gente realmente engajada. De menos discurso e mais ação. Educação deve ser prioridade no discurso e nas práticas de todos. Por cada criança desse país. Pelo futuro dessa nação...